Nossos Sonhos

Continuação

- Vocês viram aquilo? Foi impressionante! Extremamente genial. Estamos diante dos bailarinos mais talentosos das Américas.
Disse um dos coordenadores.
Sorrindo e nos aplaudindo sem parar.

Eu e Tomáz nos olhavamos sem acreditar em nosso próprio feito.
Cada poro do meu corpo estava arrepiado.
Depois daquele grande momento estávamos em um empace.
Bárbara bailarina que era paz de Tomáz estava fora até segunda ordem.
Rompera um ligamento e precisava de afastar para se recuperar.
Como faríamos de agora em diante?
Ainda restavam mais 3 apresentações antes de partimos para Londres.
Quem seria a substituta de Bárbara nesse período?
Com certeza ela não se recuperaria a tempo de ir para o Canadá pelo menos.
A ruptura ligamentar precisa de muita fisioterapia e tempo de repouso até que possa novamente treinar.
Enquanto alguns bailarinos comemoravam o grande show.
Outros cochichavam sobre o ocorrido.
E os coordenadores e treinadores faziam uma reunião pois precisavam tomar uma grande decisão.
As horas passavam e passavam e nada de uma resposta.
Fomos dormir exaustos e apreensivos.
Quando amanhacera durante o café fomos informados do que havia sido decidido.

- "Diante de um imprevisto que não esperávamos fomos obrigados a decidir entre a junção dos bailarinos Tomáz Alcântara e Alice Guedes. Eles serão os novos protagonista de agora em diante. Até o fim do circuito de dança.
Eles abrirão os eventos com o tango.
Viajaremos todos juntos já que as duas companhias estão inscritas.
Assim teremos mais chances de vencer cada etapa do festival.
Vamos unir nossas forças.

- Trabalharemos exatamente igual.
Cada um apresentará seus respectivos espetáculos com sua própria equipe.
Porém os desafios de dupla serão executados por Tomáz e Alice.
Todos estão de acordo?
Ok. Muito obrigada.
Estão todos dispensados.
Nos vemos mais tarde no novo ensaio.

Novo ensaio. Isso quer dizer que terei que treinar com Tomáz, passar mais tempo com ele... Deus me ajude!

1, 2.
1, 2, 3, 4...
Rodopio... Agora Jeté (salto)...
Segura.
Segura.
Avançar....
Vamos Tomáz. Foco!
Alice no segundo giro você abraça o Tomáz e ele erguerá você ok?

Girando girando... Agora Jeté.
Plié...
Vai...
Recuar
Mais uma vez... Saltando, saltando.
Frappé.
Recuar...
Vamos lá mais uma vez!
Avançar...

Precisávamos unir os elementos do tango ao ballet. A complexidade da coreografia deixava o ensaio mais tenso que o normal.
Ficamos por horas naquele ritmo.
No final do dia estávamos acabados.
Não conseguia entender como tínhamos saído de uma ótima apresentação sem nunca dançar juntos para um ensaio extremamente cansativo cheio de falhas e equívocos grotescos.
Isso era inconcebível.
Nós, bailarinos profissionais e experientes não estávamos conseguindo executar um simples passo.
Era frustrante...
Sai do ensaio muito brava com Tomáz.
Parecia que ele estava fazendo de propósito.
Ele não queria que eu fosse seu par e estava dificultando o nosso trabalho por pura birra.

- Samanta assim não vai dar.
Tomáz não está colaborando...
Ele nem parece o mesmo de ontem.
O que há de errado com ele?
Eu estava cansada e muito chateada.
Quando sai do vestiário dei de cara com ele.
Levei um susto no primeiro momento.

- Se está com algum problema pode me falar Alice.

- O meu problema é você Tomáz, tentando sabotar nosso trabalho.
Qual é o seu problema hã?

- O meu problema é você Alice! Disse,
me olhando nos olhos.
Eu fiquei boquiaberta.
Como ele podia ser tão arrogante.
Estava dando o meu melhor.
Diferentemente dele.
Não resisti, e o peitei.

