Flash back- Hadassa 1

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-Ei, você. Está tão compenetrada na paisagem que estou aqui olhando para você á minutos, e nem percebeu minha presença. Pensando novamente em Hálim, não é?

-Pâmela. Por que não me chamou, sua boba? - Eu disse e sorri para ela.

Ela era minha amiga de infância no Brasil, nos encontramos aqui á dez semanas atrás. Ela tinha voltado de uma zona de conflito onde tinha prestado seus serviços de enfermagem para cruz vermelha. Foi muito especial reencontra-la após todos aqueles anos. Eu a convidei para ficar no meu pequeno apartamento, e nós duas tínhamos nos divertido tanto naquelas semanas. Ela era leve, divertida. Eu estava precisando ficar perto de pessoas assim ultimamente, senão eu iria enlouquecer.

-Acabei de falar com Lindy, de novo. Ela mandou um beijo para você, e um abraço bem forte. - Ela me disse sorrindo e chamou o garçom. Ele se aproximou e ela pediu um chá de damasco.

- E aí, ela decidiu finalmente ir na turnê com Johnny pela Ásia?

-Sim, ele venceu. - Ela riu e piscou para mim.

- É o amor sempre vence amiga, de um jeito ou de outro. - Eu também sorri e bebi o meu suco de amora.

- Tudo bem, o amor é lindo e blah, blah... blah - Ela desdenhou quase vomitando em cima do seu chá. Ela era irritante mas, hilária. - Amiga, Hálim terminou com você quando ainda estava no sul da França. Você não sabe o que realmente aconteceu em Beit Hanoun. Seu pai garantiu a você que ele disse que estava cansado de fugir, e andava estranho. Tem certeza que você ainda deve ter esperanças?

-Eu devo ter esperanças, amiga. O nosso amor é mais importante do que tudo. Hálim, foi sequestrado, ele não se aliou ao Ahmed. Nem que ele oferecesse um milhão de dólares. Pare de pensar assim. Eu o conheço. - Eu assegurei firme. Hálim, nunca me abandonaria, nem por dinheiro, religião e cultura.

-Ok. Não está mais aqui quem falou. Mas... que isso tudo é estranho. Isso você não pode negar.

-Eu sei. - Concordei e terminei de tomar o meu suco. - No entanto, sua amiga aqui é otimista. Sei que em breve tudo será resolvido.

-Ei, olha só. O seu par de hoje á noite está vindo para cá.

- Não! Julio?!

-Claro, quem mais poderia ser Hadassa? Seja gentil, afinal semana passada vocês tiveram um episódio bem interessante, digamos assim... bem quente. - Pâmela fez o favor de me lembrar, e riu.

-Foi apenas um beijo. Nada importante.

-Uhum... um beijo, sei. Vocês se agarraram na pós festa parlamentar. Aquilo nem de longe foi um beijo qualquer, Hadassa. Admita.

-Olá garotas? O mar está lindo hoje não é? - Disse Julio ao meu lado e me deu um beijo na bochecha.

Não pude evitar, fiquei realmente corada. ESSES BRASILEIROS TÃO CHEIOS DE DEMONSTRAÇÕES EM PÚBLICO. Tudo bem, a quem eu estou enganando, nasci lá e sei como funcionam as coisas.

-Olá, Julio. Estou bem e você?

-Estou realmente atrasado para uma reunião do conselho. Só passei aqui para te dar um beijo e ver se ainda você irá comigo ao baile da sede. Você vai?

-Sim eu, vou.

-Passo ás vinte horas em ponto. - Ele piscou para mim, e deu um sorriso super charmoso.

-Tudo bem.

-Até, mais garotas.

-Até. -Eu e Pâmela respondemos e rimos uma para a outra.

- De uma coisa, você não pode se esquecer. Existe um cara lindo, charmoso, com os olhos da cor do mel mais perfeito de todos os tempos, arrastando um bonde por você. - Comentou Pâmela. Ainda hipnotizada pela beleza de Julio.

-Eu sei.

-Além de, lindo é super profissional, um dos advogados mais respeitados e conceituados de São Paulo. Rico, de família super estruturada. Totalmente sarado, e... eu já disse lindo?

Eu mordi o lábio para não gargalhar, porque a cara de mulher derretida da Pâmela era impagável. Se eu não estivesse tão ocupada e esperançosa por reencontrar meu Hálim, e fazer com que fiquemos juntos novamente, eu estaria morrendo de ciúme agora, por causa do bendito Júlio. Realmente Pâmela tinha razão. Ele era aquilo tudo e muito mais. Mas meu coração ainda pertencia á Hálim.

