Capítulo Dois

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Dias depois daquilo eu infelizmente estava num orfanato, todas as noites tendo pesadelos e todos os dias sendo zoado pelas crianças de lá. Mas não sei por que, eles também não tem família. Bom, não uma que os queira.

Meu irmão tentava pegar a minha guarda, tentava muito, mas pelo fato dele passar a maior parte do tempo no seu trabalho e por morar em outra cidade, o pessoal não estava deixando eu ficar com ele.

Duas semanas depois do acontecido eu fui pela primeira vez a escola de novo, mas não a minha. Ela ainda estava fechada e não tinha dia para abrir. Era uma escola particular, bom, então acho que seria difícil acontecer aquilo de novo.

Nunca mais tive notícias de Ashley, ainda pensava que poderia ter acontecido alguma coisa com ela, e de verdade? Não queria perdê-la. Apesar que já nem tinha mais contato algum com a garota.
Fiz algumas amizades no orfanato, claro. Os interessados no "sobrevivente do massacre na escola".
As amizades eram bem legais, na época. Não parecia que estavam sendo amigos meu por eu ter sobrevivido a algo, eu não podia dar nada em troca, só minha amizade com o psicológico já ferrado com oito anos de idade.

Primeiro dia voltando às aulas foi bom, tirando a parte de ter que me apresentar lá na frente da sala toda. Pra que deixam fazer isso? Pelo amor.
Aulas vão, aulas vem, até chegar a hora de ir embora. A van do orfanato buscava e levava a gente. Nesse dia, ela senta ao meu lado. Moon, minha colega de orfanato. Bom, esse não era o nome dela, mas todo mundo a chamava  assim.
Ela é branca de cabelo preto e liso até os ombros, sorriso lindo, branco e bem alinhado. 9 anos de idade. Foi minha primeira amizade no orfanato. E olha só, ela que me chamou primeiro.

- Oi Dylan. Como foi a aula pra você? - Pergunta Moon.

- A...foi legal. Sabe...foi o primeiro dia. - Respondo meio sem jeito.

- Você vai superar aquilo, relaxa.

- Eu sei... - Falo me virando para a janela.

Ficamos em silêncio o caminho todo até chegar novamente em nossa casa, ou, em nosso presídio.
A gente não podia brincar na rua, não podia ligar para nada e nem ninguém, tinha horário para dormir. Era tudo muito rígido.

Saí da van e logo entrei no orfanato. Fui para meu quarto pegar minha toalha e minhas roupas, segui caminho e fui até o banheiro para tomar banho. Banheiro péssimo, não se pode demorar no banho que de quente a água esfria muito.

Saio do chuveiro, abro a porta do box e vejo o zelador lá dentro do banheiro me olhando de cima para baixo, de baixo para cima. Eu só estava de toalha na cintura, mas para os olhos do zelador, eu estava sem nada. Ele fecha a porta do banheiro e começa a vir em minha direção, eu só andava para trás sem saber o que fazer. Eu tinha oito anos de idade e não sabia o que aquele homem queria comigo.

Mas enfim, como vocês imaginam... Pois é. Sinto muito, irei pular essa parte. Foda é que tem certas coisas que não saem da sua mente de jeito nenhum.

Depois daquilo só consegui sentir nojo de mim, não saía do meu quarto, mas Moon arrumava um jeito de entrar lá e me dar um pouco de alimento.

- Dylan, trouxe pra você. - Diz Moon, trazendo um prato de bolo. - Eu não sei o que aconteceu, mas sei que não tem a ver com a sua escola... Você parecia estar bem até voltar do banho...

- Obrigado, Moon. - Pego o prato, morto de fome. - Mas não é nada, juro. - Falo olhando para o bolo e já começando a comer.

- Tudo bem, acredito em ti. Bom... Melhor eu ir, se alguém me ver aqui no quarto dos garotos, já era. Até depois.

Ela sai do quarto e eu continuei comendo o bolo. Termino e crio coragem para ir até a cozinha deixar meu prato lá. Pelo menos sabia que a cozinheira era super de boa, eu poderia ficar conversando com ela por horas e horas.
Mas não faço isso, não estava no intuito de conversar com ninguém, não estava mais à vontade lá. Na verdade nunca estive.

Decido tomar um pouco de ar fresco, vou para o quintal do orfanato, subo na rede e fico lá sentado. Fecho meus olhos e tento me esquecer de tudo o que aconteceu. Mas não dá, nunca dá. Acabei lembrando dos tiros, da minha mãe sendo levada para o hospital já sem vida, lembrei da falta que a Ashley estava me fazendo, lembrei do que me aconteceu hoje...

Que nojo do ser humano.

Pouco tempo depois vem uma sombra cobrindo o sol, abro os olhos e vejo só uma nuvem negra mesmo.

- Que tempo estranho, uma hora faz sol, outra hora faz frio. Acho que ainda hoje vai chover. - Falei para mim mesmo.

- A não. Você está aqui? A não. - Chega Peter até mim. O filho da diretora do orfanato.

- O que você quer, cara? - Digo sem expressão nenhuma.

- Sei que quer morar com seu irmãozinho. Mas sabe? Não vai rolar.

- É? Pelo menos meu irmão tenta alguma coisa. E o seu? Pelo que soube ele está no mundo das drogas. Se continuar desse jeito já já você fica igual a ele. - Digo me levantando.

- Opa, opa, opa. Parou vocês dois. - Esse é o Bryan, o mais velho de nós. Tem 16 anos.

Peter tem 13 anos, cabelo cumprido e é loiro de olhos azuis. É só mais um "Enzo" se passando por "Mandrake". Bryan tira Peter dali a força e volto a ficar sozinho. Meu único momento de paz.
Volto a sentar na rede e olho para o portão do orfanato a minha esquerda.

Ela estava tão linda, sempre esteve na verdade. Eu a vejo e meu coração não sabe se gela ou se pulsa forte.
Seu cabelo cacheado um pouco mais curto do que da última vez que a vi, foi a única coisa que mudou nela.

Mas ela estava ali, na minha frente, viva. Ashley.

Um Dia Muda Uma Vida (Em Revisão)Where stories live. Discover now