7: Mais Assustador Que Bactérias Comedoras de Neurônios

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— Acha que eu deveria sair com Carolina Ribeiro?

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— Acha que eu deveria sair com Carolina Ribeiro?

A pergunta do meu amigo me fez desviar o foco do papel que o lápis preso por entre meus dedos castigava no porta-luvas do carro, para fitá-lo.

A luz ensolarada que explodia em vislumbres solenes do teto do veículo deslizava pelos contornos do seu rosto, dissipando as finas sombras dos cílios ao longo das miúdas galáxias de sinais nas suas bochechas. As mechas do seu cabelo pressionavam o assento do banco do motorista, e suas orbes se mantinham fixas na tela imensa do cinema drive-in que se erguia à nossa frente, exibindo os trailers de filmes que precediam o que estávamos prestes a assistir debaixo das centenas de estrelas que crepitavam no céu noturno acima das nossas cabeças.

O chão sob meus pés cobertos pelos tênis rabiscados estava recheado de bolas amassadas, das folhas que eu descartara em meio às minhas tentativas de esboçar alguma coisa. Porém, todos os contornos do que tentava montar viravam amontoados de traços disformes que não faziam qualquer sentido, perdendo o foco diante dos meus olhos.

Já tinha percebido, àquela altura, que minha falta de concentração não me deixaria desenhar muita coisa, mas não custava nada tentar. Não fazia ideia do que estava me deixando tão aérea, somente que começou pouco depois de Romeu mencionar o nome de Carolina Ribeiro pela quinta vez no intervalo dos trinta minutos que estávamos no cinema, ansioso para que eu dissesse algo à respeito dela; de preferência negativo, para que ele se barrasse de convidá-la para sair.

Sabia disso porque Romeu funcionava desse jeito; sempre em busca do lado ruim de algo que não queria muito para usar como justificativa para desistir daquilo. Mas não era do meu feitio fazer esse tipo de coisa. Se ele queria sair com ela... que saísse, oras. Eu não dava a mínima.

No entanto, o que saiu dos meus lábios acabou sendo um pouco diferente, certamente em decorrência da minha paciência já estar no limite pela sua rara tagarelice aguda impossibilitar minha concentração.

— Por que quer sair com ela? Tipo, ela te chamou ou algo assim? Ou só está se obrigando a cumprir um daqueles papéis sociais sobre ser um garoto, que você odeia, por sinal?

Ele encolheu levemente os ombros, e eu senti uma pontada de culpa por ter usado uma entonação tão séria. Romeu facilmente levava as coisas para o lado pessoal, julgando a si mesmo como o epicentro de todos os problemas de universos que sequer habitava.

— Ela me deu o número dela hoje cedo, na lanchonete. E, sei lá, acho ela bem bonita. Talvez seja... uma boa ideia. — Levou a palma ao cabelo, sacudindo os fios em um gesto inquieto, que, mesclado à pequena careta que seu nariz esboçou, me fez constatar o quanto a ideia não o agradava verdadeiramente.

— Ei, por que você não me parece muito animado? — Forcei-me a soprar um riso, dando um mini soco no seu braço.

Suas íris recaíram para o meu rosto, e ele passou a língua rapidamente pela parte interna do seu lábio inferior. Na vastidão interespacial ao redor das suas pupilas, nadava uma miscelânea de coisas incompreensíveis que se enovelavam entre si.

O Fantástico Mundo de Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now