Zona de conforto

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      Antes do meu último suspiro, a única coisa que eu me questionei foi:

      Se eu tivesse me afastado, seria diferente?

      Queria ter a oportunidade de saber, a bola de neve foi crescendo cada vez mais e eu com uma mente fraca, me deixei levar sem pelo menos tentar.

...

      Novamente em sala, a professora de filosofia propõe um trabalho em grupo. O pessoal formou rapidamente seus grupinhos antes mesmo de saber o número de pessoas. Patty, Bianca, Brenda, Sara e eu já estávamos certos de fazermos juntos, sempre foi assim.

       — Pessoal, se organizem em grupos de até cinco, no máximo seis! - ela informa -

       — Sora, eu não conheço muito bem o pessoal, em que grupo eu fico? - ouço a voz fraca de Murilo de fundo -

      Claramente ele estava se sentindo deslocado ali, em hipótese alguma alguém iria convidá-lo para isso. Me senti tão mal por ele que tomei uma decisão sem pensar:

       — Vêm pra cá, Murilo! Entre no nosso grupo, está faltando um aqui! - dou um tom no qual ele ouça -

       — Por que você o convidou, Benjamin? - Sara fica incomodada com minha decisão - Nós nem sabemos se ele se compromete com o trabalho, quando vê ele é um desses escorados que não fazem nada e só querem ficar nas nossas costas.

       — Calma gata, ele não conhece ninguém e se ele for assim mesmo eu não o convido mais. Mas acho que ele é de boa, eu gostei dele.

        — Como assim gostou dele? Tu nem sabe de onde saiu essa criatura. - ela me puxa para o lado -

        — Ah Sara, sei lá. Só achei ele legal, eu percebi ao falar com ele e é só isso. Para de implicar com o guri.

       — Gente, temos que organizar o grupo. - Bianca nos interrompe ao notar Murilo chegando -

       — Então novato, nos encontre aqui à tarde, às quinze horas. Não se atrase. - Patty diz em seco -

       — Ok, combinado! Ah, Benji - ele chama minha atenção - Muito obrigado por ter me chamado no grupo, de verdade.

        — Sem problemas, já passei por isso então sei como é.... - me sinto nostálgico com a lembrança -

[...]

      Nos últimos cinco minutos para o intervalo, Sara ficou reclamando de simplesmente aceitar o novato no time, fiquei suportando isso por um longo cinco minutos. Patty e Brenda concordaram com ela, fazendo breves comentários ao observá-lo de longe, aumentando meu estresse de estar no meio daquilo.

      Quando eu menos esperava, a droga daquele sinal tocou e me retirei rapidamente de lá, indo em direção ao banheiro para me descarregar daquela desgraça de tempo.

       — Só um momento querido. - ela me impede antes de entrar -

       — O que houve, Sara? - transpareço ignorância -

       — Desde quando ele te chama de " Benji " ? Se tornaram íntimos agora?

       — Se sim, teria algum problema? - dou um tom ousado -

       — Mas o que.....

       — Era só isso que você queria conversar comigo? - a interrompi -

      Ela apenas acenou com a cabeça e se retirou enfurecida, quando a vejo distante, sinto um alívio imenso quando não sinto mais sua presença por perto.

      Eu praticamente fiquei o recreio inteiro naquele banheiro para fugir um pouco da realidade, coloco meus fones ao máximo do volume e fico na minha utopia enquanto os minutos passam. Não tinha remédio melhor do que aquilo, era minha terapia diária, isso me deixava extasiado por horas. Esse era um dos fatores que me levavam a suportar tudo aquilo, tanto é que parei de ter pesadelos com isso.

...

15:00

      Aguardo o restante do grupo no corredor principal, onde iremos realizar a porcaria do trabalho de filosofia. A segunda a chegar é Beatriz, ela se senta um pouco distante e aguarda o restante aparecer. Ficamos uns vinte minutos ali esperando e nada de sinal deles, fico sem saber o que conversar com ela, pois não sou bom nisso.

       — E aí, só nós por enquanto? - ela quebra o gelo, notando minha ansiedade -

       — Sim, cheguei muito cedo. Sabe como é, né? Sou muito ansioso.

       — Mas é claro, você é assim desde sempre. Na época do fundamental cê era assim, todo ansioso e perfeccionista. - ouço suas risadas ao lembrar -

       — Pois é, esse sou eu, não consigo controlar.

       — Parando pra pensar, nós estudamos juntos por um bom tempo, né? Desde o segundo ano?

       — Bem lembrado, desde o segundo. - me recordo - Naquele dia você ficou de cara com a professora por te ter colocado do meu lado, daí tu procrastinou " Eu quero me sentar ao lado de uma menina! " - imito sua postura do dia -

       — Meu Deus! - rimos assim que entramos na lembrança - Mas eu nem te conhecia, achei que seria um saco sentar do lado de um garoto mas não, desde lá nos tornamos bons amigos. Foi bons tempos.

       — Realmente, daquele dia em diante você se tornou minha melhor amiga e eu te amo muito por isso. - dou um piscar de olhos -

       — Oh! Que fofo ele! Eu também te amo e com certeza eu prefiro você do que o Patty. - ela confessa - Mas enfim.... tu e a Sara andam meio esquisitos.

       — Então, isso é por causa do Murilo.... ela deve estar com ciúmes dele mas não sei do que.

       — Não sabe mesmo? - ela olhou maliciosa - Não te faz Benjamin!

       — Do que tu estás falando? Ficou doida, é? - fico em balbúrdia -

       — Com certeza.... aquele olhar dele pra ti, reparou não?

       — Que olhar?

       — Olhar de desejo, tá na cara que ele é afim de ti.

       — Desejo por mim? - dou risos curtos - Ele é louco então? Eu namoro e todo mundo viu....

       — Bom, não sei de nada mas eu acho que aí tem coisa.... te liga galã!

      Assim como a impressão dela, também encaixei os meus meios nisso. Não é à toa que eu sentia algo estranho desde sua chegada mas fiquei confuso se ele só queria ser simpático ou que gostasse mesmo de mim. Se eu tivesse trabalhado mais nisso talvez um dos meus problemas viriam sumir.

       — Quem está afim de ti, Benjamin? - Sara chega de repente -

I'm cornered by bullshit!

The Price of a LifeWhere stories live. Discover now