- Quem você pensa que é hein...
Se o seu problema sou eu então não dance comigo... Não dance com ninguém.
Aliás pare de dançar e seja o advogado que o seu pai quer.
Mas não me culpe pela sua frustração e nem faça corpo mole.
Eu não sou o seu problema, a sua cabeça que é!

Na verdade eu não sabia, mas o seu grande problema era o seu coração.

Ele ficou muito surpreso. E perdeu a fala.
Eu saí em direção ao elevador.
Ele me seguiu.
Segurou meu braço impedindo de entrar.
Eu puxei meu braço de volta e ele me empurrou para dentro do elevador, a porta fechou e ele me beijou.
No primeiro momento eu não sabia o que fazer mas depois me rendi.
Ele beijava tão bem quando dançava.
E então...

- Desculpe eu não devia ter feito isso. Eu reagi impulsivamente. É que você mexe com os meus sentidos.
Isso não será um problema, será?
Afinal vamos trabalhar juntos pelos próximos 3 meses.

- Me diga você. Será?
Confrontei o.

- Você é sempre assim, tão cheia de razão?

- E você é sempre assim arrogante e convenci....
Ele me beijara novamente.
Mas dessa vez ele não interrompeu.
Nos beijamos até a porta abrir.
Nos olhamos e não dissemos mais nada, apenas saímos cada um em uma direção.

O que eu estava fazendo???
Estava esperando a ligação do Gui e beijando Tomáz?
Eu não podia ficar divida entre eles.
Eu gostava muito do Gui, mas Tomáz também mexia comigo e agora eu não sabia o que fazer ...

Aquele beijo havia de ser o último!

Semanas se seguiram...
Estávamos enfim trabalhando bem juntos.
Todas as apresentações tinham sido um grande sucesso.
Era nossa última noite em Córdova e saímos para passear.
Por mais que eu tentasse não podia parar de pensar em Tomáz, estávamos a maior parte do tempo juntos.
Nos tocando, respirando o mesmo ar.
A coreografia do tango mexia ainda mais com meus sentidos.
Todos aqueles olhares trocados, todas as vezes em que ele me segurava em seus braços...
Eu sei, eu sei... É só uma dança.
Mas quando estávamos juntos sempre parecia algo mais.
Nunca tocamos no assunto do beijo.
E quando não estávamos ensaiando ficávamos o mais distante possível um do outro.
No café da manhã, almoço, jantar... Mas nossos olhares sempre se cruzavam...
Eu não queria enlouquecer mas estava chegando bem perto.
Em todo esse tempo nenhuma ligação do Gui.
Seria apenas pelo trabalho ou ele havia esquecido de mim?

Estava sentada sozinha nas dependências do hotel.
Havia um jardim muito bonito com uma fonte antiga e um labirinto verde de ciprestes, eu adorava passar algum tempo lá.
Estava um pouco frio.
Então sentia uma manta me cobrir.
Olhei e era Tomáz atrás de mim.

- Você parece com frio.
Posso? Perguntando se podia sentar se comigo.
Eu dei de ombros.
Ficamos um tempo ali em silêncio só ouvindo o barulho do vento e os pássaros.
Falamos juntos...

- Você quer...

- Pode continuar... Eu disse.

- Não, tudo bem fale você. O que ia me dizer?

Eu ri e respondi.
- Eu só queria saber se você quer entrar e tomar um chocolate quente.

Ele sorriu...
- Ah é isso?
Eu achei que você fosse brigar comigo por alguma coisa de novo.
Você é bem brava.

Então eu ri.
Entramos e ficamos conversando na cafeteria enquanto bebemos nosso chocolate quente.
Pela primeira vez em 2 semanas nós estávamos juntos e sem brigas. Como bons amigos.

- Preparada para Londres e tudo mais?

- Sim! Eu tenho um ótimo parceiro de dança. E o cutuquei sorrindo.

- Amigos? Perguntou ele, esticando a mão em cumprimento.
Eu ignorei o seu cumprimento e lhe beijei a bochecha.
- Sim!
A paz havia sido selada.