Capítulo 53

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CHRISITIAN

Cinco anos... e contando...

"Costuma dizer-se que o amor é curto e o esquecimento é muito longo. Mas é melhor um esquecimento longo do que uma grande tormenta na qual acabamos por perder totalmente a nossa dignidade. Às vezes o melhor remédio é esquecer o que sentimos para recordar o que valemos. Porque a dignidade não deve ser perdida por ninguém, porque o amor não se implora nem se suplica, e embora nunca se deva perder um amor por orgulho, também não se deve perder a dignidade por amor. A dignidade é esse elo frágil e delicado que tantas vezes ignoramos e comprometemos. Há muitas ocasiões em que cruzamos essa fronteira sem querer, em que nos deixamos levar por alguns extremos nos quais os nossos limites morais tornam-se fracos, pensamos que por amor tudo vale a pena e que qualquer renúncia é pouca. Muitas pessoas costumam dizer que o ego alimenta o orgulho e o espírito alimenta a dignidade. O orgulho, por exemplo, é um inimigo bem conhecido que costuma ser associado ao amor próprio. No entanto, ele vai um passo além, pois o orgulho é um arquiteto especializado em levantar muros e cercas nos nossos relacionamentos, em decorar cada detalhe com arrogância e em encontrar o vitimismo em cada palavra."

— Quarto ano...

É, o pesadelo mal havia começado. Mal acreditava de onde eu estava vindo. Do funeral de meu pai. Ele havia, infelizmente, ido embora, teve um parada cardíaca e agora não estava mais entre nós. Ainda estava comigo, apenas não de carne e osso... Pessoas me cumprimentavam, diziam seus pêsames e lamentavam, alguns eram sinceros, outros apenas por obrigação... Mas, nenhum, nem até meus amigos e minha própria mãe, poderiam me acudir ou entender o que se passava comigo.

Nada adiantaria. Nem o melhor abraço de todos. Nem o melhor discurso de todos. Nem a melhor e mais confiável promessa de todas iria amenizar aquela dor. Aquela falta que ele faria daqui pra frente. Falta de seus conselhos e broncas. Falta de seu abraço, mesmo robusto e sem jeito, de paizão. Falta de me ensinar a pedalar uma bicicleta pela primeira vez, pescar o meu primeiro peixe ou dicas para conquistar a primeira garota.

Era insubstituível aquele homem.

O melhor homem do mundo havia ido em paz e eu me perguntava: Conseguiria superar isso? A resposta era: Não, pois uma parte de nós morre junto. Mas, seguimos em frente com a intenção de orgulhar aquela pessoa, aquela pessoa que estaria nos olhando e cuidando mesmo de longe e não de perto pessoalmente, mas estaria.

(...) Dias haviam passado e durante esses dias, uma coisa havia retornado das cinzas... Minha vontade de ver ela. Eu havia melhorado, colocado minha vida nos trilhos e não enchido a cara o tempo inteiro mais. Estava trabalhando e terminando a faculdade, pronto para especializar-me na minha área, um homem feito. Não podia mais perder tempo com bobagens, devia esquecer e tocar a vida para frente. Por outro lado, nesses últimos dias ela me veio à cabeça novamente. O porquê disso era a morte de meu pai e o efeito que causou em mim.

A vulnerabilidade.

Eu estava vulnerável de um jeito que não me sentia há um bom tempo. Do jeito que ela me fazia ficar e só ela, com esse conceito, poderia me dar o que preciso. O seu colo. Aquela paz de espírito e tranquilidade que costumava passar. Seu cafuné. Exatamente como fez no dia em que mamãe foi para o hospital e comecei a perceber a garota incrível que tinha perdido, anos atrás.

Não podia negar que era isso que eu precisava agora. Precisava de alguém que, quando eu falasse e desabafasse, saberia que poderia contar e que qualquer conselho que desse seria sincero e para o meu próprio bem.

Esse alguém era ela.

Eu precisava dela. Tanto!

Podia não querer assunto comigo, assim como eu não deveria querer com ela levando em consideração tudo que fez, mas deixaria isso, por ora, pra lá.

Não custava tentar, certo?
Era errado? Era!
Era loucura? Era!
Era algo que me faria ter arrependimento depois por ter me deixado levar? Era!

Mas, era aquilo que eu necessitava agora? Era!

(...) Fui em direção à casa de mamãe. Dona Grace teria que me dar o endereço, teria que me dizer onde encontrá-la. Ao chegar, abri a porta e já ouvi uma conversa. Era com ela. Me escorei atrás da porta e ouvi tudo atentamente.

— Estou louca para você me apresentar ele, minha filha. — Disse minha mãe. Mesmo não querendo, mesmo achando minha mãe muito boba por acreditar em certa história, mesmo não admitindo... Ficava bobo com jeito que as duas se davam bem. Eram como mãe e filha. Continuavam iguais mesmo depois do distanciamento e problemas. — Quero ver quem é esse rapaz que anda fazendo você e minha neta feliz, hein! — Sugeriu cheia de alegria e entusiasmo.

E ali, tudo desmoronou. Qualquer sentimento e desejo do momento foi por água abaixo e me senti o cara mais idiota da face da terra! Estava prestes a ir atrás dela, tentar uma conversa civilizada, vê-la novamente e matar aquela saudade insuportável, matar aquilo que estava me matando esses anos todos... Para quê? Para vê-la se agarrar com outro?

Esse alguém provavelmente deveria ser Dean, o pai da criança, ou qualquer outro homem. Não duvidava. A quanto tempo havia seguido em frente? A quando tempo já não pensava mais em mim? Poderia até mesmo ter saído daqui no dia seguinte de seu aniversário acompanhada. Ela nem lembrava de minha existência. Nem sabia quem eu era hoje em dia. Não se preocupava ou se importava.

Porque eu me preocuparia?

A vontade de vê-la foi substituída pela vontade de não ficar para trás. Não queria que todos pensassem que eu não tinha ninguém, pois ainda estava apaixonado por Anastásia. E apesar de ser verdade, eu trataria desse assunto e faria com que fosse esquecido e nunca mais passasse por minha cabeça. Não queria que sentissem pena de mim, pois Ana teve sucesso em seguir em frente e eu não.

Precisava de algo que me fizesse esquecer TOTALMENTE. De uma vez por todas, aquela mulher deveria, tinha a necessidade de sair da minha cabeça e coração assim como sai tão facilmente do seu. Precisava de uma distração, de algo concreto, algo que fizesse as pessoas finalmente chegarem a conclusão que eu estava bem e superado águas passadas.

De repente, uma pessoa veio a minha cabeça. A pessoa perfeita que já havia servido como segunda opção e distração... E agora, serviria de novo.

(...) Bati na porta impacientemente e não demorou muito para ela atendê-la. Sorriu e abriu os dois braços. Não parecia surpresa por me ver em sua porta depois de tanto tempo como eu esperava que ficasse.

— Eu sabia que um dia você viria. Tinha certeza! — Falou e me chamou com o dedo indicador para dentro de casa.

Continuava oferecida e fácil... Os anos não a mudaram. Peguei Amelia no colo e a prensei contra parede, beijando seus lábios da maneira mais brutal, descontando a raiva que eu sentia neles.

Eles não eram macios,
Não eram bonitos como aqueles que eu lembrava....
Mas, não podia mais pensar nisso!

A partir de hoje eu não ficaria para trás. Não seria mais visto como o cara terrivelmente apaixonado que levou um chifre e não esqueceu a mulher. A partir de hoje, eu me igualaria à ela e seguiria em frente...

A partir de hoje... Eu estaria noivo.

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