Capítulo 12

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Zeke

Sinceramente, sempre gostei de viajar de carro, sou o primeiro a me acomodar no banco atrás do motorista, ajeitando os fones, passo o cinto e espero até o papai dar a partida.

Todo o percurso fico olhando para a paisagem do lado de fora, tudo parece tão calmo. O único problema é que se eu tirar os fones sou obrigado a suportar minha família.

- Eu já falei que não sabia! - o papai começou a repetir isso incansavelmente a umas duas horas mais o menos. Ele parece bastante irritado - nós tínhamos certeza que as aulas de vocês dois só voltariam na semana que vem!

- Não! Eu falei que era essa semana! Vocês nunca me escutam!

- Eren! Não grite com seu pai! Mais onde foi que esse menino aprendeu a agir assim!?

Como eu disse é difícil suportar minha família. O que aconteceu foi que o Eren acordou o papai umas duas e meia da madrugada, para arrumar as malas, porque a gente deveria voltar para casa o mais rápido possível.

O Eren está bem animado com a ideia de conviver com o Armin de novo, acho que esse deva ser o principal motivo do meu irmão não aguentar esperar mais um dia sequer.

Porém tem mais coisas que acontecerão hoje, um bom exemplo disso é a convocação dos novos membros do time, o Eren passou nos testes ano passado, agora ele vai começar a ficar até mais tarde para participar dos treinos junto comigo e o resto dos jogadores.

- Hei! - o mais novo se agarra a mim, me balançando até que o fone escorregue pelos meus cabelos e caia no meu colo. Encaro Eren com o cenho fechado e sem dizer nada - acha que a vovó e o vovô vão ficar chateados? Nos saímos no meio da madrugada sem avisar...

- Só se lembrou deles agora?!

- Zeke, você foi se despedir deles? Sabe o quanto seus avós se importam com você.

- Sim. eu fui, pai.

- Por que eles só se importam com o Zeke? E eu?!

- Eren... - interrompo suas vozes ao colocar meus fones novamente.

É sempre bom visitar meus avós, sou grato a eles por terem cuidado de mim depois que a Daina nos deixou. Não apenas nessa vida, mas na outra também quando entreguei meus pais a Marley, meus avós sempre cuidaram de mim.

Talvez seja por isso que é tão difícil encara-los, afinal eu pude ver o fim que eles tiveram. Enquanto meu irmão tinha tomado o controle e estava liderando o estrondo, eu estava preso nos caminhos, mas ainda podia ver tudo o que estava acontecendo no mundo real.

Eu vi meus avós em uma cela de prisão em Liberio, devem ter sido levados para lá depois de Marley descobrir sobre a minha traição. Quando o estrondo chegou até onde eles estavam, eles só aceitaram seus destinos por mais cruel que fosse, ainda me lembro de poder ouvir as últimas palavras de meu avô...

Mas isso não se aplica apenas a eles, as vezes encontro pessoas que não conheço, mas que de alguma forma me lembro nitidamente de suas expressões de sofrimento e desespero ao vivenciarem aquele maldito dia.

Outro exemplo, por causa da Lya fiquei próximo de Mike e Erwin, mas aos ver nas primeiras vezes, me vinha a mente o momento de suas mortes, e o peso na consciência de que o responsável por aquilo havia sido eu.

Dói muito conhecer essas pessoas, falar com elas, ser tratado como amigo, receber seus sorrisos e sua confiança, mas sei que isso é porque nenhum deles se lembra das atrocidades que cometi.

Dói carregar o peso do mundo nos meus ombros... E aí quando olho para meu irmão, eu agradeço por ser eu a me lembrar de tudo e não ele, a pressão psicológica das vidas que se perderam por nossa causa é grande de mais, não sei se o Eren suportaria esse fardo.

Freedom Wings - Zeke YeagerOù les histoires vivent. Découvrez maintenant