13. Névoa escura e cinzenta.

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Naquele dia a neve era levada mais rapidamente pelo vento. Os minúsculos fragmentos brancos inundavam a floresta em pequenos redemoinhos lívidos e certeiros; ali, no calor da casa aconchegante, o cheiro de chocolate rondava todo o ambiente. A quentura da lareira trazia certo conforto para os pés e resto dos corpos. Harry tinha Austin com a cabeça em seu ombro. O cheiro do ômega o tranquilizando enquanto as pequenas mãos equilibravam a caneca colorida sob elas. Algum desenho da programação infantil enchia os seus olhos grandes e atentos.
O ato tão familiar o fez lembrar de como sentiria saudade daquele sentimento; o coração miúdo se enchendo de uma sensação nova e desconhecida pela pouca idade.

"Eu vou te visitar todos os dias! Você e o alfa." Ele disse de repente. A boca deixando escapar o pensamento fujão de sua mente. O ômega não pôde deixar de sorrir com aquilo. Harry tinha as unhas pintadas fazendo um carinho leve nos cabelos do filhote, o acolhendo ainda mais na lateral de seu corpo.

"Isso é bom, filhote. Nós sentiremos sua falta." Harry o tranquilizou. Os pulmões puxando um ar à mais; o corpo instintivamente fazendo um esforço para que as lágrimas que queimavam a beira de seus olhos não descessem pelo seu rosto. Era nítido que ele havia se apegado. Austin trouxera um ar novo para a casa, os dias deixaram de ser monótonos e a mesmice sequer existia mais. O pequeno filhote era o causador daquilo.

"Eu-eu ainda tenho medo, ômega" ele agora o encarava. Harry podia ver as lágrimas começando a brilhar em seus olhinhos. "De voltar para aquele lugar." Isso era algo que eles ainda não sabiam. Austin se recusava à falar sobre o lugar onde esteve quando fora raptado, e Harry e seu alfa não queriam pressiona-lo.

"E aquele lugar. Como era?" Ele o instigou. As mãos o segurando perto.

Ele mordeu os lábios. Os olhos demonstrando insegurança e medo ao olharem para baixo.

"Frio e escuro. Sim- muito escuro mesmo. Não cheirava como casa" Harry podia identificar o cheiro de medo tomar conta do pequeno corpo, o que o fez apertá-lo ainda mais. "Mas não quero dizer." Ele balançou a cabeça negativamente. Harry concordou.

"Não precisa dizer mais. Obrigado por me contar mesmo assim." O pequeno sorriso que dera foi o suficiente para aquecer Austin, que voltou seu olhar para a televisão. Deixando Harry ainda pensativo.

Não demorou muito para que o cheiro de Louis pudesse ser sentido, junto com outros que Harry desconhecia, mas sabia que outrora já pertenceram àquela matilha. Ele registrou o momento perfeitamente: a porta se abrindo e então Austin saindo de seu colo e indo em direção a ela. Bastou um olhar nos olhos de Louis e então ele sabia que era a família do filhote. Ele voltaria para eles.




Harry está segurando Louis perto agora. O vazio deixado por Austin têm o feito ficar apático; três dias se passaram e ele ainda sentia a falta de algo que tivera por tão pouco tempo. Eles se aqueciam em frente a lareira. Mais cedo naquele dia, Harry havia tirado Louis de seu escritório. Puxando o alfa pelas mãos e pedindo um pouco de carinho. Agora ele tinha a cabeça de Louis na curvatura de seu pescoço; os fios lisos bem próximos ao seu nariz.

Ele podia sentir o cheiro de seu cabelo e então sussurrar no ouvido do alfa: "eu não gosto do seu novo xampu."

Ele pôde sentir o sopro de uma risada.

"Esse é o seu xampu." Ele afirmou com obviedade. Harry não achava que realmente fosse. Aquele cheiro não era sua coisa.

"Desde quando você não usa as suas próprias coisas?" Ele riu. Louis era atrevido quando se tratava das coisas de Harry.

"Casais dividem." Um soco no estômago de Harry. As borboletas estranhas voavam por toda a parte agora. "Eu posso sentir sua bochecha esquentando bem aqui- na minha mão." Ele pôs a mão gelada sob o rosto liso, sentido-o realmente esquentar sob ela. Ele riu.

Tolerate It • (l.s) ABOWhere stories live. Discover now