ESSÊNCIA (Jikook ABO)

Capítulo 22 🍂

ㅡ Elas te amaram, príncipe, desde que souberam da sua existência.

Saber disso me conforta na mesma medida em que me desespera, então começo a refletir em silêncio. Eu poderia ter aproveitado uma vida ao lado das duas, mas o destino foi cruel assim como está sendo cruel comigo e o Jungkook.

Não entendo, se eu sou um Kappa, por que faço mal ao Jungkook?

Temos uma forte herança genética da nossa mãe ômega. Além do mais, como seríamos impelidos a querer resolver um problema que não nos afeta? Indica que o destino soube bem o que fazer.

O destino não sabe de nada. Eu vou ser o destino.

Você já está sentindo o que eu sinto. Logo estaremos completamente harmonizados.

Sei lá, viu. Esperei tanto para ser harmônico e agora não acredito que Rowan está dizendo isso.

Será que eu vou ter a sua lealdade também?

Como ousa fazer essa pergunta? Se você quer ter a lealdade de um lobo, mereça.

Cara, se eu não estou merecendo agora, sei lá o que mais preciso fazer.

ㅡ Filho, tudo bem? ㅡ Meu pai chama minha atenção e, somente então, percebo que mais uma vez fiquei divagando em conversas com o meu lobo.

ㅡ Obrigado pela foto. Eu amo vocês. ㅡ Levanto da cadeira e abraço os dois pelos pescoços, escutando o som abafado da risada do meu pai. ㅡ Agora eu preciso ir. Hoje é a minha primeira aula de Serviço Social e depois vou ensaiar a música do concurso na casa do Félix.

ㅡ Filho, não gostamos de saber que você está andando pela favela.

ㅡ Pai... ㅡ chamo-o em tom de aviso, porque já conversamos sobre eles respeitarem as minhas escolhas.

ㅡ Nós sabemos, príncipe. ㅡ Minha mãe toca no antebraço dele e sorri para mim. ㅡ Só tome cuidado, por favor.

ㅡ Fiquem tranquilos... até mais tarde.

🍂🍁🍂

Passei a manhã inteira estudando sobre a "Questão Social" e desci para almoçar com o Tigrão e o Gui, ainda mais consciente sobre a delícia de sociedade na qual vivo.

ㅡ O Tigrão publicou mais um poema meu no jornal aqui da universidade. ㅡ Gui anuncia, puxando as mangas da blusa listrada após pôr sua bandeja na mesa em que vamos comer. ㅡ Quer ver?

ㅡ Claro que eu quero, Gui. ㅡ Encho minha boca de frango e estendo a mão para que Tigrão me empreste o jornal que segura.

ㅡ Ah não, chuchu, estou lendo... pega o do Gui. ㅡ Ele abana uma mão e volta a esconder o rosto atrás do papel.

ㅡ Está na minha mochila, Ji, pode pegar. ㅡ Gui instrui e, enquanto observo por um momento ele misturando a própria comida no prato, percebo como suas mãos tremem constantemente.

Em silêncio, abro a mochila cheia de bottons e, no momento em que pego o jornal, vejo quatro cartelas de comprimidos soltas ali. Dói saber que o meu amigo está se medicando tanto por causa dessa doença maldita.

Procuro o poema do Gui e começo a ler em pensamento.

Lucidez inteligente é desejar a inconsciência. Não vivenciar, não saber, não fazer doer, não sentir dor. É não conhecer a sensação de ganhar e depois perder; ter o poder escolher sacrificar e decidir não dizer adeus.

Lucidez inteligente é desejar ser louco o suficiente para não pensar nas consequências das decisões tomadas pelo coração.

Como desistir de um sentimento que nos torna diferentes, que nos mostra a força de existir? Qual seria a vantagem de viver e não permitir sentir o calor de quem amamos?