XII. Lia

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Acordei. Sentia o corpo suado e o coração a mil, como se tivesse corrido uma maratona. Já era de manhã e olhei o quarto à minha volta como se nunca tivesse visto ele antes. Eu não lembrava do sonho exatamente, mas meu corpo tremia. Minhas mãos estavam geladas, e afundei na cama, envolvendo o cobertor felpudo à minha volta, tentando dissipar o frio intenso que gelava meus ossos.

Com o que eu estava sonhando?, questionei-me. Lembrava apenas de um rosto na escuridão, uma risada seca, mas a memória desaparecera. Depois de sentir meu corpo esquentando, levantei e fui me arrumar. Era quase sete horas e mamãe exigia a presença no café da manhã mesmo em finais de semana.

O dia prometia ser quente, por isso me vesti preparada para um dia fresco de primavera, com um vestido de pano fino, caindo como uma leve túnica branca pelo meu corpo. Eu sabia que em breve eu não poderia mais usar essas roupas casuais, por isso aproveitava cada momento que podia para me vestir com as peças mais confortáveis que poderia encontrar em meu armário.

Desci as escadas e dei de cara com papai sentado confortável, a nos esperar pacientemente. Quando me viu, ele abriu um largo sorriso e me sentei ao seu lado para aproveitar sua companhia. Papai era sempre muito ocupado, e era a única pessoa da casa que tinha passe livre para não comparecer aos cafés da manhã. Ele nunca almoçava ou jantava com a gente, mas fazia um esforço extra para pelo menos tomar o café da manhã conosco. Eu imaginava como seria quando eu herdasse o trono. Não ter mais nem tempo para comer com minha própria família... Papai me acompanharia pelos primeiros anos do meu reinado, passando seu conhecimento, mas depois de um tempo, seria só eu e os conselheiros. Senti um frio na barriga de repente e um nó se formou em meu estômago.

—Você está mais calada que o normal, querida — comentou papai, me olhando atenciosamente.

— Ãn? — perguntei, sem prestar atenção direito no que ele tinha dito.

Papai riu-se e repousou as mãos em cima da minha, envolvendo-as com suas mãos quentes.

—O que anda se passando dentro desta cabecinha, em? — questionou, delicadamente acariciando meus dedos.

Lancei-lhe um sorriso fraco, ainda pensativa.

—Pai, alguma vez você teve medo?

Encarei-o, enquanto ele exibia uma expressão de surpresa. Papai pensou por um momento, sua mão quente ainda a repousar na minha.

—De que medo em especial estamos falando? — perguntou, interessado.

Suspirei, na tentativa de encontrar um modo de transpor meus anseios.

—Do futuro — falei, ouvindo minha voz soar fraca, hesitante.

Meu pai apertou os lábios e começou a massagear a palma da minha mão, assim como fazia quando eu era criança e tinha pesadelos. Provavelmente ele nem notara que começara a fazer aquilo, ainda preso em pensamento, observando meu rosto.

—O tempo todo, querida. —Ele abriu um sorriso de lado, sua expressão complacente. — Acredito que até o mais corajoso de todos ainda tema o desconhecido. Eu espero que você saiba que eu e sua mãe estamos aqui pra enfrentar esses medos junto com você.

Assenti, sem saber direito o que dizer. Me sentia patética por ter feito aquela pergunta, como se eu tivesse me transformado em uma criança boba que temia o monstro embaixo da cama. Não podia fraquejar, uma rainha não tinha vulnerabilidades.

O som de passos chamou minha atenção e vi quando minha mãe entrou na cozinha, elegante em seu vestido florido verde. Ela se sentou de frente para mim, observando enquanto papai ainda apertava minhas mãos.

A Magia do Tempo - Os três Reinos - Livro ITahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon