He's not an angel.

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Minha vida parecia um redemoinho, eu sentia que ia cair a qualquer momento se não tivesse alguém para me segurar, como se o chão fosse se desfazer debaixo dos meus pés e o que tinha lá embaixo iria me sugar para um lugar preto e branco num loop infinito; sem cor, sem gosto, sem aromas, sem vida.

Acordei com o barulho do despertador, aquilo sempre me deixava nervosa, eu sempre mudava a música para não me estressar, mas a nova música sempre se tornava motivo de raiva.

— Vai acabar quebrando. – abri os olhos com dificuldade e avistei meu pai entrando no quarto e vindo em minha direção. Ele pegou o despertador e o desligou.

— Seria ótimo se quebrasse. – bufei e afundei minha cabeça no travesseiro.

— Você deveria usar seu celular como despertador, aposto que teria mais cuidado e não desejaria o mal. – acabei rindo com isso e ele deu um beijo no topo da minha cabeça. – Bom dia. – ele caminhou pra fora do quarto enquanto eu me ajeitava na cama.

— Bom dia nada, eu quero dormir. – disse me sentando e ajeitando o meu cabelo que parecia lutar com o vento inconstante do meu quarto.

Ele deu uma risada e saiu do quarto fechando a porta vagarosamente, eu até pensei em voltar a dormir, mas aquilo faria com que fosse mais doloroso quando eu acordasse.

Me levantei da cama e quando fiquei em pé, acabei ficando meio tonta. Me segurei na cabeceira da cama e respirei fundo. "Você consegue, Victoria." Disse pra mim mesma e fui andando em direção ao banheiro. Entrei debaixo do chuveiro e quase adormeci ali mesmo, a água estava morna e o som que ecoava na minha mente parecia uma canção de ninar. Terminei de tomar meu banho e escovei meus dentes. Sequei meu cabelo rapidamente e passei uma maquiagem básica. Escolhi uma roupa normal, calça jeans clara e uma regata branca. Calcei meu all star preto e peguei um casaco fino. O cheirei e respirei fundo. Eu sabia que não tinha mais o cheiro da minha mãe, mas era bom fantasiar. Peguei minha mochila e desci as escadas vagarosamente, com passos longos e preguiçosos.

— Não vai comer? – meu pai disse enquanto terminava de colocar a mesa.

— Estou sem fome. – disse dando um sorriso forçado. Ele me olhou arqueando as sobrancelhas e eu suspirei. – Não estou afim de comer, pai, só isso. – dei de ombros e passei por ele, dando um beijo em sua bochecha.

Peguei as chaves do carro e minha bolsa que estava em cima do sofá.

— Não vai comigo? – escutei a sua voz quase se engasgando com o leite, na pressa de falar.

— Não estou afim de chegar atrasada novamente. – respondi dando uma risada fraca e ele assentiu com a cabeça enquanto sorria, parecendo concordar. Soltei um beijo no ar e fechei a porta, indo em direç

O último ano no colégio parecia uma coisa assustadora, e realmente era.

Normalmente eu sempre conhecia os novatos do meu colégio, mas dessa vez eu seria a novata, e isso me deixava cada vez mais tensa.

Parei no sinal fechado e encostei minha cabeça no banco, fechando os olhos.

Mil paranoias pairaram na minha mente e eu tentei me livrar de cada uma, mas a minha ansiedade sempre gritava mais alto.

O sinal abriu e eu continuei a dirigir até o tal colégio. As aulas já haviam começado há mais ou menos uma semana, mas eu decidi ir só mais tarde, talvez pra camuflar a minha ansiedade que só fez aumentar.

Meu pai teve que se mudar por conta do trabalho, algo que eu não entendi direito mas preferi ficar na minha. Ele vivia falando que aqui seria melhor, que eu faria amizades melhores... Como se eu tivesse amizades na minha antiga cidade. Eu não sou tão antissocial assim, só que as pessoas no meu antigo colégio eram tão superficiais que me davam nojo; não gosto de pessoas rasas, gosto daquilo que me transborda.

Hold on TightWhere stories live. Discover now