11: Elétrons e Como Eles Rodopiam

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Durante toda a minha vida, admito que já tive ideias possivelmente boas

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Durante toda a minha vida, admito que já tive ideias possivelmente boas. Talvez, algumas raríssimas nesse meio que foram quase geniais.

Porém, do outro lado, existia um caminhão inteiro de outras extremamente ruins, do tipo que soavam tão bizarras quanto comer de cabeça para baixo enquanto se tenta plantar um pé de alface tocando uma flauta.

Especialmente, as que tive enquanto estava sob influência dos efeitos bizarros para burro que a presença da Julieta me trazia, a qual possuía a habilidade quase sobrenatural de fazer todo o raciocínio lógico que demorei quase dezoito anos para construir ser reduzido ao tamanho de um ovo de pombo.

Talvez, eu estivesse submerso no Efeito Julieta quando propus uma amizade colorida para ela, porque me parecia ser a única explicação plausível para isso ter saído de mim. Não que eu nunca houvesse pensado sobre essa possibilidade, mas possuía bom senso o suficiente para nunca sequer cogitar externalizá-lo.

Lembro-me de quando as mechas do seu cabelo tinham cor da terra molhada depois da chuva e lhe escorriam em um dilúvio de ondas até os ombros, balançando sob o vento marítimo da praia nas tardes que costumávamos passar no litoral antes de começarmos a nos ocupar demais com os afazeres da vida comum.

Ali, só parecia existir nós dois no universo inteiro e um punhado de areia nos dedos. Minha amiga se divertia traçando desenhos no chão com os pés descalços, e seu par de olhos de coruja vivia caçando conchas e outras coisas que pudesse guardar.

Talvez, tenha sido durante aquelas tardes, que duraram com constância até os nosso quatorze anos, que eu percebi que Julieta Belmonte poderia acabar comigo com uma facilidade indescritível.

Essa percepção alarmante veio acompanhada da certeza — mais do que absoluta — de que as coisas nunca ultrapassariam o limite tênue da amizade entre nós, porque eu sentia que, se acontecesse, tudo o que tínhamos se converteria em ferrugem.

Nessa época, ela já colecionava alguns corações na sua estante, pertencentes a todos os caras por quem já havia tido interesse recíproco. E, observando bem por trás das minhas lentes corretivas, eu claramente não era o seu tipo.

Não que essa certeza me afetasse de algum jeito semi-fatal. Gostava de como nossa amizade era, e não estava muito interessado em ferrar com isso por causa de um amontoado de hormônios em profusão.

Então, comecei a minha jornada quase épica para tentar me tornar o-máximo-por-cento imune à ela. E eu achava que tinha conseguido esse feito, ao ponto de pensar que a ideia de sugerir beijá-la, vinda de algum canto parasita do meu cérebro que achou incrível o enredo do filme Amizade Colorida, era genial.  

Não seria nada demais, foi o que me disse. Julieta quer ser beijada, e às vezes você pensa em beijá-la, mas sem qualquer outra coisa por trás, é óbvio. Já superamos isso, está tudo bem, garantiu.

O Fantástico Mundo de Romeu e JulietaWhere stories live. Discover now