Vínculos por conveniência

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    ᪶◗ Capítulo Três: Vínculos por conveniência.

Os grãos de asfalto arranhavam meu rosto enquanto ele pressionava minha cabeça com firmeza, limitando minha visão e me impedindo de ver seu rosto. Só pude deduzir que se tratava de um homem pelo tom de voz e pela força com que me segurava. A música do meu walkman continuava a soar nos fones de ouvido, e tardeamente notei que Minho estava certo.

— O que você pensa que está fazendo roubando as coisas dos outros?

— Eu não sabia que tinha dono. — Minhas palavras saíram entredentes, a raiva fervendo dentro de mim diante da acusação idiota.

— Então achou que se tratava de um lindo pote de ouro? — Zombou de mim enquanto balançava minha cabeça como se eu fosse um mero brinquedo.

— O duende não foi lá muito receptivo. — Não pude evitar o sarcasmo, mas aquilo só aumentou a sua fúria, fazendo-o me pressionar mais firmemente no chão.

A sensação de sufocamento e ansiedade se intensificou. O ar escasso só alimentava meu desespero, enquanto eu tentava controlar o medo que me consumia.

Então, uma segunda voz irrompeu no cenário.

— Não achei nenhuma bombinha, mas se prepara para a novidade do dia: temos mais feijão enlatado! — Soava atrás de mim, junto ao abrir e fechar de uma porta. Ele pareceu me notar instantes depois. — Ué, o que aconteceu aqui?

— Encontrei esse ratinho mexendo nas nossas coisas. — Ele fizera questão de falar com repulsa, como se meu ato fosse de um verdadeiro rato de esgoto. A raiva borbulhava dentro de mim, odiava quando me tratavam com tanto desprazer.

Escuto o caminhar do segundo homem e logo consigo vê-lo à minha frente. Seus braços eram grandes, um corpo largo e forte. Cruzando o peitoral tinha o suporte de um rifle e uma sacola nas mãos, cheia de feijão enlatado. Ele se aproxima, pegando a sacola que eu havia pego e a abrindo.

— São somente itens de primeiros socorros. — Constatou e me olhou com pesar. Seus olhos eram pequenos e o rosto redondo apesar de magro, tinha simpatia em suas feições. — Alguém está precisando de ajuda?

— Sim. — Respondi rapidamente, parecendo ser o suficiente para tocar seu coração.

— Largue ele, Hyunjin. Não está vendo que está machucando? — Empurrou o outro, que ainda mantinha as botas sujas na minha cara e as retirou a contragosto.

— Ele estava nos roubando! — Tentou contestar, enquanto o homem amigável me ajudava a levantar.

Apesar de forte, ele era pequeno para os padrões, não passava de 1,70. O que não era muito vantajoso para mim, já que eu sou tão pequeno quanto. O homem que descobri se chamar Hyunjin já era bem maior que nós, porém era muito mais magro e não possuía qualquer músculo. Suas feições eram marcantes e alguns diriam que até bonita, o que contrastava com a sua personalidade podre e irritante. Os cabelos eram longos e pretos, atingiando os ombros.

— Eu não estava roubando ninguém. Eu preciso disso para ajudar uma pessoa. — Limpei a área do meu rosto que estava no chão, alguns arranhões pequenos sangravam e eu amaldiçoei aquele idiota internamente.

— Podemos ajudá-lo se precisar. — O rapaz amigável levou as mãos até meus ombros.

— Changbin! — Hyunjin protestou, mas parou para respirar e se acalmar — Olha, não conhecemos esse cara. Não podemos ajudar qualquer um que encontramos na rua.

— Veja o quanto resta de nós! O mundo está perdido justamente por não ajudarmos uns aos outros. Se eu e Bang Chan não tivessemos parado para te ajudar na casa da árvore, como você estaria hoje?

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