Filho da mãe!

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      Meus olhos não se recuaram em ver Murilo em pé saudável. A turma inteira ficou admirando seu novo visual, que está impecável por sinal, mais admirável e belo que antes. Ele se senta algumas classes a frente da minha, pegando um de seus cadernos e copiando o que perdeu nas aulas passadas, tentei arranjar uma oportunidade para ir lá ver como foi seus dias de recuperação. Acabei não indo vê-lo.

      A aula continuou e a poeira baixou com todo escarcéu que rolou mais cedo, percebo que a professora ficou sem jeito com a visita inesperada. Sara que estava ao lado de Murilo, transpareceu sentimentos obscuros e maldosos em seu respeito. A insatisfação era bem clara ali, assim como a quietude de Félix e James. Murilo não se sentia a vontade tanto ao lado de Sara quanto estar em um ambiente cheio de inimigos.

       Logo em seguida o triozinho da discórdia começou a se comunicar discretamente, com ida e vinda de papéis voadores. Acho que a trama estava interessante, pois as expressões faciais pareciam de um certo modo, desesperador.

       — Nem fodendo que faço isso! - Félix cochicha para James em ler o folheto -

       — Mas você não tem escolha, é isso ou ser apedrejado na frente da escola inteira. - ele retruca -

      O que estão tramando agora?

       — Murilo, se importa de resolver essa questão no quadro? - a professora interrompe o clima -

       — De maneira alguma. - ele se dirige até lá -

      Seus passos lentos e mancos tomam risos baixos de uns dos alunos, ele não se recuperou totalmente do coma. Quando o quadro está bem próximo dele, sua mão se locomove até a lousa e escolhe uma caneta da cor de sua preferência. Senti preocupação logo que vi suas mãos trêmulas e a respiração fraca, meus sensos estavam aguçados no momento.

      Finalizando a resolução, ele retoma para sua classe e com os olhos cheios de vergonha. Nunca vi esse garoto tão pra baixo assim, o que fizeram contigo, Murilo?

       — PORRA, CARA. POR QUE FEZ ISSO?! - vejo ele caído ao chão -

       — Quem foi o palhaço, hein? - digo já me aproximando dele e ajudando a se levantar -

       — Valeu, Benji. - ouvir seu tom de voz doeu meu coração, mais que a surra que ele levou -

       — Tá bom, já chega pessoal. Vamos continuar a aula que vocês já estão atrasados na matéria! - a professora indaga ignorante -

       — É melhor irmos para a enfermaria. - solicito preocupado -

       — Não precisa, estou bem, de verdade. - sinto seu toque suave nas minhas costas -

       — Eu insisto, por questão de cuidado. - permaneço persistente -

       — Vocês dois estão com alguma dificuldade de atenção ou vou ter que repetir? - sua voz me deixa cada vez atordoado -

       — Estamos de saída - respondo paciente - não é legal mostrar desinteresse em um aluno pós-hospitalizado.

       — Benji, ele pode ir muito bem sozinho. Pelo que eu saiba, suas pernas estão intactas. - Sara se intromete como esperado -

       — Estamos indo, professora! - o puxo comigo enfurecido -

...

       — Benji, tu estás bem? - ele para no meio do caminho e me olha assustado -

       — Estou Murilo, o importante agora é preservar sua saúde.

       — Eu não quero que você se prejudique por minha causa, volte para a sala. - ele insiste -

       — Olha, Murilo - me aproximo mais dele - eu fui covarde, admito. Mas não vou cometer o mesmo erro, eu prometo!

       Ele não diz nada, apenas me abraça e continua a andar pelo corredor até a enfermaria. Fico uns instantes parado observando-o de longe, minhas palavras não foram planejadas. Dizer aquilo para ele de alguma forma me confortou, o peso da culpa ainda está martelando em minha mente.

      Realmente ele estava me causando prejuízos mas era por uma boa causa, não me importo de ajudá-lo em se estabilizar novamente.

       — Eu irei ter que avisar algum familiar seu, no estado que tu estás não dá pra ficar sozinho. - ouço distante a conversa dos dois -

       — Olha doutor, eu estou bem, ok? Não há a necessidade disso, meus pais estão ocupados e minha irmã tem muitos plantões. Eu juro que avisarei se precisar de alguém! - já imagino o biquinho que ele esteja fazendo agora -

       — Isso é como um tiro no escuro, não quero arriscar.

       — Eu fico com ele. - digo decidido -

       — Benji, o que....

       — Você? - ele franze o cenho - Tá de brincadeira, né?

       — Não, estou falando sério. Eu já o conheço bem e a irmã dele iria apoiar minha ajuda. Deixa por favor, Carlos. - junto minha mãos e imploro até escutar um " sim " -

       — Vou falar com seus pais pra ver se eles estão de acordo com isso e assunto encerrado!

       Eu e Murilo concordamos calados enquanto ele entra em contato com meus pais, nada poderia explicar a alegria que estava sentindo ali.

       — Tudo bem, vocês estão liberados. Só você que irá ficar um pouco mais comigo - ele se refere a Murilo - preciso checar seu estado físico.

       — Te vejo na saída então! - sorrio sem perceber em dizer aquilo -

      Meu rosto estava corado e minhas mãos suavam sem parar. Estive ansioso por este dia chegar e ver ele poder ir na minha casa. Magnífico, não é?

      Permaneci vidrado no relógio e parecia que o tempo não passava, os minutos viraram horas.

       — O que deu em você, hein? - Sara percebe meus risos baixos -

       — Esse sorrisinho malandro e a cara vermelha, aí tem coisa. - Bia se aproxima colocando um colar em mim -

       — O que é isso? - pergunto curioso -

       — Um presente que você terá que guardar até chegar um momento certo.
      
       — Momento certo pra quê?

       — Eu sei que é pra mim danada, não adianta disfarçar. - Sara brinca com o acontecido -

       — Guarde, ok! - ela frisa novamente -

      Concordo com um belo sorriso no rosto e um piscar de olhos, o colar é muito bonito por sinal. Mas quando observo de novo, vejo um detalhe que não vi antes. Um suposto chip estava infiltrado na dobra do colar, Beatriz era boa em esconder qualquer coisa.

      Ela me olha de canto e sinaliza para que eu escondesse aquilo o mais rápido possível, nem por um acaso nós poderíamos perder o que está guardado ali.

       — Que tanto você olha pro relógio? Está atrasado? - sou questionado por Sara -

       — Não, só estou apressado para ir pra casa logo. Estou cansado e quero dormir mais um pouco, hoje eu fui o alvo dos professores, não é fácil aturar.

       — É, né? Sinto até pena de você que....

      Só mais um pouco, aguente firme!

In the face of chaos, you' re the only light I see at the end of the tunnel.

The Price of a LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora