🦋 Capítulo Um🦋 Assombrada pelo passado e um coração em conflito

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DEZ ANOS DEPOIS

Mount Senai West Roosevilt-Nova York

Ala de terapia intensiva para queimados

Quando acordei, senti como se estivesse presa em um filme de terror onde a cidade foi dominada por zumbis, e os poucos sobreviventes estavam se escondendo para não serem devorados ou infectados com o vírus.
Meus olhos percorriam o local na tentativa de reconhecer alguma coisa, mas tudo que eu conseguia ver eram paredes brancas com faixas azuis e um bipe irritante que começava a latejar na minha cabeça.
Tentei me levantar algumas vezes mais meu corpo parecia estar congelado, isso sem falar na máscara de oxigênio presa ao meu rosto e um monte de fios presos ao meu corpo.
Para minha sorte eu conseguia mover a cabeça então pude ver a janela, estava chovendo e o vento, com certeza, estava frio porque os vidros estavam embaçados quase não dava para ver os prédios ou as palmeiras balançando violentamente de um lado para o outro com o vento frio.
O barulho da porta rangendo interrompeu meus pensamentos e vozes baixas preencheram o silêncio, logo depois ouvi passos se aproximarem e mesmo sem poder se mexer, pude sentir a tenção em meus músculos.
Instantes depois uma jovem estava curvada sobre mim, seus cabelos eram castanhos escuros quase pretos, porém as pontas estavam em um tom diferente violenta azulado e o cachecol amarelo se destacava sob a pele morena e a camisa xadrez vermelha.

Por alguma razão aquela garota estava chorando ao me ver, porém ela sorria com um certo alívio como se não me visse a muito tempo. Ela pousou gentilmente uma das mãos sob minha testa e deslizou para meus cabelos cuidadosamente, sua mão era quente sob minha pele pálida e gelada.

“Que bom que acordou Alex.” sussurrou ela enquanto desfazia gentilmente alguns nós de meus cabelos.

Automaticamente minha testa se franziu quando ela disse meu nome e meu corpo ficou ainda mais tenso do que antes, mas ela pareceu não se importar com minha reação apenas continuava com seus carinhos.

“Sou eu Alex, Elizabeth. Você costumava me chamar de morena quando éramos mais novas, lembra?”  ela perguntou enquanto segurava minha mão e beijava meus dedos com carinho. “Sei que não me reconhece, eu mudei muito fisicamente nos últimos dez anos.”

Dez anos?! Como assim dez anos?!

Eu queria sair dali, estava começando a me assustar, queria gritar por ajuda mais meu corpo não respondia.
Meu peito estava começando a doer e doía ainda mais toda vez que tentava respirar, era como se alguém estivesse pisando em mim e esmagando meu peito.
O pavor cruzou o rosto de Elizabeth enquanto ela apertava freneticamente um botãozinho pregado na parede ao lado do aparelho que fazia aquele bipe irritante, minutos depois um médico e alguns enfermeiros entraram correndo no quarto.
Rapidamente o médico tirou a máscara de oxigênio do meu rosto e examinou brevemente meus olhos com a pequena lanterna e em seguida veio uma das enfermeiras que injetou alguma coisa na minha veia, eu soltei um gemido de dor ao sentir a agulha perfurar meu braço, mas ela pareceu não dar a mínima.
O médico, no entanto, percebeu meu pavor e tentou me acalmar da melhor forma possível e assim que a enfermeira se afastou ele me ajeitou na cama com muito cuidado de forma que eu ficasse sentada e pudesse ver melhor o ambiente.
Ele puxou uma cadeira e se sentou de frente para mim, seus olhos pareciam cansados por trás dos óculos, ele pegou gentilmente minha mão e afagou os nós de meus dedos enquanto Elizabeth se sentava do outro lado da cama e segurava minha outra mão.
“Fique calma senhorita Grayson, está tudo bem, a senhorita está segura aqui no hospital ninguém vai feri-la. Sou o Dr. Vincent Keller, eu cuido do seu caso nos últimos dez anos. Imagino que esteja confusa e perdida com tudo isso e é perfeitamente normal, considerando que a senhorita ficou em coma depois do incêndio que ocorreu” esclareceu ele enquanto afagava minha mão.
“Infelizmente seus pais não sobreviveram ao incidente senhorita Grayson, nem mesmo sua irmã.” O tom de tristeza em sua voz, parecia um eco distante que entrava na minha cabeça bem devagar como se eu estivesse voltando de um sonho.
Foi então que imagens começaram a invadir minha cabeça, as enormes poças de sangue pelo chão, o sangue nas paredes e o fogo se espalhando por tudo.
Depois outras lembranças começaram a voltar e eu estremeci ao recordar dos corpos dilacerados dos meus pais, um nó se formou em minha garganta e meu estômago se revirou com as imagens que vinham em disparada. Foi como se eu tivesse levado vários socos no estômago sem um intervalo para respirar, todas as juntas do meu corpo latejavam de dor e os pelos dos meus braços estavam começando a se arrepiar com a tenção que subia.
O nó em minha garganta se desfez e todo meu corpo estremeceu descontroladamente enquanto meus gritos ecoavam pelo quarto tão alto que até eu me encolhi, pude sentir os braços de Elizabeth ao meu redor, eram quentes e reconfortantes.
Ela me aninhou com cuidado em seus braços enquanto enterrei meu rosto em seu casaco e chorei descontroladamente.
As enfermeiras saíram em silencio do quarto, mas o Dr. Keller permaneceu ali sentado e imóvel me observando. Seus olhos eram uma mistura perfeita de preocupação com cautela, seus dedos eram ásperos e cheios de calos, parecia que eu estava esfregando minha mão em uma pedra mesmo que ele estivesse fazendo carinho da maneira mais gentil possível.
Nunca na minha vida eu chorei tanto, meu peito ardia de maneira tão intensa, que por um minuto me perguntei se conseguiria respirar de novo.
O Dr. Keller sugeriu que dormisse um pouco, mas isso não adiantaria, meu cérebro estava a 220 por hora e eu não conseguiria dormir mesmo que quisesse. Minhas mãos pareciam chumbo e eu podia sentir os nós nos músculos das pernas, eu precisava esticar minhas pernas desesperadamente mais não conseguia mover meu corpo um milímetro parecia que ele estava colado no colchão hospitalar.
’’Não se preocupe senhorita Grayson, logo conseguirá se mexer, só precisa de algumas semanas de alongamentos e fortalecimento muscular.’’ garantiu ele tranquilamente.
O Dr. Keller parecia um homem muito gentil, por trás dos óculos grossos eu podia ver a ternura em seu olhar enquanto ficava me observando de maneira protetora e cautelosa.
Agora podia vê-lo mais claramente, seus olhos eram pretos e densos como as nuvens em um dia de chuva e havia pequenas olheiras escondidas sob as pálpebras, seus lábios grossos possuíam algumas rachaduras sutis e seu rosto estava um pouco abatido devido ao cansaço excessivo da rotina no hospital.
Em seus cabelos havia alguns fios brancos que lutavam para aparecer sob os fios pretos e grossos e rebeldes, que caiam sutilmente pela testa escondendo um pouco as rugas de preocupação que começavam a transparecer.

Ruínas do Olimpo - A maldição da Fênix (DEGUSTAÇÃO)Kde žijí příběhy. Začni objevovat