4. Falhar perigosamente.

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Louis nunca antes esteve em uma situação que não soubesse controlar. Pares de olhos o encaravam por dias pedindo por respostas que ele definitivamente não tinha. Os homens que havia enviado para a fronteira seguiam desaparecidos, assim como qualquer resquício que o alfa outrora tivera de que os encontraria; nenhuma pista fora deixada para trás, nada que indicasse o porquê ou como. Qualquer passo que Louis deu ou daria dali em diante seria em puro e qualquer escuro.

As semanas seguiam-se de forma maçante; os dias do alfa se resumiam apenas à seu escritório, onde ele passava dias e noites virado, contatando com chefes das outras matilhas e procurando por vestígios, sem resposta alguma.
Não demorou para que as famílias dos desaparecidos fossem bater em sua porta; mulheres e filhos histéricos cobrando do alfa algo que não era de seu controle. Louis temia que uma rebelião ocorresse em breve.



Quanto à Harry, sentir-se fora de seu próprio corpo era quase como natural. Sentia sua pele fadigar-se à medida em quê os dias corriam, de certa forma se acostumando com as mãos trêmulas; os passos não eram mais firmes, como se cada cômodo ainda fosse desconhecido, apesar dos meses ali. Eram incertos e trêmulos; o sono que já era difícil tornou-se uma batalha à travar todas as noites, e uma batalha consigo mesmo era a pior de todas quando se estava sozinho.

Se olhar no espelho era uma raridade, odiava encarar-se e se deparar com os olhos fundos e opacos fazendo um contraste mínimo com os lábios rachados e arroxeados.
O emaranhado de cachos tornaram-se cada vez mais oleosos à medida que a força de vontade em seu interior se esvaia e lavá-los era um esforço que ele sequer fazia. Aos poucos Harry se entregava ao abismo que havia se tornado o seu espírito.

Os dias para o ômega deixaram de ser monótonos em seguida ao desaparecimento dos homens que trabalhavam para o seu esposo. Algumas semanas após o fatídico dia a casa que também era de Harry, fora invadida por cheiros desconhecidos; era angustiante para o ômega ter pessoas estranhas batendo em sua porta, os feromônios exalando de uma única vez sentimentos ruins que misturados com toda a sua agonia já existente piorava tudo.

Se antes Harry tinha uma pequena porcentagem de contato com seu esposo, hoje ele poderia dizer que essa porcentagem não mais existia.

Louis havia deixado de dormir em seu quarto à três dias atrás, e à três dias Harry vêm vivendo miseravelmente; se arrastando por entre as cobertas buscando todo e qualquer vestígio do alfa que outrora estivera ali. Se emaranhando nos lençóis em busca de um único fio de tecido que ainda exalava os feromônios de Louis. Era deplorável.

No quarto dia sem a presença de Louis em seu ninho, o ômega recebeu uma ligação de sua mãe. A voz doce alcançou os seus ouvidos transmitindo um sentimento acolhedor de lar; ele se lembra de ter fechado os olhos por alguns minutos e apenas se afundar nas lembranças que eram banhadas por abraços quentes e a tão confortável sensação de estar em paz. E após emergir em tantos sentimentos ele se permitiu, pela primeira vez morando ali, chorar.

O peito se afundando de forma lenta e maçante enquanto as poucas lágrimas escorriam silenciosamente, e após respirar fundo, ele pôde confirmar à sua mãe que estava bem.

"Você têm se alimentado, filhote?" O tom preocupado soou através do celular.

A resposta era não. Harry não têm se alimentado; não por falta de vontade ou falta de apetite, ele simplesmente não conseguia se alimentar devido ao bolo que se formava em sua garganta toda vez que algum esforço mínimo era feito. Coisas pequenas como comer haviam se tornado difíceis para o ômega, ele nunca antes havia pensado que mastigar exigia tanta força. Algo que naquele momento ele não tinha.

"Sim-Claro, mãe." A voz incerta falhou por um instante. "Eu-Não o bastante, mas sim." Ele não se sentia confortável em mentir. Na verdade Harry sempre odiou tudo que envolvesse mentiras e a coisa toda, mas ele pensava que depois de mentir para si mesmo podia mentir para qualquer um.

Tolerate It • (l.s) ABOWhere stories live. Discover now