Capítulo ⅩⅢ

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Hélia Lancaster sempre foi um furacão

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Hélia Lancaster sempre foi um furacão. Sua habilidade de deixar outras pessoas desconfortáveis era certamente algo a se temer. E naquela tarde, isso não seria diferente.

— Como assim? Eu exijo saber onde Sir Cullimore está localizado, imediatamente!

— Sentimos muito, Lady Hélia. Ele partiu hoje de manhã e disse que não voltará por alguns dias.

— Algum de vocês deve saber para onde ele foi. O duque não pode simplesmente sair pela porta sem falar nada!

— Isso é a definição do que um homem pode fazer, irmã — Ersa estava exausta de ouvir as lamúrias de Hélia — Toda vez que Maison sai você apronta esse estardalhaço, não acha que está crescidinha demais para isso? Parece um sanguessuga. Pobre Maison.

— Mais uma palavra e corto sua garganta, sua exibidinha. Não tente bancar a superior quando todas sabemos que você é a mais irresponsável aqui.

— Irmãs, irmãs, por favor não briguem. Vamos manter nossas mentes limpas, inspirar bem fundo e esquecer o ocorrido, está bem?

Pandia sempre fora a mais paciente entre as três. Foi a cola que as manteve unidas por todos esses anos. É claro que também foi a pessoa que impediu que ambas se matassem.

Porém, a relação tão bonita que as irmãs Lancaster tinham, estava ficando cada vez mais instável; devido, essencialmente, aos gênios e personalidades fortes que possuíam. Era dificílimo concordarem com alguma coisa que não envolvesse Amélia.

As três estavam na sala: "Dulcinéia del Toboso". Nomeada por Selene e Hélia, que são fãs mais do que óbvias de "Don Quijote de la Mancha". Elas haviam acabado de almoçar e resolveram burlar as regras naquele dia e pedir ao pai que suas aulas fossem suspensas, com a desculpa de que estavam demasiadas cansadas após a festa de ontem.

A discussão calorosa que Hélia e Ersa estavam tendo foi interrompida abruptamente por Sele, que entrou sem nenhuma cerimônia e, simplesmente, sentou-se ao lado de Pandia.

— Que confusão é essa? Posso ouvi-las da ponte levadiça.

— Olha quem resolveu dar-nos o ar da graça. Percebeu que tem irmãs agora, Selene?

— Não seja cruel, Hélia. Você sabe que mamãe a obrigou a encomendar vestidos para usar em Londres.

— Como se comprar dezenas de vestidos fosse algo que Sel fizesse obrigada. Você está sempre defendendo ela, Pandia. Na verdade, vocês duas. Sinto como se fosse a ovelha negra da família! Todas se virando contra mim sempre que podem!

— Você está merecendo uma boa surra, Hélia. Sabe muito bem que eu e Pandia te apreciamos tanto quanto Selene. O que não apreciamos é todo esse seu drama de cachorrinho abandonado. Estamos fartas.

Hélia faz uma expressão de ódio, levanta-se de seu lugar e simplesmente pula em cima de Ersa, começando a atacá-la. Pandia começa a chorar e implorar para que parassem, já que a pobrezinha não aguentava mais vê-las brigando.

— Vocês vão continuar agindo como menininhas mimadas, ou vão parar com esse absurdo? — Selene se aproxima das duas com um olhar ameaçador, o mesmo que usava quando eram crianças para mantê-las sob controle.

As duas pararam instintivamente, como se estivessem sendo esbofeteadas. Elas se sentaram em sofás separados e encararam o chão envergonhadas. Suas bochechas estavam vermelhas, os cabelos bagunçados, as respirações ofegantes e os olhos regados de raiva.

— Isso é completamente deplorável. Quando foi que se tornaram tão animalescas? Tia Pauline estava certa, precisam mesmo de aulas de etiqueta. Estou decepcionada, pensei que fossêmos ladies, mas aparentemente estou enganada. Sequer somos irmãs, nunca vi esse tipo de comportamento em toda minha vida.

— É porque você não estava aqui para ver. Na verdade estava muito ocupada se apaixonando por um francês enquanto escrevíamos cartas idiotas todos os dias — Hélia pronuncia tais palavras com escárnio, enquanto dirigia o olhar de ódio para a irmã mais velha.

— Não diga isso, Hélia! Não vou aceitar que insulte nossa irmã.

— Calma, Pandia. Antes, o que você quer dizer com se apaixonando por um francês?

— É isso mesmo, Ersa. Corri até o escritório ontem quando ouvi os berros de papai. Fiquei lá até que tivesse certeza de que mamãe estava bem, mas o que ouvi depois disso foi muito surpreendente. Parece que nossa irmã ficou esse tempo todo na França por causa de um homenzinho insignificante. Ele é tão bom assim como amante?

Selene arregala os olhos, com o rosto vermelho de raiva ela se aproxima de Hélia e lhe dá um tapa. Todas as irmãs se chocaram, jamais a viram desferir qualquer tipo de golpe em uma delas. Quando Hélia pretendia protestar, viu os olhos da irmã cheio de lágrimas. Isso as chocou ainda mais, não costumavam ver Sel chorar, com exceção do enterro da própria mãe.

Lady Selene simplesmente se virou e saiu da sala aos soluços enquanto tentava conter o choro estrondoso que se formava em seu peito. O silêncio que se estabeleceu depois disso, foi assustador e regado de culpa.

Nenhuma das três sabia ao certo o que dizer ou fazer. Admiraram o vazio por um bom tempo até que tivessem a coragem de juntar forças e dizer alguma coisa.

— O que acabou de acontecer?

— Selene estava chorando, Ersa! Hélia, você precisa se desculpar agora mesmo!

Mas, Hélia também estava chorando. Isso já não era um fator tão incomum para as gêmeas, porém ainda foi difícil de assistir. Sua mão esquerda apertava a bochecha vermelha pelo tapa recebido e suas lágrimas escorriam numa velocidade impressionante.

— Pandia tem razão, Hélia. Precisamos nos desculpar.

— Desculpar? Ainda bem que aquela víbora vai se casar, espero que saia daqui o quanto antes!

— Por favor não diga isso, Hélia!

Logo, Pandia começou a chorar também. O clima estava tão pesado que tudo que Ersa pôde fazer foi consolá-las. O que nenhuma das três esperava é que Selene retornaria, acompanhada de um criado segurando uma caixa pequena de madeira.

O homem parou no centro da sala e simplesmente virou a caixa para baixo. Milhares de cartas começaram a ser espalhadas no chão enquanto Selene as observava completamente obstinada.

— O que é tudo isso? Veio se despedir antes de ir embora de novo? Isso é novidade já que sequer teve a decência de fazer isso da primeira vez.

— Isso é a verdade, Hélia. A verdade sobre a minha viagem à França. Escrevi para vocês todos os dias, mas papai e tia Pauline acharam melhor que não soubessem dos verdadeiros fatos. Esta será a primeira vez que os desobedecerei. Acho que vocês têm direito de saber a razão autêntica e tudo o que aconteceu comigo quando estava lá. Só peço que continuem me vendo da mesma forma depois disso.

As lágrimas voltaram a molhar o tapete. Sel parecia uma criança assustada e aquilo preocupou suas irmãs, que resolveram dar-lhe um abraço grupal e se certificar que ela parasse de chorar.

Confidências ao AnoitecerWhere stories live. Discover now