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Por volta das sete e meia, depois de um longo dia dormindo, lá estava eu mais uma vez na frente do espelho lavando o rosto.

De certo modo, eu não queria viver aquela vida para sempre.

Mesmo que não tenha comentado, estive muito animado esses últimos dias com as propostas de emprego que abriram no bairro e na cidade.

Eu realmente queria me meter em algum trampo, mas aparentemente todo lugar em que eu mandei currículo me negou — considerando que não recebi nenhuma notificação de volta.

Então, mais uma vez, lavava o rosto após dormir a tarde inteira.

Me olhava no espelho e me admirava com paciência e compreensão.

Meu rosto não estava muito amassado, mas meus olhos pareciam ser meio caídos.

Essa madrugada sairia com Renjun e, de qualquer modo, eu estava disposto a dar uma chance de verdade a ele.

Fui sincero naquela carta, ou pelo menos busquei reconhecer coisas boas em Renjun, mesmo com todo ódio guardado no meu coração contra ele.

Os meninos provavelmente iriam me matar depois disso tudo (já querem) mas quem sabe Renjun se saia bem e consiga comprá-los com papo furado e essas coisas.

— Não foda tudo de novo. — disse a mim mesmo na frente do espelho, vindo em mente mais uma vez Jeno.

De alguma forma, tinha algum medo deles dois ainda serem próximos.

Jeno não costumava falar de Renjun para mim, mas eu nunca tive o negado ser amigo dele. Bom, mesmo que eu o odiasse, não costumava ser o tipo de namorado que impedisse meu parceiro de seguir amigo dos outros.

Mas ainda sim... a insegurança era muita.

Essa noite, eu precisaria tirar uma conclusão clara e objetiva com Renjun quanto a isso, além de que eu queria abrir logo o jogo com ele, sobre tudo.

Não pense nada demais! Eu não vou falar nada fora do comum, pelo menos eu espero... verei na hora, mas continuo destinado a dar mais uma chance a Huang.

Dei meia volta do banheiro do quarto e me joguei mais uma vez sobre a cama.

Minha mãe voltaria daqui algumas horas do trabalho junto com o marido dela e sinceramente eu não estava muito afim de ficar pelo andar de baixo e dar de cara com ele mais uma vez.

Vez ou outra eu olhava novamente onde ele me apertou outro dia, e lá notava as marcas não tão fortes, mas ainda persistentes do aperto que ele me deu sobre meu pulso e gerou roxos.

Eu odiava aquele homem tanto que não podia me aguentar e nem encontrava palavras cabíveis pra descrever o tanto que eu queria ver ele morto.

Não tinha como considerá-lo meu pai. Ele era um monstro. Traía e agredia a mim e minha mãe da maneira mais covarde possível: com ameaças e marcas "discretas" sob nossos corpos para que, se por algum acaso desconfiassem, não tivessem como incriminá-lo; para que ainda restasse desculpas esfarrapadas pra justificar os hematomas.

Fiquei tão contente quando soube que os papeis do divórcio tinham chegado, embora ainda tema o que pode acontecer.

De qualquer modo, logo ele sairia das nossas vidas e seríamos livres: minha mãe e eu.

"acabei de chegar do trabalho, já pensou num lugar maneiro pra me levar e usufruir da minha grande inteligência celestial?"

A mensagem de Renjun apareceu no mesmo instante em que minha mente voava longe.

Por vez, aquele chinês aparecia em meio de meus pensamentos mais delicados possíveis.

Mais uma vez me interrompendo em meio de longos devaneios.

[...]

"vá descansar um pouco! nos encontramos na frente do lago, meia noite em ponto, vou te buscar e levar pra um lugar foda"

Sorridente sem nem perceber, as mensagens de Jaemin roubavam no meu rosto toda aquela atenção.

Tinha acabado de tomar café da tarde e caminhava de um lado pelo outro dentro de casa ludibriado com aqueles acontecimentos pela tarde.

Meu dia mudou de uma hora para outra quando Jaemin apareceu e veio me entregar aquele bilhete, além de todas as coisas que disse e ainda me convidar para sair com ele pela madrugada.

Estava tudo tão bom para ser verdade.

Guardei o celular no bolso no mesmo instante em que virei em direção a sala de estar e me dei de cara com minhas mães dormindo abraçadas no sofá.

Continuei sorrindo, mas dessa vez soltei um riso sôfrego e breve ao vê-las daquele jeito.

As duas saíram para namorar ao dia, como estavam tomando costume nos últimos dias.

Eu ainda teria aquela vida que elas tinham, sem muitas preocupações fora da nossa família e seus passeios românticos.

Não tinha o que fazer ali, então apenas as cobri com uma coberta jogada ao lado e voltei ao andar de cima separar minhas roupas para mais tarde.

Estava de algum modo ansioso para ver Jaemin mais tarde, embora ainda fosse absurdamente cedo para ir me arrumar.

Me deparei frente a frente com o guarda-roupa aberto igual tinha deixado antes de sair.

— Bom... preciso estar bem vestido, mas não tanto para que ele não perceba que quero lhe impressionar. — falava sozinho, pondo as mãos sobre a cintura e suspirando fundo.

Estrategicamente eu iria me arrumar para ver Jaemin ainda naquela madrugada.

Eu só quero, querendo ou não, mudar a mente de Jaemin. Eu ainda quero ser alguém com quem ele possa confiar, não alguém que ele só usufrua de ver em quando.

Mas ele lembrar de mim e podermos sair, por mais que já tenhamos brigado, era um grande início.

Querendo ou não era um início o menino que eu gosto, mas que me odeia, me dando chances para me aproximar dele, certo?

Fiquei curioso sobre o que ele disse em não querer me esconder dos outros. Na minha cabeça, ou Jaemin levou uma mijada tensa dos seus amigos, ou ele estava reconhecendo que era rude demais comigo sem razão — eu acreditava com mais força na primeira opção, porque ele é alguém um pouco difícil, querendo ou não.

Pelo amor de Deus... — sussurrei, porque no minuto que peguei minha moletom mais confortável e bonita do armário, o cheiro de Jeno subiu mais uma vez minhas narinas.

Ah, merda... aquilo podia ser um problema.

pink letter | renminWhere stories live. Discover now