-Ah... AMIGA, EU SEI. Sim, Julio é perfeito mesmo. Mas é só um amigo.

-Para você, não é?! - Provocou ela, e eu ri. Como era divertido estar ao seu lado. Linda é quem teve a sorte de crescer ao lado dela.

-Ora, ora, ora, não foi você quem disse, que não era para eu me animar, não ter esperanças?! E você e Rick, como andam as coisas, ele já se conformou com a sua estadia por mais quatro meses aqui?

-Ainda não. Ele pede para eu voltar á Londres, todas ás vezes que eu ligo. E hoje discutimos.

-Ah... por isso você tá assim meio bipolar. Nada de esperanças... todas as esperanças. Você é maluca, mas eu te adoro viu?! - Eu disse sorrindo e apertei a bochecha dela. Ela tinha um rosto redondo mas simétrico, era uma loira mesclada com traços sul americanos, lindos.

-Eu sei, o que seria de você sem mim, hã. Não deixe aquele deus Tupiniquim, lindo escapar. Não faça isso. Se eu fosse você não faria. - Como sempre ela exagerava em tudo. Mas eu me divertia como nunca.

-Ele nem tem raízes indígenas senhorita, senão me engano, é metade, português e outra metade espanhol. - Provoquei.

-Não importa, é brasileiro e é quente! É tudo de bom.

-Se você diz. - Me fiz de indiferente só pra provocar um pouco mais.

-Uau! Faltam quinze minutos para a retirada. Tenho que voltar para a sede, pegar minhas coisas, e ir para o treinamento de campo. Até mais amiga. Ore por mim. Eu sei que suas preces, "meio a meio" são fortes.

-Ok. Essa eu nunca tinha ouvido. Engraçadinha. Eu sei que sou uma aberração cultural e religiosa, não precisa me lembrar. - Brinquei fingindo estar magoada.

E ela riu, sabia que eu estava segurando o riso. "Preces meio a meio" só Pâmela mesmo. Eu peguei meu celular, e chequei as horas. Eu também estaria muito ocupada até as cinco da tarde. Voltei para a sede, e passei a tarde traduzindo recomendações de pautas do francês para o turco. Eu agradecia todos os dias á Deus, pelo dom que ele tinha me dado, em ter o privilégio e facilidade de aprender línguas com muita fluência. Isso vinha muito fácil para mim. E quando eu gostava de verdade de alguma coisa eu ia até o fim. Eu poderia dar aulas particulares em qualquer lugar do mundo, e isso era um trunfo em minhas mãos, pois eu falava, árabe, hebraico, inglês, português, francês e turco, eu arranhava um pouco. Eu só sei que aquilo era fascinante para mim. A linguagem, escrita, a história das línguas, a gramática de cada local, me encantava demais.

Ás cinco da tarde peguei minhas coisas. Chamei um táxi e fui para casa me arrumar para o baile. Eu ainda não sabia qual roupa usar. Cheguei em casa em quinze minutos. Tomei um banho, lavei os cabelos, os sequei, tomei um suco e comi duas torradas para aguentar até o jantar. Eu segui o conselho da minha mãe e fui com o vestido branco de cetim, tamanho médio, com flores amarelas suaves. Eu fiz uma maquiagem leve, calcei meus sapatos de cor clara. E também peguei a minha echarpe amarela. Eu sabia que nesse horário o vento aqui em Istambul seria mais frio e forte. Assim eu protegeria, meu cabelo e minhas costas. Tudo o que eu não precisava era pegar um resfriado de outono, e ficar em casa por três dias até me recuperar. Eu tinha que ir todos os dias ao trabalho, porque assim ficaria muito perto de saber o que se passava na minha cidade natal com o "Clã dos Kahalesi". Peguei minha bolsa, meu celular e fui para a portaria do meu prédio. Quando eu estava fechando a porta do meu apartamento, Julio me mandou uma mensagem, dizendo que tinha acabado de estacionar o carro. Eu desci as escadas. E fui ao seu encontro. No fundo eu estava nervosa. Tudo o que era novo para mim, me excitava, mas ao mesmo tempo me intimidava. E no fundo eu sentia que os sentimentos de Júlio  eram verdadeiros. E isso meio que me deixava um tanto mexida. Ele era um cara incrível eu não podia negar. Respirei fundo, e fui.

A Garota do Lenço Amarelo - Série Garotas do Brasil - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora