Capítulo 23 - Paternidade não é um jogo

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Soltei Emma no tapete tomando o cuidado de deixar quaisquer objetos anti crianças fora do alcance da pequena.

-Esse tipo de pensamento é basicamente o que o teu irmão teria, a convivência com ele te afetou mais do que pensei que afetaria. – Vick deu uma gargalhada.

-Em minha defesa, você saiu sorrateira demais, eu nem senti quando você levantou. – Levantei as mãos recuando.

-Porque não admite que estava cansado e que precisava dormir igual uma pedra? – Ela cruzou os braços, triunfante.

-Tá bom, você venceu, mas só porque você é linda. – Lhe dei um selinho.

-Fala sério, eu venci porque eu estava certa. – Ela me deu um tapa de leve e eu fingi que doeu.

-Ei, pensei em ir ao mercado e comprar algumas coisas para fazermos hoje, o que você acha? – Brinquei com uma mexa de seus cabelos.

-Gosto disso, parece coisa de família normal. – Ela concordou.

-Então irei agora mesmo, você pode ficar com a Emma mais um pouco? – Perguntei.

-Claro, estou adorando a gente fazendo uma simulação real de família. – Ela ficou na ponta dos pés e beijou minha bochecha.

-Posso me acostumar com isso. – Sorri de canto e fui me trocar.

Dei uma última mimada nas meninas e sai de casa rumando ao supermercado, eu nunca fui muito com essas coisas porque sempre tive uma alimentação meio "bleh", mas como a própria Victória disse, também estou adorando a simulação real de família que estávamos vivendo.

De alguma maneira aquilo era como se fosse um teste para nós dois, ou melhor, uma prévia de como será depois que Katherine finalmente chegar entre nós.

Estacionei o carro em frente ao supermercado e logo em seguida já peguei um carrinho de compras sem ao menos pensar de fato no que eu compraria.

Comecei a rodar pelo setor de carnes, Vick e eu já tínhamos abandonado a dieta do mato então poderia usar e abusar daquela sessão, coloquei alguns filés no carrinho e fui em direção aos legumes e verduras, já estava prestes a colocar duas bandejas de cogumelos no meio das compras quando uma voz conhecida e irritante soou atrás de mim.

-Espero que não esteja pensando em dar isso a Vick, qualquer pessoa que a conheça saberia que ela é alérgica à cogumelos. – Era Thomas King.

-Está me seguindo? Os socos que trocamos a alguns meses não foi o suficiente? – Fui áspero.

-Não tenho motivos para seguir você, meu único interesse aqui em Roma está na sua casa, infelizmente. – Ele deu de ombros.

-Porque não pode deixar Victória seguir a vida em paz? Ela não quer mais saber de você e está muito bem comigo. – O olhei descrente.

-Não é somente sobre Vick, é sobre Katherine, minha filha, ou você esqueceu que não é o pai dela? – Ele parecia se divertir trocando farpas comigo.

-Você acha que tudo isso aqui é um jogo, não é mesmo? Acha que tudo se resume em uma competição, no fim das contas você não está preocupado com o bem estar da Vick ou da Katherine, só quer sair vencedor dessa história porque não aceita que ela está vivendo algo normal com alguém normal. – Não perdi a compostura. – A paternidade não é um jogo, a vida de uma criança não deve ser levada em xeque só porque você está com dor de cotovelo, se eu fosse você aceitaria as condições que Vick colocou para que você possa conviver com a Kath sem problemas.

-E porque eu faria isso? – Ele riu sarcástico.

-Porque isso não é sobre você, não é sobre o seu maldito ego, se você amasse Victória da forma como propaga aos quatro ventos teria um pouco de decência e se retiraria de sua vida, você só traz dor. – Utilizei de um tom um pouco mais hostil.

-Eu vou ter novamente a família que você tirou de mim, nem que isso me faça a recorrer a medidas extremas, aproveite enquanto ainda pode. – Thomas ameaçou antes de dar as costas e sair do meu campo de visão.

Eu não esperava ter aquele tipo de embate naquela hora do dia, na verdade eu não esperava de fato ver aquele projeto de professor por ali, pensei em passar a mão no telefone e ligar para Noah, na certa ele poderia me aconselhar sobre aquela situação, mas logo afastei a ideia devido aos últimos acontecimentos, não queria que meu irmão se preocupasse comigo e com esse triangulo dos infernos em que eu estava metido, ele deveria ter espaço agora, principalmente por conta do luto.

Terminei de fazer as compras e voltei para casa, pensei diversas vezes se contava ou não para Victória sobre meu encontro desastroso com Thomas King, eu não gostava de ter segredos com ela, sempre que escondia algo eu sentia como se a confiança entre nós fosse ser abalada, respirei fundo e entrei em casa.

Emma estava dormindo com sua mantinha e Vick estava dedilhando seus dedos com agilidade em seu notebook.

-Cheguei! – Sussurrei em seu ouvido.

Vick se virou, tirou os óculos de grau e sorriu.

-Que bom, como foram as compras? Se sentiu um chefe de família? – Zombou.

-Basicamente. – Sorri amarelo já pensando nas palavras certas que eu deveria usar naquele momento.

-Está me escondendo alguma coisa? – Vick obviamente já havia percebido.

-Encontrei seu ex no mercado hoje. – Bufei. – Pensei mil vezes se te contava ou não, mas como eu sei que você ficaria chateada comigo se eu não o fizesse, cá estou eu.

-O que ele queria dessa vez? – Ela revirou os olhos.

-O de sempre, infernizar, ameaçar, desgraçar os nossos dias. – Usei a ironia.

-Eu não sei mais o que fazer pra que ele simplesmente pare de nos perturbar, ele queria participar da gestação e eu deixei, mas parece que ele não está contente com as condições. – Vick parecia derrotada.

-Ele só vai parar no dia em que ele tiver você novamente, essa é a realidade. – Suspirei.

-Ah mas não vai mesmo. – Vick pegou seu telefone. – Vou colocá-lo em seu devido lugar.

Segurei gentilmente suas mãos e a fiz olhar para mim.

-Você não tem que fazer isso agora, foi só um ocorrido e nada mais, vamos focar em nós, está bem? Nossa princesa está batendo na porta e você precisa se preocupar somente com isso. – Acarinhei sua barriga e Vick relaxou soltando um longo suspiro.

-Você tem razão, mas na próxima consulta que eu tiver com o Dr. Sebastian, vou ser extremamente clara com o Thomas sobre minhas intenções, se for preciso faço um contrato extrajudicial com ele para regularizar toda essa questão sem que respingue ainda mais em você. – Vick garantiu.

-Tudo bem, agora fique calma, está bem?! Não queria te deixar nervosa. – A abracei.

Vick não tocou mais no assunto naquele dia e eu agradeci por isso, quanto mais ela se estressava com as coisas do Thomas, mais aquilo alimentava minha raiva daquele idiota.

No fim da noite decidi mandar uma mensagem para Noah contando sobre o ocorrido, o mesmo, como eu imaginava, não estava lá com muita cabeça para me aconselhar, mas disse que me ajudaria quando retornasse para Roma, e foi com esse pensamento que desliguei minha mente.

A Escolha PerfeitaWhere stories live. Discover now