X - Lia

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Doía, mas eu não sabia dizer exatamente por quê. A escuridão me cercava de todos os lados e eu só conseguia ouvir o barulho de meus passos no chão; meus próprios pés escondidos no breu da noite. A luz da lua não existia ali, parecia que eu estava em um vazio, um lugar inexistente.

O ar insalubre e pesado me engoliu e voltei a divisar um pouco do que me cercava quando a luz fraca ao longe tremeluziu. Era um poste distante que emitia a luz, por vezes se apagando e tornando a acender, dando a impressão que estava prestes a queimar.

Olhei para cima e percebi que agora havia uma tímida lua a iluminar o céu. Respirei fundo, reconfortada; a familiaridade de algo mínimo que fosse no meio do desconhecido ajudava. Caminhei devagar, andando pelas ruas de pedra gasta sem reconhecer mais nada a minha volta. Os prédios eram todos rústicos, as ruas mal iluminadas, um corredor de concreto que mais parecia um labirinto sem saída. Estava frio e eu estava com uma roupa fina e o ar entrava por dentro do tecido com facilidade, gelando meus ossos. Onde estava minha capa, quando se precisava dela? Eu batia os dentes e tentei abraçar e friccionar meus próprios braços. Esperava que um pouco de contato me aquecesse, mas a cada vez que chegava em uma esquina, um forte vento me atingia e eu congelava um pouco mais.

Onde eu estava? A cidade parecia vazia e eu não avistara nenhuma luz acesa; as casas pareciam completamente abandonadas, deixadas aos cuidados do tempo. Uma sensação ruim começou a surgir na boca do meu estômago.

Olhei ao redor, perdida entre as ruas, sem saber se avançava ou voltava por onde tinha vindo. Ouvi o barulho de vidro se partindo em uma das curvas da rua. Apressei o passo na direção contrária à do barulho, sem saber direito porque eu estava fugindo. Algo dentro de mim me falava para continuar a me mover e não olhar para trás, e resolvi acreditar naquela voz que me dizia haver algo de errado.

Prossegui, virando a esmos, sem parecer avançar pra algum objetivo, mas quando ouvi barulhos de passos nas ruas paralelas à minha, passei a correr. As risadas secas ecoaram pela noite. Estavam me perseguindo. Não sabia o que, mas sabia que era mais de um. E eu não queria esperar para descobrir o que era. Meus instintos me guiavam, sem que eu conseguisse pensar claramente no que estava fazendo.

Como eu escaparia?

Continuei a correr, e em meio ao movimento do meu corpo cortando a vento daquela noite fria, ouvi mais barulhos à esquerda. De supetão, virei na primeira rua a direita que encontrei e percebi meu erro tarde demais. Era um beco sem saída. Eu estava agora encurralada.

Um cheiro forte veio da entrada do beco. Eles haviam me alcançado. Meu coração retumbava forte, o sangue quente agora esquentava meu corpo e pulsava por dentro de mim, como uma corrente de lucidez.

Firmei os pés, me preparando, já pensando no que eu faria. Congelamento ou paralisia seria mais rápido? Qual das duas magias funcionaria melhor em mais de um oponente? Ouvi uma risada amarga, resfolegante, e calculei mentalmente o quanto de energia eu deveria centralizar para manipular um campo extenso. No mesmo momento que decidi atacar, uma mão agarrou meu ombro e tudo se desfez com a luz.

Saltei da cama, rolando com Annelise por cima de mim. A menina gritou de susto e assim que se recuperou, me encarou assustada, com a mão em cima do coração.

—Você estava tendo um pesadelo — comentou Annelise, ainda pensativa com minha reação. — Tentei te acordar, pensei que fosse ajudar.

Assenti, meio sem fôlego, enquanto meu coração queria saltar pra fora do peito. Meu estômago deu um nó, um amargo de ânsia subiu por minha garganta. Percebi o quão fria eu estava e me levantei, passando o cobertor pelos meus ombros enquanto eu me sentava na cama, tentando organizar meus pensamentos.

A Magia do Tempo - Os três Reinos - Livro IWhere stories live. Discover now