29•

331 24 6
                                    

   Joshua Kyle BEAUCHAMP 📍

 
  Depois que terminou a oficina, foi até a casa do meu pai para ver como ele estava. Ele andava quieto demais nos últimos dias, o que normalmente significa que estava bêbado. Quando entrei na casa, meu pai estava sentado no sofá, jantando em frente à TV com uma lata de cerveja na mão. A única coisa que ele assistia era o noticiário, porque gostava de se lembrar que o mundo era uma merda.

  Ele ouviu os meus passos, mas não se virou para me cumprimentar. Ele nunca se virava, na verdade. Nós não tínhamos o tipo de relacionamento pai e filho no qual realmente conversavamos. Nós basicamente resmugávamos um para o outro e reclamavam sobre o outro ser um pé no saco.

  —aquela merda ainda é minha oficina -declarou, enfiando uma garrafada de comida na boca antes de tomar um gole de cerveja. —já se passaram várias semanas e o carro daquela piranha ainda está lá.

  Fiz Uma careta.
  —não a chame de piranha.

  Ele olhou para mim e estreitou os olhos. Baixou a sobrancelhas e soltou um som como um rosnado.

  —quem você pensa que é para me dizer o que fazer? Não se esqueça de quem é essa casa, garoto.

  Ele adorava usar essa frase sobre a casa—e sobre a oficina e sobre a minha casa perto da oficina. Adorava se sentir como se tivesse poder sobre tudo que tínhamos. O que ele nunca apareceu notar era quem pagava as contas, quem trabalhava, quem limpava a casa. Ele não fazia praticamente mais nada com o tempo dele a não ser beber e assistir ao noticiário. Meu pai não era mais uma pessoa. Era um morto-vivo.

  —eu não vou avisar de novo. Tire a porra daquele carro da minha oficina -ordenou ele, mas suas palavras não significavam nada para mim. Ele não tinha o foco nem a ética de trabalho para realmente conseguir tirar o carro de lá. Deste modo, tudo ficaria bem.

  Meu pai era cão que ladrava, mas não mordia. Apenas um velho amargo com um coração que não batia mais.
  Eu tinha minha mãe para agradecer por isso.

  —Você não sabe o que aquela gente fez com a nossa família, Joshua? -perguntou. —como eles nunca nos ajudaram? Como fizeram com que a gente comesse o pão que o diabo amassou?

  —Sim, eu sei. -Mas será que ele sabia? Será que se lembrava de que Any o havia tirado da sarjeta e o arrastado para a cidade para levá-lo de volta para casa em segurança? Será que ele sabia que ela tinha dado banho nele, limparam a casa dele e ficado sentada com ele só para se certificar de que ele não sufocaria com o próprio vômito?

  Será que ele tinha visto os olhos dela quando ela chorava, e com o seu corpo tremia quando estava com medo?

  Será que ele não tinha visto que ela era muito mais do que uma Soares? Como ela também tinha sofrido com coisas que haviam sido feitas contra ela? Que ela também já tinha passado pelo seu próprio inferno?

  Fechei os olhos.

  Lá estava ela enchendo a minha mente.
  Porque eu não conseguia parar de pensar nela?
  Sai dessa, Joshua.

  Fui até a geladeira e vi que toda a comida que eu tinha comprado para ele já tinha acabado.

  —Você deveria ter me dito que a comida tinha acabado -reclamei.

  —eu não tenho que dizer porra nenhuma para você. -retrucou ele, me dando um fora. E eu dei outro na hora.

  Tal pai, tal filho.

Shame -BEAUANY (Adaptação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora