Cap.10: Hold On

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Atlanta - GA

P.O.V Angel 18:49 p.m.

A chuva tinha diminuído muito em comparação a meia hora atrás, apenas os trovões e relâmpagos tomavam conta do céu naquela noite. O cheiro de mofo daquela casa parecia ir ficando cada vez pior.

O Justin conversava pelo celular perto das escadas e até onde pude ouvir bem, ele estava falando sobre uma comida que não havia chegado.

Vê-lo se movendo, fazendo gestos com as mãos e falando diante de mim deixava tudo muito mais perturbador, pois ainda não conseguia acreditar que ele estivesse vivo.

Como ele estava sem camisa uma coisa que não pude deixar de perceber foram as diversas marcas em suas costas. Tinha algumas tatuagens que eu acreditava serem novas, pois não tinha lembranças de nenhuma. E sobre as marcas, eram estranhas e até mesmo difícil de falar do que poderia ser, mas na minha cabeça eu tinha o pensamento de que seria marcas de violência.

— Então cancele essa merda, caralho! — Ouço ele surtar pelo celular e enrugo a testa. Depois vi ele passar uma mão na cabeça e suspirou. — Tá bom. — Ele desligou e me olhou, guardando o celular no bolso. — Nesse inferno de chuva os serviços delivery estão suspensos. — Arqueei uma sobrancelha e fiquei sem entender. — Tinha pedido comida, mas pelo visto terei que ir comer em outro lugar.

Fiquei em silêncio e muito quieta. Eu não sabia nem o que falar diante dele. Estava nervosa, assustada, tímida, com medo e pior, estava muito confusa.

— Tome. — Quando lhe olhei novamente vi o mesmo me dando um cobertor grosso e seco.

— Pra que isso?

— Eu não esqueci que uma vez você levou 20 minutos de chuva e desenvolveu uma pneumonia. — Arqueei as sobrancelhas quando parei pra lembrar e de fato foi verdade, num acampamento da escola. — Tome.

— Obrigada. — Me envolvi no cobertor e ele sentou no centro da sala me olhando. — Posso te fazer uma pergunta? — Ele enrugou a testa e concordou com a cabeça. — O que são essas manchas nas suas costas? São algum tipo de cicatrizes? — Sua expressão mudou e seu olhar ficou mantido em mim por alguns segundos. Parecia que a pergunta tinha lhe atingido.

— São cicatrizes. — Respondeu sem devaneios. — Tenho também nos pulsos. — Ele estendeu os braços e pude ver na região do pulso, de ambos antebraços, algumas marcas. Que loucura.

— O que aconteceu? — Perguntei com um aperto no peito por imaginar uma coisa muito ruim. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, pensando se iria falar ou não. Fiquei até tensa com sua expressão.

— Isso são marcas de quase 3 anos de tortura. — Fiquei imóvel a sua resposta. Automaticamente coloquei uma mão na boca. Ele falou com um tom árduo e triste, lembranças horríveis devem ter consumido sua mente naquele instante. — E essas marcas são prova da minha resistência. — Detalhou bem essa parte.

— Por quê fizeram isso? Quem te torturou?

— É uma longa história e eu quero muito te contar. — Confessou de maneira inquieta. — Mas antes eu quero sair pra jantar com você. — Aquilo mudou completamente o contexto da conversa e o clima entre nós.

— O que?

— Não é nesse sentido... — Tentou se explicar e continuei lhe ouvindo. — É porque tô sem comer o dia todo e sinto que se não colocar comida no meu estômago eu vou cair verde durinho aqui no chão. — Arregalei os olhos e fiquei confusa, mas pela cor da sua esclera nem precisei ser um gênio pra entender bem a razão pela qual ele não tinha comido nada hoje. — ... E aí eu lhe conto tudo. Tá bom? — Arqueei as sobrancelhas e fiquei de pé.

Last Chance: Dangerous BackWhere stories live. Discover now