Capítulo 1

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"Mãe, sei que a senhora vai ficar muito magoada comigo mas preciso ir! Essa casa não dá mais para mim. O papai me odeia e Maicon faz de tudo para me queimar. Eu tô livre do pó, mas não quero morrer por não pagar a minha dívida.
Não faz pergunta difícil, eu também fico me perguntando na dívida em que eu me enfiei. Sorte que não morri!

Eu vou ficar bem. Te amo!

Com amor, seu filho Micael".

O relógio digital da cabeceira da cama de Micael indicavam duas e quarenta da manhã. Sua mão esquerda posicionou a carta escrita por ele, minutos antes, para que Antônia visse quando acordasse. Deu um beijo em Faroféu, seu gato, se despedindo. Saiu de fininho pela porta de entrada, fazendo passos silenciosos para não acordar ninguém.

Um moletom surrado no corpo, capuz, mochila nas costas e um tênis que custaria duzentos reais. Ótimo alvo para ladroes, nas ruas tenebrosas de São Paulo. Caminhou em passos médios pelo Viaduto do Chá, Sé e seguiu caminho completo até a Rua Augusta. Algumas putas mexeram consigo, mas ele não deu ouvidos. Continuou andando até o seu destino:

LU$H. Casa de massagens para mulheres solteiras. Era o que o cartaz de poste indicava.

Micael apertou o interfone da casa antiga, quase caindo aos pedaços. O portão enferrujado se abriu, revelando à ele uma escadaria de cimento. Ele viu a mulher de cinquenta e dois anos, loira oxigenada, uma tatuagem de cadeia no braço e um cigarro na mão direita. Subiu o olhar para ele, quando o viu passar pela porta.

— Entra, filho! — O chamou com a mão. — Senta aí. — Apontou para a cadeira de plástico, viu Micael se sentar, com um pouco de medo. — Foi você que me mandou mensagem?

— Sim. — Engoliu seco. — Eu vim pra trabalhar.

— Eu sei, é por isso que eu te recebi. — Sorriu, com os dentes amarelos por tanto cigarro. — Me conta, você já trabalhou em alguma casa? — Tragou o cigarro.

— Não.

— É a tua primeira vez?

— É.

Ela analisou Micael, de cima à baixo.

— Bonitinho você! — Mordiscou o lábio. — Seguinte, eu vou te explicar como aqui funciona. — Cruzou as mãos em cima da mesa, deixando o seu cigarro no cinzeiro de plástico, ao lado. — O programa é cem! Cinquenta da casa, cinquenta do garoto. Se tiver extra, pode ficar com você.

— Só cinquenta? — Micael se impressionou. O dinheiro não tinha valor nenhum!

— Tá achando ruim? Vai pra rua! Mete o seu pinto em qualquer boceta de gonorréia e depois me conta se vale cem reais inteiros. — Debochou.

Micael ficou em silêncio. Coçou a nuca antes de fazer mais uma pergunta.

— São só mulheres?

— Sim, só mulheres. — Pausou. — Mas depende muito do caso! Tem homens que vem brincar, dão o dobro. Os meninos lá em cima gostam. — A velha sorriu. — Eu particularmente adoro, sabia? — Aproximou seu corpo para frente, umedecendo os lábios para Micael.

— Tá bom, tá bom. Eu quero ficar! — Estava atordoado com tanta informação ruim. — Eu preciso do dinheiro pra pagar uma dívida.

— Não me interessa pra quê serve o seu dinheiro. Eu quero ver se você sabe trabalhar de verdade. — Tragou novamente o cigarro. — Pode começar hoje, se quiser.

— Tá bem. — Assentiu. — Obrigado pela oportunidade.

— Vaza daqui, eu preciso contar meu pagamento. — Foi grossa com Micael, abrindo uma gaveta e tirando notas de cem, empenhada à contar sozinha.

Micael saiu desnorteado da sala, sem saber para onde ir. Subiu mais alguns degraus de escada, parando em uma sala enorme, porém velha. Um espaço bom para festas, no canto um bar e alguns sofás, semi-novos.

— Garoto novo?

O homem moreno apontou para ele, franzindo o cenho.

— Eu vou trabalhar aqui. — Respondeu.

— Estranho! A Vera não disse nada. — Mostrou os lábios. — Meu nome é Marcelo, eu vou te mostrar como as coisas funcionam. — Soltou um suspiro, sendo o guia de Micael pela casa. — Aqui é a sala! Às vezes rola umas festinhas, uma coisa mais "Clube das Mulheres" sabe? — Micael assentiu. — Lá em cima, são os quartos. — Andou com ele até o começo, se guiando pelo corrimão.

Subiram as escadas até pararem no grande corredor, Micael escutou alguns gemidos mas tentou adaptar o seu corpo rápido, isso viraria rotina à ele.

— Nesse quarto ficam os quites! Toalha, sabonete, lençol... Essas coisas. — Gesticulou. — Sempre que você for fazer um programa, não esqueça do quite.

— Beleza.

— Quantos anos você tem, garoto?

— Dezenove.

— Você não tem cara de quem precisa de dinheiro.

— Mas eu preciso! — Foi firme. — Então, como é que começa aqui?

— Você já quer começar? — Marcelo levantou uma sobrancelha.

— É, né? Preciso me acostumar. — Levantou os ombros.

— Vou te mostrar o alojamento e depois você pode ficar com a minha cliente. Mas só hoje, hein! — Marcelo brincou, levando Micael até os dormitórios.

O tour completo foi feito. Micael ficou com a cliente de Marcelo, como prometido. Estava nervoso quando buscou um quite higiene no local avisado, andando até o quarto onde seria o seu primeiro programa.

Abriu à porta revelando uma mulher de trinta e três anos. Bem vestida, elegante. O que estava fazendo naquela espelunca?

— Oi. — Sorriu para Micael.

— Oi. — Ele trancou a porta, deixou o quite em uma cômoda antiga.

— Você é novo por aqui, não é? — Foi simpática.

— Sim, eu sou. — Tirou o chinelo. — Tudo bem com você? — Tentou relaxar.

— Sim e com você? — Ela relaxou os ombros, observando o nervosismo de Micael. — Não precisa ficar nervoso, eu sei que é o seu primeiro programa.

Micael sentou ao seu lado na cama, pousando suas mãos nos joelhos, sem saber o que fazer. Aquilo não era como namorar naturalmente, era algo forçado, algo pago. Ele nunca a viu na vida e iria transar com ela.

— Você já transou com alguém mais velha? — A mulher ficou de pé, retirou sua blusa e sem delongas, o sutiã. Micael observou seus seios um pouco caídos, com os bicos enormes e amarronzados. Era como se fosse transar com a sua mãe, horrível!

— Não, nunca transei. — Engoliu seco.

Viu a mulher ficar nua em sua frente, apoiando uma perna na cama enquanto ficava de pernas abertas à ele. Levou a cabeça de Micael até sua intimidade com pêlos ralos, o forçando à fazer um sexo oral, sem nenhum tipo de conversa antes.

De primeiro ato foi terrível. Micael pensou sete vezes antes de desistir e ir para à casa, enfrentando sua dívida e morrendo pelo traficante. Mas, não queria morrer tão cedo, queria viver um pouco, pagar a dívida e continuar sua vida sem precisar se matar de fazer sexo, com mulheres carentes, por cinquenta reais.

Ele não precisava daquela vida, mas naquele momento, ele realmente precisava.

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