(Não) faça essa hora extra!

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Rachel:

Finalmente, são 6:50 da tarde e meu expediente acabou. Eu organizo os últimos papéis que revisei passando os dados para o computador. Meus olhos já começam a pesar, afinal, fiquei literalmente o dia inteiro lendo e enviando arquivos e e-mails, então a última coisa que eu quero ver é uma tela! Agora eu só preciso entregar a papelada para o meu chefe. Armazeno os papéis em uma pasta, já grampeados para que ele possa assinar, e arrumo a minha mesa de trabalho para ir ao seu escritório. Me dirijo aos corredores iluminados pela fraca luz amarelada de lâmpadas, algumas já sinalizando necessidade de troca, piscando de forma que projetam sombras estranhamente macabras no chão.

Suspiro antes de começar a caminhar, meus passos são mansos e cautelosos, o som agonizante emitido pelos meus saltos altos rasga meus ouvidos já cansados de atender telefonemas.

Paro diante da porta de madeira envernizada, está aberta, quase escancarada. A sala está escura, nem mesmo a luz  vinda da cidade, entra pelas janelas. Começo a me perguntar se não teria abandonado o expediente, mas não, se tivesse o feito a porta estaria trancada, e ele é quem tranca as portas do andar. Suspiro apertando a pasta vermelha onde armazeno os documentos.

- Senhor? - Dou um passo hesitante à frente empurrando a porta com mãos trêmulas.

- Eu já disse! Trabalho com funcionários todos os dias preciso dos remédios! - ele berra arfante ao telefone.

 ''Remédios?''  Há algo errado, com certeza há algo muito errado acontecendo aqui.

- Henry, acalme-se, você precisa se controlar. - Uma voz estranhamente mansa e calma diz do outro lado da linha telefônica. O que apenas me deixa mais curiosa e hesitada do que antes. Ando um passo à frente, meus pés movidos pela curiosidade.

 Adentro a sala permitindo que mais luz entre pela porta, minha visão pega uma silhueta alta e masculina se destacando dentre o vazio e escuro da sala. Então me arrependo completamente de ter entrado nesse lugar. Meus olhos basicamente saltam para fora e minhas mãos trêmulas soltam os papéis ao vê-lo iluminado pela luz. Tem marcas de mordidas por todo o braço esquerdo, os ferimentos causados pelos caninos são mais fundos e estão empoçados de sangue. Há um rastro de sangue fresco escorrendo de sua boca até o queixo e seus dentes e língua estão manchados. As presas estão mais alongadas e pontudas; os olhos gélidos e as íris coloridas de um vermelho vinho; as pupilas dilatadas e desespero e raiva dominam sua feição, as sobrancelhas juntas, como se ele lidasse com um conflito interno intenso. As veias dos braços e lateral da cabeça pulsam mascando a pele pálida, quase tão branca quanto leite e suada.

- o quê...? o quê está...?

Minha capacidade verbal se vai pelos ares. Henry solta o telefone que se pendura no fio, balançando de um lado para o outro. Seus olhos se arregalam quase tanto quanto os meus e ele vira lentamente a cabeça, seus olhos fuzilam os meus como se lessem a minha alma.

- R-Rachel, não é o que... não é o que parece!

Se não é o que parece eu não tenho ideia do que é, meu chefe é um vampiro, um assassino.

Minha cabeça começa a girar e tudo parece confuso e distorcido, me manter de pé é impossível e correr é inútil. Minha visão se torna embaçada, tudo o que vejo são borrões bruscos e meu coração bombeia sangue no ritmo de um trem. Minhas pálpebras antes já pesadas agora pesam toneladas e meus pulmões buscam por ar desesperadamente. Sinto minha consciência indo embora e meus pés parecem não suportar o peso do meu corpo me fazendo cair para frente.

-  Rachel! - grita enquanto se apressa em impedir a minha queda. Meus músculos perdem a força e eu caio como se fosse uma boneca de pano nos braços dele. - Tudo bem... ok, vai ficar tudo bem!

Your Bloodحيث تعيش القصص. اكتشف الآن