capítulo 1

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No início, tudo era tão... Despido. Meus olhos pareciam envolvidos por uma penumbra densa e impenetrável da qual não conseguia emergir. Vozerios abafados ecoavam, como se eu estivesse mergulhada em águas profundas... Água? Eu estava submergindo até pouco tempo atrás, não é?

A escuridão e o azul, as profundezas do oceano... Havia alguém que sempre falava sobre o mar... Quem seria ele? Aquele rapaz loiro, de olhos azuis, tranquilos e serenos, como a superfície calma do mar.

Completamente oposto ao outro, seus olhos... azuis acinzentados, eram turbilhões, profundos e por vezes pareciam tão vazios. Eu me perdi tantas vezes neles, afogando-me e retornando por desejo próprio. Nunca implorei para ser salva; eles eram hipnotizantes. Eu os amava mais do que tudo, ou talvez amasse a pessoa que os abrigava.

Recordo-me de cerrar os olhos e sentir meu corpo flutuar, envolto, o peso da água sobre mim era avassalador, meus pulmões ansiavam por ar, como se eu estivesse tão alto que a respiração me faltasse. Observo a destruição, o mar vermelho que forjei a cada passo dado sobre a terra. Questiono-me se essa foi a sua visão, meu amigo. Ao concluir sua jornada, também experimentou esse alívio no peito?

Finalmente. Finalmente, cumpro a promessa que lhe fiz, e agora, o que se desenrola? Subitamente, meu corpo despenca do alto, e ao atingir a água, percebo que é como se caísse sobre o chão de concreto, rígido e gélido. Em instantes, submergirei novamente, mas desta vez estarei... sem vida...

Aqui é cálido, como se centenas daquelas entidades estivessem exalando vapor para me manter à distância.

Qual era mesmo o meu nome? E será que isso realmente importa?

Mantenho-me serena; de fato, apreciava aquele lugar. Era solitário, mas incrivelmente reconfortante, como se nenhum mal do mundo pudesse me atingir. Sim, era exatamente isso; aqui, não preciso mais lutar, não sou mais uma combatente.

Levi, enfim, poderei encontrar descanso!

Espera! Quem é... Levi?

22/09/2000

— Como ela está? - uma das vozes abafadas indaga, e ela parece tão próxima.

— Senhor Lucc, este é um procedimento arriscado, mantenha distância! - ouço o som de metal batendo e os gritos de uma mulher.

O que está acontecendo?

Por que estão mexendo comigo?

Por que querem me tirar daqui?

Não veem que finalmente posso descansar?

Eu já me cansei de lutar. Por que não me deixam morrer em paz?

— Querida, aguente firme - a mesma voz masculina de antes, seu tom mostra que está preocupado, mas ele também parece estar tentando reconfortar alguém - Nossa menina está quase chegando.

— Doutora Amity, agora preciso que faça o máximo de força - dessa vez era uma voz feminina que falava, ela era calma.

— Eu não consigo mais... - percebo que essa, diferente da anterior, está em agonia, quase chorando - Me levem para o centro... Cortem de uma vez... Eu não consigo prosseguir com isso... - ela gritava de dor a cada frase dita.

— Não dá. A criança já está encaixada, só precisa fazer força!

— Amity, somos colegas de trabalho há anos, você já fez dezenas de partos, sabe muito bem como isso funciona.

— Faça força. Não temos condições de iniciar uma cesariana agora. Se não cooperar, isso pode acabar se tornando perigoso para você e para o bebê.

Freedom Wings - Zeke YeagerWhere stories live. Discover now