2: A Matéria dos Sonhos

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Existiam poucas coisas no mundo capazes de tirar a minha paciência

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Existiam poucas coisas no mundo capazes de tirar a minha paciência.

Não era como se eu fosse um coach super-ultra-mega-evoluído ou um monge budista fodão. Muito longe disso, aliás; apenas era o tipo de cara que tentava manter a paz de espírito e não transformar minha cabeça em uma amostra crepitante da atmosfera de Vênus — apesar de, muitas vezes, não conseguir.

A questão é que existem aquelas coisas na vida que, por mais que se tente fingir que não dá a mínima, você sabe que seu único desejo é juntar toda a população mundial num cômodo fechado e despejar algum gás tóxico exterminante, lançando o dedo do meio para toda a humanidade.

Acordar com gritos era uma dessas coisas. E foi exatamente o que aconteceu naquela manhã de quinta, na qual eu fui catastroficamente desperto por um berro que despejava meu nome da forma mais abrupta possível.

Após o som estrondoso ecoar e quase me fazer cair para fora da cama, ouvi o reverberar da porta se chocando contra a parede quando foi subitamente aberta, revelando o que — pelas minhas vistas embaçadas — pareciam ser as feições enfurecidas da minha irmã.

— Onde cacete você botou o meu secador? — Foi a primeira coisa que disse.

No mesmo instante, Julieta enfiou a cabeça para fora do lençol, mirando a origem do barulho com os lábios curvados para cima. E, assim que Cordélia notou a presença da minha amiga, parou todo o movimento que fazia para fitá-la com as sobrancelhas estreitas sobre as íris que cintilavam curiosidade.

— Julieta?

— Não, a pantera cor de rosa, cacete. — resmungou a garota ao meu lado, virando-se de barriga para cima e esfregando os olhos com ambas as mãos.

Julieta Belmonte era o tipo de pessoa inexplicável, como um fenômeno brilhante que corta o céu noturno com um brilho infindável e te deixa incapaz de parar de olhar. Ela era meteórica, estelar, iridescente e todas as outras coisas capazes de reluzir. No entanto, se eu fosse buscar a melhor definição possível para ela, com certeza diria que era o ser humano mais estranho que meus olhos já tinham visto.

Julieta vivia correndo para lá e para cá com suas meias berrantes até os joelhos, combinações de roupas que com certeza já tinham saído dos manequins há muito tempo — se é que um dia estiveram lá — e a coletânea de ideias mirabolantes que vagavam pela sua cabeça feito uns planetas loucos.
 
Se tivesse me dito que era uma alienígena quando nos encontramos pela primeira vez, eu com certeza não teria duvidado. Especialmente no primário, quando era a criança mais alta de toda a turma e reduzia uma porrada de valentões a um bando de amebas assustadas só sendo ela.

— Eu sempre soube que vocês se pegavam muito loucamente! — Lia voltou a falar, achando sua falsa constatação bizarramente fascinante.

Bufei, sem saber ao certo se estava com mais vontade de arrancar minha própria cabeça graças à vergonha ou a de Cordélia pelo modo incisivo como suas orbes faiscavam no meu rosto, à espera de uma resposta.

O Fantástico Mundo de Romeu e JulietaKde žijí příběhy. Začni objevovat