Capítulo 52

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Micael acordou cedo naquela manhã, fez suas higienes matinais e desceu para mais um dia de trabalho: confiscar, ligar e marcar todos os clientes de Sophia. Porém, uma ligação inesperada lhe pegou, não vindo do telefone fixo mas sim, vindo da portaria.

— Só um momento. — Ele franziu o cenho, deixou a caderneta de lado e deixou subir. O nome era conhecido, só queria saber o por quê dela estar ali.

Escutou o salto estridente do outro lado da porta, abriu três segundos depois, revelando Raquel. Elegante como sempre, óculos escuro no rosto e o cabelo impecável. As unhas? Nem se fale.

— Bom dia, gato. — Ela retirou o óculos. — Posso entrar?

— Não deveria. — Micael ficou irritado. — O que você está fazendo aqui? Veio resgatar a sua amiguinha?

— Minha amiguinha? — Raquel soltou um riso sarcástico, empurrou Micael, entrando no apartamento. — É aqui que vocês atendem? Nessa espelunca?

— Foi o máximo que eu consegui com o meu dinheiro. Por que você está aqui? — Micael bateu a porta com tudo, assistiu Raquel fazer uma ronda crítica no apartamento.

— Calma gato, eu vim na paz! — Rendeu as mãos. — Você não quis me conhecer no dia da boate mas eu tenho certeza que agora você vai querer me conhecer.

Micael arqueou uma sobrancelha.

— Qual é a tua, hein?

— A minha é que você é bem interessante pra mim, aliás, interessante pra nós duas. — Referiu-se à Sophia. — Você deveria ter ido no meu apê, no dia da festa. — Alisou o braço musculoso de Micael.

— Tô fora. — Empurrou as mãos de Raquel. — Tá afim da Sophia?

— Não curto mulher, amor. Meu negócio é homem! Mesmo eu tendo um pau no meio das minhas pernas. — Jogou um beijo para Micael.

— Então fala, qual é a tua? — Repetiu a pergunta. — Acolheu a Sophia no seu apartamento, ela fugiu, roubou toda a porra do meu dinheiro...

— Seu dinheiro nunca esteve comigo, Micael. Aliás, ela foi em casa com o seu dinheiro mas não ficou nem vinte minutos. — Raquel jogou o seu veneno. — A Sophia não quis ficar comigo! Ela preferiu ir para a rua, não sei o porquê.

— Vai saber o que você aprontou, não é mesmo? — Cruzou os braços.

— Eu sou sincera e reta, Micael! E sabe por que eu estou aqui? — Os dois se encararam.

— Gostaria de saber. — Foi irônico.

— Se eu fosse você, ficava de olho na Sophia e na napa de farinha que ela está virando!

Micael franziu o cenho, sua feição mudou quando Raquel disse o inesperado. Ele entendeu perfeitamente, só não pensou que Sophia poderia estar metida nisso. Ou era uma armação?

— A Sophia não mexe com isso, Raquel! Pode ficar despreocupada.

— Ah, não? E você acha que teu dinheiro foi rápido porquê? — Ficou frente à frente com Micael. — Ninguém em sã consciência gasta tanto dinheiro em nada, Micael. Acho que você sabe do que estamos falando, não é mesmo?

— Na boa? É melhor você sair do meu apartamento antes que eu me irrite. Eu nem conheço você! Só te vi duas vezes na vida e sei que você não é nada de boa confiança.

— Quem avisa amigo é, amor. — Raquel ajeitou a bolsa entre os ombros, deixando Micael com o seu subconsciente pesado.

Trancou a porta quando Raquel passou, indo embora. Subiu as escadas furioso, acordando Sophia com a luz do sol, enquanto abria as cortinas. Ela não entendeu o por quê da irritação, seu relógio ainda não tinha despertado.

— Levanta, Sophia. Vamos! — Ajuntou as roupas espalhadas no banheiro.

Sophia resmungou na cama, cobrindo os olhos com dois travesseiros que estavam por lá.

— Vamos, Sophia! — Deu uma ronda no quarto, mexendo nas coisas de Sophia, fazendo ela se irritar.

— Hum, o que aconteceu hein? — Sentou-se na cama, passando a mão no rosto enquanto bocejava.

— O que aconteceu é que eu não sou idiota!

Micael parou na frente de Sophia, colocou as mãos na cintura, esperando uma resposta verdadeira da loira.

— Por que você está assim? O que aconteceu? — Ela não conseguia entender.

— A sua amiguinha veio aqui dizer que você está cheirando até o nariz cair. É verdade? — Cruzou os braços.

— Que? — Sophia deu um pulo da cama, ficando de pé. — A Raquel veio aqui?

— E você faz tanta questão dela vir aqui? Tá escondendo alguma coisa, Sophia?

— Eu não tenho nada pra esconder de você! Só me impressiona ela vir até aqui e contar uma mentira dessas. — Sophia ficou nervosa. — E lógico que você caiu no papinho dela.

— Tanto cai que vim perguntar pra você. — Ficou frente à frente com Sophia, que estava seminua. — Não mente pra mim, você tá cheirando?

Ela ficou em silêncio.

— Você está ou não está cheirando?

— Eu jamais viciaria nessa porcaria, Micael. Tá louco?

— Não mente pra mim!

— Eu nunca cheirei e nunca vou cheirar. — Soltou um suspiro. — Pelo jeito você não confia mais em mim.

— Como eu vou confiar em uma pessoa que praticamente me roubou.

— Eu já disse que vou te pagar, caramba! Você precisa confiar em mim e não em uma louca que entra no apartamento e fala mil coisas. — Sophia saiu de perto, entrou na suíte.

— Não sei. Você está fugindo de mim, está fugindo de alguma coisa.

— Não estou fugindo de ninguém, Micael. Essa é a realidade! — Entrou no box. — Eu quero que você confie em mim.

Ele ficou em silêncio, balbuciou algo mas optou por não dizer nada.

— Melhor você se arrumar, tem cliente daqui à pouco.

Deixou Sophia terminar o seu banho, sozinha. Voltou para a sala, se concentrando em seu trabalho com os clientes que ela atenderia pelo dia.

Antes de descer, Sophia tomou seu banho e ligou para Mariana, com o intuito de contar o plano que estava em sua cabeça. A mesma atendeu depois de um tempinho, Sophia pediu para que a mesma fosse no apartamento, não poderia contar por telefone. Era arriscado demais!

— Tá bom, você vem mesmo? — Sophia terminou de se vestir, penteando os cabelos. — Se o Micael perguntar, você enrola ele.

— Sophia, o que você está aprontando?

— Só vem até aqui, eu te conto tudo.

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