Tolerate It • (l.s) ABO

12. Doméstico e familiar.

Olhos castanhos e assustados o encaravam enquanto ele encarava de volta. O ambiente tácito os engolia num grande silêncio grutal; Louis podia ouvir todas as respirações naquela sala, os instintos mais aguçados que o normal o levando àquilo. A mente confusa em embaraços que ele ainda tentava resolver, os pensamentos girando em torno de todos os acontecimentos recentes: homens mortos, famílias indo embora, crianças sumindo e agora isso. Ele queria correr, o lado humano falando mais alto e lhe mostrando sua total incompetência diante todos aqueles cenários.

A tensão presente ali era palpável no ar. Arranhões e marcas espalhavam-se pelo corpo frágil, pequeno e esguio do filhote à sua frente. Ele podia sentir o olhar de Taylor queimar em suas costas, esperando alguma resposta vinda dele, mas a realidade era que Louis estava perdido.

A cobrança e a expectativa postas nele nunca pesaram tanto em seus ombros como agora. O interior de seu peito afundava-se em angústia, enquanto sua mente criava cenários onde em todos eles ele terminava humilhado e envergonhado como alfa.

"O que faremos?" A alfa sussurrou próximo à ele. Ambos os olhares focados no filhote, ainda amuado e temeroso; os grandes olhos castanhos demonstrando o medo aparentemente, brilhando com as lágrimas que os beiravam. "Eu adoraria ajudar mas já tenho uma filhote e minha ômega dará a luz em breve."

"Procure pela família dele. Enquanto não os encontra ele fica conosco. Meu ômega e eu." Decidiu. Ele presumia que sua Luna não se oporia, não quando pudesse se tornar responsável - mesmo que por alguns dias - de um filhote.

"E como vocês têm estado?" Selena questionou. A cozinha onde eles estavam era quente e confortável; o cheiro de pão doce rondava por todo o ambiente. Um dos gatos do casal se enrolava aos pés de Harry, enquanto vez ou outra a filhote ali o questionava sobre qual lápis de cor usar em sua pintura. Era doméstico e familiar. "Eu presumo que bem, o cheiro do alfa está impregnado em você." Ela riu tímida. As bochechas de Harry coraram com a constatação.

"Nós estamos bem. Quero dizer- ele é carinhoso e me trata muito bem." Aquelas palavras eram novas para ele. Estar com Louis nestes últimos dias têm sido como vivenciar o verão em todas as épocas do ano. É quente, refrescante e o faz sentir-se bem.

"Isso é tão bom, Luna! A matilha mal pode esperar pela vinda dos seus filhotes." Disse doce. Harry sentiu-se aquecer por dentro; ele também desejava aquilo. Sabia que ainda era cedo para qualquer tentativa de filhotes, sua aproximação com seu alfa ainda era recente e remansada.

Antes que o ômega pudesse responder à outra, o cheiro de seu alfa invadiu todo o cômodo, tirando dele quaisquer palavras apenas para sentir o aroma de avelã e café que emanava do mesmo. Louis no entanto não estava sozinho; as mãos no ombro de uma figura pequena em sua frente deixavam em evidência aquilo.

Era, notoriamente, um filhote. Cabelos e olhos castanhos, Harry podia observar com clareza alguns ferimentos ali; o instinto ômega falando mais alto e fazendo o lobo dentro de si grunhir por ver um filhote - mesmo não sendo seu - machucado.

Foi preciso apenas um olhar franzido para o alfa entender que o seu ômega tinha dúvidas.

"Ele é um dos filhotes que desapareceu." Ele explicou antes mesmo da sua Luna lhe questionar.

"Céus." Ele se levantou. Passos calmos mas ansiosos indo em direção ao pequeno e frágil ômega - ele notou ser -, parando à sua frente e abaixando para lhe alcançar. "Você deve estar assustado, querido." Murmurou baixinho para que apenas o filhote escutasse. A voz saindo melodiosa e cuidadosa, mesclando com o olhar doce que era dirigido ao mesmo.

O filhote apenas assentiu. A franja lisa caía bagunçada sob seus olhos, grande o bastante para fazê-lo levar as pequenas mãos à todo instante para puxá-la para os lados. Foi ali que Harry notou o roxo nos dedos; o coração apertando em seu peito, o ômega dentro de si gritando para que cuidasse daquilo.