Capítulo Três

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Eu não havia acreditado no que tinha visto, eu não tinha acreditado que Ashley estava na minha frente. Eu nunca mais tinha recebido qualquer notícia dela, nunca mais tive contato com ela.

Fui até o portão, cheguei perto dela pela primeira vez desde o acontecido. Fiquei novamente sem expressão, não sabia o que fazer ou o que dizer.

- Oi, Dylan. Eu fiz de tudo pra saber onde você estava. Meu pai me trouxe até aqui. - Diz Ashley apontando para o pai dela. - Eu perguntei para ele se poderíamos te adotar, mas óbvio que ele não deixou.

- Ah, é... Ok. Eu não sei o que dizer. Como você está?

- Eu estou bem, até. Sabe, naquelas.

- Sei, sim. Sei bem. Tanta coisa que quero te contar.

- Infelizmente hoje não vou ficar aqui por muito tempo. Mas tento vir aqui no portão pelo menos três vezes por semana. Tenho que ir agora, vou no médico.

- Aconteceu algo com você?

- Não é nada. Deve ser uma virose boba. Vou lá, beijos. Senti sua falta.

Quando ela foi embora, não consigui deixar de dar um sorriso. Um sorriso de alívio, pelo menos ela... Pelo menos ela estava viva.

De noite, na hora de dormir, deitei em minha cama sem ir ao banheiro antes, não consegui nem sequer chegar perto do banheiro outra vez, e por um bom tempo fiquei assim.

Deitei, dormi, e sonhei novamente com aquilo, tiros, gritaria, sangue, mortes, muito sangue... Minha mãe.

Agora vamos acelerar um pouco mais o tempo, vamos para meus dez anos de idade. No dia em que meu irmão conseguiu minha guarda. Em dois anos foi o melhor dia pra mim, conseguir sair daquele maldito orfanato era uma gigantesca vitória para mim. Mas óbvio, nem tudo é como a gente quer...

Eu tive que me mudar com meu irmão para a cidade onde ele morava, cidade nova, gente nova, talvez vida nova, não sei. Mas Ashley... Eu precisava dela. Eu precisava vê-la pelo menos uma última vez... Bom, última vez por um tempo. Uns oito anos talvez, até eu ser maior de idade e voltar a morar perto dela.

Pedi a Kyler que deixasse eu ver Ashley, então ele me levou até a casa dela. Nesses dois últimos anos, três dias por semana Ashley ia me visitar no orfanato. Falou e cumpriu.
Chegamos a casa dela e ela nos deixou entrar. Meu irmão ficou na sala conversando com os pais dela enquanto eu e ela fomos para seu quarto. Me sentei na cama dela e peguei um pedaço de chocolate que havia ali.
Ashley senta ao meu lado e então fica me olhando.

- Eu fico muito feliz que ele tenha conseguido pegar sua guarda. Vocês vão voltar a morar naquela sua antiga casa, né?

- Então, Ash... É um pouco mais complicado... Eu vou ir morar com ele na cidade dele...

- É sério isso?... - Ashley fica preocupada. - Mas... Mas... Quem vai ser meu melhor amigo?

- Por favor não fique triste, eu juro que nunca vou deixar de falar contigo. E de verdade, é hora das revelações... Eu nunca quis ser só seu melhor amigo... Desde que te conheci comecei a gostar muito de você, mas evitei falar isso. Queria que chegasse um momento certo.

- E acha que o momento certo é logo quando você vai embora?... Uau... - Ashley abaixa a cabeça. - Bom, já que é hora das revelações... Desde aquele dia da escola eu me senti muito mal, coração ficava doendo, acelerando, perdendo a força, tudo num dia só. E é assim até hoje, na época comecei a tomar medicamentos pra isso, mas foi alí que descobri que sou alérgica ao único medicamento que ajudaria isso no meu coração...

- O que está querendo dizer, Ash?...

- Bom... Estou usufruindo muito do que me faz mal, e isso me fez pior ainda. Bom, resumindo pra você: Tenho mais um ano, no máximo... Ou paro de tomar e meu coração para, ou continuo tomando para melhorar meu coração e piorar minha saúde.

- Essa piada foi engraçada. - Eu disse aquilo mas Ashley não reagiu, então ela estava falando a verdade. Ela ia morrer em um ano mais ou menos. Não perdi ela na escola, mas vou perder por doença... - Então é isso... Não te perdi na escola mas vou perder por doença?...

- Não queria que pensasse assim, Dylan...

- E queria que eu pensasse como? Primeiro minha mãe, agora você? Já estou ruim demais psicologicamente, se você morrer eu pioro, se é que tem como piorar.

- Pede para o seu irmão comprar um celular para você, ou ele pega meu número, tenho um celular agora. Vamos conversar todos os dias, aproveitar cada momento do jeito que dá.

Alí eu não me segurei, abracei Ashley o mais forte que consegui, o que não era muito, e ela me abraçou também. Lágrimas escorriam dos nossos olhos, meu coração não sabia se parava de bater ou se batia rápido. Mas batia bem descompassado.
Afastei um pouco nossos rostos, olhei ela nos olhos limpando suas lágrimas com minha mão.

- Isso vai passar! - Afirma ela, mas não dou muita importância. Dei um pequeno beijo em sua boca e voltei a abraça-la.

- Eu te amo, Ashley. De verdade. Não quero ficar sem você.

- Eu sei, Dylan. Também não quero ficar sem você. - Um silêncio no meio do abraço. - ... Eu também te amo, Dylan.

A gente para o abraço e então ela se levanta da cama, vai em seu guarda roupa e pega uma pequena caixa.

- É para você. Tem por escrito nossos melhores momentos juntos. Quando sentir saudade leia e sorria. Porque é assim que quero me lembrar de você, de você sorrindo, de você rindo. Isso que aconteceu na escola mudou a vida de muita gente lá, principalmente daqueles que perderam alguém... Mas não deixe isso atrapalhar seu futuro, ok? Promete pra mim? Promete que vai fazer muitas coisas aleatórias na sua vida até descobrir o que gosta?

- Eu... Eu prometo, Ash. Eu prometo. Promete ficar um ano comigo, um ajudando o outro? Apoiando o outro?

- Claro que prometo. - E então nos abraçamos mais uma vez.

Passou um pouco mais de tempo, de conversas aleatórias, Ashley pega seu celular e começa a tirar fotos da gente, fotos engraçadas, fotos normais, fotos... Apenas fotos. De Ashley e eu.

Um Dia Muda Uma Vida (Em Revisão)Where stories live. Discover now