Flash back- Hadassa 1

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Dia de sol em Istambul era mágico. Tudo a nossa volta ficava mais vivo e bonito. As águas do mar negro eram de raro esplendor. Um azul mais escuro, mas muito bonito. No meu horário de almoço costumava ir ao mesmo restaurante a beira das águas. Eu precisava pensar, meu noivo ainda precisava de mim. E eu sabia que o advogado da ONU conseguiria uma força tarefa ocidental para tira-lo das mãos de Ahmed Kahalesi. Eu deveria ter esperança não é mesmo? Se não por mim, pelo menos por ele. Um dia ficaríamos juntos num lugar onde guerra não seria o nosso café da manhã. Casaríamos por amor, viveríamos talvez no Brasil, onde metade da família dele estava concentrada, refugiados da eterna guerra na faixa de gaza. Teríamos os nossos filhos, os educaríamos e envelheceríamos juntos. Ah... como esse plano era perfeito para mim. Do mesmo jeito em que meus pais foram felizes juntos e firmes no amor como até hoje.

Minha mente foi transportada ao meu passado, o amor épico de meus pais. Minha mãe israelense e meu pai muçulmano de uma cidade na faixa de gaza chamada Beit Hanoun, se conheceram na universidade na Turquia e desde a volta para seus países, tiveram que esconder por anos o romance. Até que minha mãe se converteu ao islamismo por amor ao meu pai. Conseguiram viver em paz até o seu primo da família Kahalesi descobrir sobre a árvore genealógica da minha mãe. Então, meus pais conseguiram fugir para o Brasil, e vieram morar na comunidade islâmica no sul do país. Foram tempos de paz, pois fomos muito bem recebidos por nossa comunidade, e também os Brasileiros eram muito hospitaleiros, um povo tão alegre. Meus irmãos nasceram na faixa de Gaza, eu a caçula nasci no Brasil e moramos lá até eu completar dez anos de idade. Depois fomos para Turquia, para ficar com meus avós que, quando completaram cinquenta anos de casados resolveram morar longe dos conflitos entre Israel e a Palestina na faixa de gaza. Em 2009 soubemos de parentes que perderam suas casas e suas famílias no ataque de Israel em Beit Hanoun. Eu estava terminando o ensino fundamental. Naquela época conheci Hálim, ficamos muito amigos, e estudamos juntos até eu me formar no ensino médio. Começamos a namorar no segundo ano. Meu pai e minha mãe nos apoiavam totalmente. Ele foi meu primeiro amor, meu amigo e companheiro, e eu desejava passar o resto da vida ao lado dele. Tínhamos muitos planos, atéseu primo Ahmed Kalahesi capturar Hálim  só porque eu não honrei com o acordo feito há um ano atrás, quando aceitamos voltar a nossa cidade para cuidar de meus avós muçulmanos, pais do meu pai. Ahmed prometeu que o crime cometido pela nossa família ao abrigar israelenses na nossa casa, iria ser perdoado se eu me casasse com ele.

Hálim e eu o conhecíamos desde o ensino médio na Turquia. Nunca dei um pretexto ou chance para ele, eu sempre fui educada, boa amiga quando ele precisou de um lugar para ficar ao ser novo na cidade, e ter seus pertences e dinheiro roubados no centro de Istambul. Eramos um trio bem bacana. Mas ele confundiu por muito tempo, amizade com romance. Ele sabia que o meu coração era de Hálim, seu primo. Mas agora com todo o poder que exercia na nossa cidade natal, em Gaza, ele viu uma oportunidade, para que eu fosse finalmente dele. Não conseguia compreender qual era essa obsessão idiota por mim, eu era uma menina normal, comum, não o faria feliz. Então voltamos a Beit Hanoun, meu avô se recuperou, e cuidamos de toda a papelada para tirarmos meus avós de lá. Meu pai não permitiria que eu me casasse sem amor. Eu sei, estivemos brincando com o perigo. Mas sempre havia um jeito, só não havia para a morte. Fomos para uma cidade do interior na Turquia onde ninguém nos conhecia, meu pai e minha mãe montaram uma marcenaria. E Hálim, veio ficar conosco. Hálim insistiu que eu ficasse seis meses fora até a poeira baixar e meus rastros fossem apagados. Fui á França fazer um curso preparatório de línguas estrangeiras, eu sempre tive facilidade para aprender idiomas novos. E aqui estou eu, após conseguir um ótimo emprego de assistente/intérprete de um dos secretários da ONU. Na semana passada eu recebi a notícia que Hálim foi ao enterro de seu tio mais querido. E que mesmo o local sendo preservado por causa dos Kahalesi, eles o encontraram e Ahmed sequestrou o meu noivo. Eu fiquei dias mexendo os "pausinhos" aqui na sede. Mas mexer com os Kahalesi não era uma coisa simples. Eles tinham muito poder naquela região. E eu não queria que Ahmed soubesse que eu havia voltado para Istambul, para trabalhar e ficar perto dos meus pais. Meu plano era resgatar Hálim, e voltar para o Brasil o mais rápido possível.

A Garota do Lenço Amarelo - Série Garotas do Brasil - Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora