Olhos escarlates...

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Henry:

O restante da manhã foi estranhamente tranquila. Rachel se fechou no quarto e está determinada a não sair de jeito nenhum. Bem, eu não posso culpa-la por isso, eu faria o mesmo, e até me sinto bem pela atitude dela. Desse jeito eu não tenho que olhar nos olhos dela e me lembrar que para ela eu sou um monstro... então fiz o lógico e simples, eu fugi. Enfiei a cara na papelada do trabalho e ocupei a mente ao máximo, é infantil? sim, mas funciona. Me esforcei ao máximo para não desviar a mente, meus olhos fixos nas informações escritas nos papéis saindo da impressora e formando uma pilha gigantesca sobre a mesa do escritório. Concentrei toda a minha atenção no cheiro exalado pela xícara de café pela metade, já frio, que Cora me trouxe mais cedo e o farfalhar das folhas secas e murchas que o jardineiro podava do lado de fora batendo na janela vez ou outra. Tudo andou como planejado, o peso na consciência foi embaçado pelo peso de pilhas e pilhas de formulários e e-mails saltando na tela do computador.

- Henry... - Ouço a voz de Samantha por trás da porta, seguida de três batidas.

- Entre.

- Oi, chefe, só vim aqui para dizer que Blake foi para o trabalho na empresa, uma reunião de emergência com o resto do RH.

Me encosto na cadeira de escritório e bagunço o cabelo, frustrado por ter tido o azar de lembrar o motivo da reunião. Claramente Blake não é um idiota ao nível de simplesmente não fazer algo à respeito da situação, é o trabalho dele aliás, provavelmente deve estar tentando mudar os horários da Rachel, deixando-a sair mais cedo, dessa forma talvez ela se sinta mais segura.

- Sim, obrigado por informar, Samantha. - respondo com a voz rouca.

Samantha assente com um meio sorriso, pega a xícara com o café frio e se retira para a cozinha. 

Como já dito, a manhã ficou para trás, mas o medo alarmante que Rachel sente não se esvaziou nem mesmo por uma gota. Já no período da noite, peço para que Cora a chame para jantar, ou que pelo menos ela tente comer alguma coisa, considerando o fato de que o carro dela (junto com o celular) só estarão aqui manhã de manhã quando Blake os trouxer até aqui ela não poderá ir para casa. Já cogitei e apresentei a ideia de chamar um motorista de aplicativo, mas Rachel negou a ideia se encolhendo na cama e se recusou a dar o endereço, assim como pegar uma carona, além dos riscos de que ela conte o que viu na noite passada. Sendo assim, resta apenas esperar.

- Rachel, por favor, você precisa comer... - Cora insiste á porta pela milionésima vez,

Como pelo dia todo, não houve resposta ou resultado algum por parte dela.

Estamos fazendo a mesma coisa: fugindo, não só um do outro como também de qualquer coisa que exija alguma reação sobre o assunto. Afinal, reagir significa aceitar, e nenhum de nós dois está disposto a fazer isso agora.

- Sinto muito. - ela anuncia cabisbaixa ao pé da escada depois de uma tentativa frustrada de tirá-la do quarto.

- Esqueça isso, Cora. Ela nunca esteve tão assustada, está trancada com uma besta descontrolada! o que esperamos que ela faça?

- Ora! ela está morta de medo, apavorada, não comeu nada o dia todo e nem sequer tomou um banho! Se você fez isso com ela, querendo ou não, uma hora você vai ter que dar as caras!

Suspiro cansado, dedicando mais a minha atenção ao prato de comida diante de mim do que aos sermões de Cora, sermões estes que não vão ajudar em nada. Dou mais uma garfada no resto de peixe e deixo a louça suja na pia.

- Ok então, prepare um banho, qualquer coisa que a relaxe, eu vou para a cama. - Anuncio por fim antes de me retirar, poupando os meus ouvidos de mais lições de moral dela ou de qualquer outro alguém.

Your BloodWhere stories live. Discover now