Alguém que deve conhecer.

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- Quem é o teimoso?

Quando volto o olhar para a voz meus olhos encontram a silhueta da última pessoa que quero ver no momento. Um sorriso claramente forçado se esboça em seu rosto, revelando fundas covinhas nos cantos dos lábios e sua expressão é de falsa serenidade. Henry está jogado na parede que dá acesso à cozinha e suas mãos estão enfiadas nos bolsos. Eu me encolho andando para trás até sentir minhas costas tocarem a parede. Analiso as reações de todos: Cora, Samantha e Henry.

 Cora caminha até a geladeira, revira os olhos assim que o vê pintando um sorriso de canto na boca e começa a falar:

- você é o teimoso! Quantas vezes temos que dizer?, um dia Blake vai enfiar essas seringas goela à baixo!

Ele alarga um sorriso fraternal, ainda assim forçado, e solta um risinho quase inexistente de tão baixo.

- Eu sei muito bem que preciso comer antes de tomar as injeções, Cora, bom dia a propósito! - Responde como se eu não estivesse aqui, tudo rotineiro. É como assistir um filme em câmera lenta. A ruiva, ainda procurando algo na geladeira, sorri em desafio, mais se divertindo com a situação do que realmente preocupada ou zangada.

- E essas roupas... - Ela o analisa de cima à baixo com uma careta de falsa incredulidade. - não é porque vai trabalhar em casa que pode ficar vestido como um indigente. - Cora responde sarcástica. - Você vai ter visita também. - Pondera enfiando o rosto entre as portas da geladeira.

Henry volta o olhar para baixo com um meio sorriso.

- E você sabe muito bem que Blake não liga para nada disso. - Responde. Franzo o cenho.

- Do mesmo jeito. Agora trate de comer e tomar os remédios, porque se você cair duro de novo eu não vou te salvar outra vez!

"Outra vez"?

Eu me sinto um completo peixe fora d'água , e, o que antes soava como coragem agora soa como estupidez. Por que diabos eu não fiquei no quarto, por que não deixei a papelada na mesa e deixei o trabalho para o dia seguinte?! Agora cá estou eu:  ouvindo o cara que vi sugando o próprio sangue como um animal na noite passada conversando com uma mulher que nunca vi na vida como se tudo o que aconteceu fosse um pesadelo, apenas isso, puro fruto de imaginação. Mas não foi, e eu adoraria que fosse.

 Ouço Samantha sussurrar e a vejo me encarar com um sorriso se canto, seus olhos pairando sobre mim.

- Bem, Cora está certa, afinal, já temos visita.

De repente todos os olhares presentes caem sobre mim; entre eles, o olhar culpado e triste que aquele belo par de olhos azuis que ele tem expressa. Vejo seus traços se tornarem rígidos e expressivos como nuca antes tinha visto, seus punhos se fechando imediatamente e o lábio inferior treme de modo que posso ver ao longe, seu pomo de adão oscila constantemente enquanto tenho os olhos focados nos dele. Curiosamente me sinto bem ao ver que causo esse tipo de reação nele, é divertido ver o que um simples olhar meu o faz sentir, e eu quero que ele o sinta, quero que sinta a culpa porque é o único jeito que tenho de revidar de certa forma. Que comportamento infantil.

- Me desculpe se te assustei. - Sussurra de cabeça baixa, caminhando em direção a um dos armários. Por um minuto me sinto culpada.

Abaixo a cabeça e aperto os dedos, plantando os pés no chão. Meus olhos ainda estão grudentos e minha cabeça lateja.

- Vamos, querida? - A voz de Cora me atinge os ouvidos.

- Posso?

- Ora, deixe de besteira, venha. - Isso tem tudo para ser uma armadilha. - Se quiser pode comer aqui mesmo e nós vamos para a sala de jantar. - Cora continua.

Your BloodWhere stories live. Discover now