Capítulo 63

639 83 29
                                    

Anastásia

Três semanas. Três curtas, porém, longas semanas, era tudo o que eu pensava. Levando em consideração que bastou apenas três minutos para eu ceder à tentação, o que aconteceria em três semanas? Se alguém, qualquer pessoa, viesse e me perguntasse se há alguma possibilidade de Christian e eu termos algo novamente, termos novas chances, a minha resposta, racionalmente, de imediato seria não, zero por cento, ou talvez no dia em que unicórnios existissem. Porém se a pessoa exigisse a verdade e medisse meus batimentos cardíacos, veria que eu estava mentindo e que apenas em pensar nisso meu coração batia até minhas costelas doerem. Se eu pensasse por apenas um instante, se por um mísero segundo considerasse a ideia, minha armadura, aquela que uso há cinco anos, tremeria e provavelmente ameaçaria cair.

Aquele beijo...

Aquele beijo fora tão quente, tão cheio de coisas ditas, porém não ditas, repleto de saudade e composto por desejos escondidos. Os desejos mais profundos e escuros que reprimimos durante tanto tempo. O jeito que ele pegou meu rosto e encontrou nossos lábios. A maneira como suplicou por mim, a maneira como disse o que sentia, e o que mais temia, suspirando pesado e quase não conseguindo, pelo calor do momento, pronunciar as palavras. O seu corpo entregando-se quando entrelacei meus dedos aos seus cabelos, tremendo, talvez pela euforia, talvez apenas pelo desejo. Será que ele conseguia ver a verdade em meus olhos? Ver a forma como minha pele se arrepiava ao seu simples toque? Ver a forma como meus braços se entrelaçaram em seu pescoço e eu correspondi ao beijo da mesma forma e intensidade de sempre? Ele queria me deixar tonta e sem reação, completamente.

E sob toda essa pressão, eu não saberia pensar, não saberia tomar a decisão correta, não voltaria com ele apenas tomada pelo momento. Se for para ficarmos juntos, seria uma decisão acertada de ambas as partes, e não uma inconsequência, um deslize meu. O que é impossível. Nada importou naquele momento e provavelmente não importaria mais tarde, nós continuaríamos, se não fosse pelo meu interior, avisando, implorando para que parasse, afinal não gostaria de sofrer de novo. Graças a isso. O coração, ah, esse queria continuar, esse agia sobre minhas mãos e colocaria tudo em jogo apenas para ter aquela sensação boa novamente. A sensação de ser amado. Não havia nada mais estúpido do que o próprio coração, eu decidira. Ele é o que sofre, é o que sangra, e o que se quebra ao meio, porém ele implora por isso, não dá bola e não liga para as grandes possibilidades de ferir-se novamente.

Se não fosse pelo lado racional, aquele que pensa, aquele que administra corretamente os sentimentos, não importando com qual a consequência disso, seja ela ruim ou boa, o coração já não existiria a muito tempo, seria feito de gato e sapato, seria estilhaçado, nunca mais voltaria a bater. Se for para o relacionamento dar certo, primeiro não deve haver rancor ou qualquer sentimento que possa derrubá-lo e esse não era o nosso caso. Bem no fundo, naquela voz, a voz da antiga e boba Ana que falava comigo de vez em quando, eu desejava perdoá-lo, desejava mesmo, queria muito não fazer essas reflexões, perdendo meu tempo em vez de estar fazendo algo produtivo na cama com Christian, mas eu ainda tenho amor-próprio e uma dose de orgulho. Uma dose não, litros e mais litros de orgulho. E o mais importante, eu ainda tinha meu lado racional e deixava-o tomar as rédeas quando preciso. Em alguns momentos não dava certo, como no beijo, por exemplo, quem liderava era o coração. O tolo e bobo coração.

— Essa carinha... O que será que tá passando por essa cabeça, hã? — Mamãe me tirou de meus pensamentos. Agradeci mentalmente ela por isso, estávamos aqui exatamente por essa razão, distração. Estávamos no shopping fazendo compras, com essa intenção, para me distrair e não me deixar levar pelos pensamentos. Deixamos Ágatha com Kate e resolvemos fazer um passeio de mãe e filha, e também, eu precisava de alguns conselhos.

— Coisa boa que não é, mãe. — Respondi com um suspiro, lamentando a minha desgraça.

— Christian, acertei? — Disse ela com uma voz óbvia, revirando os olhos e me olhando em seguida com compaixão.

Sempre foi Você Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon