Capítulo Cinco

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Depois de um tempo paralisado com o que acabei de ver, andei em direção a Ashley e ela andou em direção a mim.

- Oi, Dylan. Por quê não me avisou que viria? - Perguntou Ashley com olhar preocupado.

- Surpresa... Ok, não foi por isso. Briguei com Kyler e saí de casa. Voltei pra cá e daqui não saio. Ficar perto de você um pouco mais de tempo. Acho que... Não falta muito né... Mas você está bem melhor, aparentemente.

- É... Eu... É. Acho que sim. - Ela me virou e começamos a andar em direção a casa dela.

No caminho, vejo várias pessoas conhecidas, porém, conhecidas de vista, apenas, não que eu já tenha conversado com elas.
Tempo vai, tempo vem. Ruas vão, ruas vem e enfim, chegamos a casa de Ashley. Ela abre a porta e dá um espaço para eu entrar.

- E seus pais? - Perguntei curioso.

- Eles estão no trabalho agora. Só chegam lá pelas seis horas da tarde.

Sentei no sofá e a vi indo até o quarto dela, talvez para deixar a mochila lá e se trocar. Pouco tempo depois ela volta e eu estou ainda no sofá, mexendo em meu celular. Olho para Ashley e ela estava com um shortinho de casa e uma camiseta florida. Não comentei nada sobre estar muito brega. Eu achava ela linda de qualquer jeito.

- Então. Aquele era seu namorado? - Perguntei sem nenhuma vontade de saber a resposta.

- Aquele é Peter. Fico com ele, mas não namoro. E a propósito, ele é filho da diretora do seu antigo orfanato.

- É eu... Eu sei. Lembro bem dele. Então... É... Tem como eu passar um tempo aqui? É pouco tempo.

- Meus pais não vão deixar, Dylan... Por mais que eu fosse amar você aqui comigo, acho que não vai rolar.

- Seus pais nunca foram de entrar muito no seu quarto né? Então... Deixa eu ficar morando alí... Eu prometo que é por pouquíssimo tempo. Por favor... Estou precisando disso. Só até eu me ajeitar.

- Ajeitar como, Dylan?... Você tem só onze anos de idade. Não vai conseguir uma casa e nem um trabalho.

- Ah, eu trabalho já. Faço batidas de músicas e vendo. Faço tudo aqui pelo celular. Tenho um canal no YouTube com meus Beats. Canal está bombando. Ganho dinheiro vendendo as batidas e ganho o Adsense do YouTube.

- Bom... Fico feliz que encontrou algo que goste. Olha... Três dias, ok? Tem três dias. Se nesse tempo estiver tudo bem, aumento mais três dias.

- Eu sabia que podia contar com você. - Abracei Ashley o mais forte que pude com ela retribuindo.

- Ok. - Disse ela saindo do abraço. - Coloca sua mochila no meu quarto e vai pra cozinha. Vou preparar algo para gente comer. Você deve estar morto de fome.

Fui para o quarto de Ashley fazer o que ela pediu, deixei minha mochila em cima de sua cama e antes mesmo de eu sair do quarto, olho em cima de uma pequena estante e vejo uma foto de Ashley e Peter num porta retrato. Só ficam... Não sei não, mas ok. Não tenho nada com ela, não tenho direito algum de ir tirar satisfação.

Voltei para a cozinha e ela estava preparando omelete para a gente comer. Ela cozinhava com sua mãe desde os seus seis anos de idade, então sabia que aquela comida sairia excelente. Pouco tempo depois nós dois ja tínhamos comido todo o omelete. Eram duas horas da tarde e não tinha exatamente nada para fazer.

- Eu... Vi a foto de você e Peter no seu quarto. Gostei dela. - Falei desviando o olhar.

- Peter disse que vocês não se davam muito bem.

- Difícil se dar bem com alguém que te zoava e queria te bater todo dia. O moleque tem quatorze anos e ta com uma de onze, sabendo que gosto dessa garota. Ou ele está querendo me ver bravo ou só não tem nada para fazer.

- Ou ele gosta de mim. Enfim. Vou ligar a televisão um pouco. Não estou afim de ouvir nada de ciúmes.

Ashley lavou sua parte da louça e foi para a sala ver televisão. Demorei um pouco para me mexer, mas acabei fazendo o mesmo. Fui até a pia da cozinha, pia de mármore, muito linda. Lavei minhas coisas e acabei a encontrando lá na sala paralisada prestando atenção na televisão.

- Ash, eu, é...

- Shh, Shh. - Disse ela fazendo o sinal de silêncio com o dedo em sua boca e logo após apontou para a televisão.

Me sentei ao lado dela, vi o controle no braço do sofá, sofá de couro, preto, perfeito. Aumentei a televisão para a gente ouvir a notícia. O repórter falava assim:

- Pois é, Kleber. Foi quase agora, um homem armado entrou nesse orfanato, "Orfanato Brasil e Amor", e começou a atirar em todos que ele conseguiu achar. Muito parecido com o que aconteceu numa escola aqui perto a três anos atrás. Pois é, Brasil. Onde esse país vai parar com esses vagabundos que gostam de fazer uma coisa dessas com crianças.

Travei, não consegui me mexer, na minha mente veio todos aqueles sons de tiro, minha mãe sendo levada, todo aquele sangue, aquela gritaria, todo aquele meu medo voltou e voltou com tudo.
Ashley olhou para mim, mas eu não conseguia tirar os olhos da televisão. Então foi quando ela tirou o controle da minha mão e desligou a televisão.

- Vem cá. - Ela me puxa e me leva para o quarto dela. - Deita na cama e dorme um pouco. Tenho que ver o Peter, pela mãe dele.

- Você não vai fazer isso comigo, né?...

- Você quer vir junto?... Foi o que pensei. Volto o mais rápido possível.

Pois é, galerinha. Ela foi para Peter e eu fiquei lá com toda aquela merda na minha cabeça, sozinho. Eu voltei lá para ficar ao lado dela e ela fica ao lado de outro. Eu estou rindo aqui, juro.

O que eu faria até lá? O que eu faria até Ashley voltar? Minha internet já estava quase acabando. Mas mesmo assim, fiquei mexendo em meu celular e recebi uma mensagem de Chris:

- E ae, cara. Vai voltar quando para me pagar? Estou precisando do dinheiro.

- E ae, já já estou de volta. Não tem dia certo mas essa semana ainda estou voltando.

Então desliguei o telefone e tentei dormir um pouco para tentar esquecer o fato de que a minha vida estava ruim demais.
Um tempo depois acordei com barulho da porta de entrada e duas vozes. Certamente eram os pais de Ashley. O que eu ia fazer? Ia me cobrir todo pra pensarem que era a Ashley que estava ali?

Não, me escondi de baixo da cama dela, mas antes, claro, arrumei a mesma para não desconfiarem de nada.
Ouvi muitos passos mas nenhum entrando no quarto em que eu estava, ainda bem. Questão de meia hora depois, Ashley chegou em seu quarto e já olhou para de baixo da cama.

- Anda, sai daí.

- Como sabia que eu estava aqui? - Falei saindo dali.

- Você não estava na cama né, gatão. Só deduzi que estaria aí embaixo.

- Como foi lá com o moleque?

- Foi normal, ele está arrasado.

- Nem para ele estar lá, na hora.

- Que horror, Dylan. Isso é coisa que se fale? Bom, tenho que te falar um negócio muito importante sobre a minha doença...

Ai droga, ela certeza que vai falar que está em seus últimos dias, mas não parece. Ela está aparentemente tão bem... Não pode estar morrendo, não dá pra perceber que está.

- Eu não estou doente... Eu fingi aquilo tudo por todo esse tempo.

Porra.

Um Dia Muda Uma Vida (Em Revisão)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora