Julieta Belmonte tem plena convicção de que a sua amizade com Romeu Martinelli não possui a mínima chance de se colorir.
Com dezessete anos e várias experiências amorosas que foram um tremendo fiasco, a última coisa que Julieta queria era se apaixo...
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Apesar de ter tentado a todo custo convencer Romeu de que dormir era necessário para que nossos corpos estivessem descansados o suficiente para o que íamos fazer na tarde do dia seguinte, maratonar uma temporada inteira de The Big Bang Theory durante a madrugada lhe pareceu muito mais atrativo. E não me orgulho em dizer que para mim, também.
Portanto, assim que o portão da sua casa se abriu cerca de uma dúzia de horas depois e o retângulo metálico deu lugar ao meu melhor amigo, não me surpreendi ao notar instantaneamente os óculos aviador pendendo no topo do seu nariz. Minhas vistas também estavam escurecidas graças às lentes pretas do meu, o qual escolhi colocar para esconder as olheiras, que pesavam como se houvessem dezenas de micro pastilhas de chumbo refugiadas debaixo dos meus olhos.
Para afugentar o cansaço que turgia minhas células graças a esta noite mal dormida e, também, às muitas outras analisando a caixa da minha mãe, preparei uma dose generosa de café e enchi um dos inúmeros copos com tampa da minha coleção com o líquido fumegante. Deveria ser suficiente para manter meu cérebro e o de Romeu devidamente acesos durante a nossa expedição rumo à possível casa de Miranda.
O meio de tarde estava fresco, carregado da eletricidade silenciosa que agita o ar no prelúdio de tempestades, com suas correntes invisíveis feitas de luminescência enroscando-se no meu cabelo e vibrando minhas células. O céu se erguia em um amontoado disforme de nuvens cinzentas enquanto caminhávamos lado a lado pelo centro da cidade, mirando o mundo por trás de dois pares de óculos escuros, cabelos não tão arrumados e roupas despojadas que denunciavam toda a nossa preguiça.
— Parecemos dois delinquentes que se chaparam muito noite passada e estão fodidos de ressaca. — Romeu comentou, com um riso escondido.
Seus dedos escorreram despretensiosamente por entre os meus, abraçando-os em uma torrente de calor macio.
— Ou dois membros de uma gangue. — sugeri.
Inclinei o rosto para fitá-lo, erguendo a sobrancelha ao analisar mais uma vez o conjunto de calça jeans desbotada pelas inúmeras lavagens abraçando suas pernas, cujo cinto se escondia parcialmente debaixo da blusa com a estampa de uma banda que com certeza era Kiss. Para a maioria que passasse, não seria possível ter completa certeza, considerando as laterais da logo ocultas pela jaqueta que lhe recobria os braços. Mas eu possuía uma idêntica.
Tínhamos comprado as peças iguais há quase dois anos, depois de meses compartilhando um fone de ouvido chiado no nosso período de surto fanático pela banda em questão, quando passávamos as tardes depois da escola no quarto de Romeu, deitados na cama com a cabeça pendendo na beirada, observando o mundo de cabeça para baixo enquanto as notas agitadas reverberavam pelos nossos ouvidos, em meio a uma desordem errante de livros, embalagens de doces e nossos sapatos jogados de qualquer jeito ao longe.
Romeu riu do meu comentário a respeito da possibilidade de parecermos gangsters por pelo menos vinte segundos.
— Você está com um par de meias de gatinho, jujuba.
