19: As Mesmas Constelações

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Julieta permaneceu em silêncio durante toda a caminhada até a sua casa

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Julieta permaneceu em silêncio durante toda a caminhada até a sua casa.

Ela pediu para que fôssemos lá primeiro, porque queria se livrar, por hora, da mochila que pesava feito um casco de tartaruga gigante nas suas costas. Eu não fazia ideia do que poderia estar pensando, porque nunca havia estado em uma situação semelhante. Não sabia, naquele momento, se o melhor era lhe dar espaço ou permanecer ao seu lado, mas julgava que deveria ser a segunda opção, já que tinha me pedido para continuar com ela.

Não me considerava uma pessoa excelente em dar conselhos ou confortar outro alguém, porque nunca consegui ser muito bom na arte das palavras faladas. Somente a palavra escrita me entendia como sou, embora eu não o fizesse. Já fora até mesmo repreendido por um amigo, que alegou que eu era um completo cubo de gelo insensível para cacete diante da situação trágica do término de um dos seus antigos relacionamentos, porque não consegui lhe dar alguma dica incrível de superação. Disse-lhe apenas que o tempo costuma se encarregar dessas coisas. Genérico e estupidamente clichê, mas não consegui pensar em nada melhor enquanto o infeliz esmurrava o meu travesseiro e xingava palavrões que sequer deveriam existir.

Por isso, não sabia o porquê de Julieta querer a minha presença em um momento como esse. Quer dizer, normalmente as pessoas anseiam por frases bonitas e conselhos incríveis para amenizar algum sentimento ruim, não é?

De fato, achei incomum, apesar de saber que minha melhor amiga nunca fora previsível. Julieta seria capaz de fugir de casa algum dia com apenas uma mochila nas costas, deixando somente os lençóis bagunçados da cama para trás, um estoque semi-infinito de comida para seus bichos e alguma pintura inacabada pendendo estrelas no seu cavalete, daquelas que pescava dos limites do Sistema Solar todos os dias antes de dormir.

Ela falava disso às vezes, enquanto suas pernas se misturavam às minhas sob o revoar diáfano que o tecido da sua cortina fazia e os dedos traçavam arabescos inventados por entre as ondas do meu cabelo. Um dia eu vou embora daqui, e se ria, sem ter noção do quanto meu coração se fragmentava em pedaços pequenos demais para serem pegos com uma pinça só de cogitar essa ideia. Mas prometo que nunca vou deixar de te mandar cartões postais.

Minha revoada de pensamentos se desmanchou logo que ela abriu a porta da frente da própria casa. A sala repleta de velharias nos recebeu, e detectei Tom sentado no sofá assistindo algum jogo de futebol, com uma garrafa de cerveja nas mãos e uma vasilha de salgadinhos de queijo ao seu lado no estofado.

— Oi, pai. — Julieta cumprimentou, atraindo a atenção do homem, que a fitou por trás do par de lentes grossas dos seus óculos.

Ela não esperou pela sua resposta, apenas subiu os degraus da escada em uma velocidade alucinante.

O foco de Tom deslizou para mim, e suas íris castanhas se converteram em um poço de interesse súbito.

— Tudo bem, Romeu?

O Fantástico Mundo de Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now