Sorria!

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Segunda-feira!

Aqui estava eu muito contrariada porém precisava estar ali se quisesse pernas mais leves e menos barulhentas....

Havia adiado a aula de culinária na ONG para estar aqui, as crianças infelizmente teriam de esperar mais um pouquinho.
Meus horários estavam uma bagunça, me atrapalhava toda.
Justo eu que um dia fora tão focada.

- Bem vinda Alice, quanto tempo, como você está? Perguntou Fernanda, minha ex fisioterapeuta por quase um ano.

- Como você pode ver, nada mudou então eu continuo "azeda"... Falei me referindo a denominação que ela tinha dado sobre mim ao Dr. Eduardo.
Ela não respondeu de volta só ergueu as sobrancelhas e entortou os lábios.
Como se isso quisesse dizer que havia sido pega.

- O Dr. Eduardo já vai atendê-la Alice. Respondeu Sabrina, a recepcionista.

Enquanto esperava andava de um lado para o outro impaciente.
Depois do acidente evitava sentar com essas próteses. Elas eram bem desconfortáveis. E visualmente pré-históricas.
Eu não costumava esconde-las.
Usava vestidos e saias o tempo todo.
Era mais fácil se vestir assim.

Estava usando um vestido floral bem levinho, ele era acinturado e a saia mais soltinha quase que rodada.
Estávamos na primavera.
Então por cima dele vestia um cardigã fininho.
Estava de coque.

- Alice...
Chamou o Dr. para que eu entrasse no estúdio.

- Boa tarde Alice, você está muito bonita!
Nem parece a mulher biônica.
Estava ficando animada com o elogio até ele terminar a frase sendo muito grosseiro.

- Você é sempre assim tão gentil com seus pacientes?

- Ah desculpa Alice, eu não queria ser rude, apenas fiz uma brincadeira para quebrar o gelo... Sinto muito se a ofendi.
Admito, foi uma péssima piada.

Pelo menos ele tinha certo bom senso já que habilidade em humor lhe faltava.

- Venha, vamos ver suas novas próteses. Você vai ficar um arraso... Não que precise...

- Você pode parar de tentar fazer eu me sentir bem, ok? Esse não é o seu trabalho e eu não estou afim de conversa fiada.

- Ok....
Aqui está!
Vamos troca-las.
Sente-se aqui.
Tirou uma perna, depois a outra.
Tocou em meu joelhos inchados e doloridos.

- Aiiiii... Não toque em mim. Disse colocando minhas mãos nos joelhos.

- Alice sou seu fisioterapeuta preciso tocar em você.
E tirou as faixas que cobriam meus joelhos como proteção para as próteses.
- Seus joelhos estão muito machucados, você tem tomado algum analgésico?

Pensei alto... "São minhas balinhas de goma" e dei um sorrisinho....

- Alice, isso não é brincadeira. Você não pode ultrapassar a quantidade recomendada, é muito perigoso.

E pensei alto novamente...
"Ah sim, isso eu sei bem." Revirei meus olhos e suspirei fundo.

- Alice!

- O que foi?

- Você não é mais criança.
Me repreendia enquanto passava pomada em meus ferimentos.
Tinha as mãos leves e suaves.
Fazia muito tempo, mais precisamente cinco anos que ninguém me tocava. Digo... Um homem.
Em todo o meu processo de recuperação optei por enfermeiras e fisioterapeutas, homens bem longe de mim.
Ele falava, falava sem parar e eu só via a sua mandíbula mexer.

- Alice, você está me ouvindo?

- Ah que chatice, sim estou...
Você sabe que se eu não estivesse sem minhas "pernas de pau" eu já teria saído daqui correndo né...

Nossos SonhosWhere stories live. Discover now