Tolerate It • (l.s) ABO

9. O tempo todo.

Harry se lembra da última vez em quê sentiu tanto medo. Ele ainda era criança quando aconteceu; era verão na Noruega, apesar de frio a estação fazia jus á sua função e lhes aquecia com o seu sol, que mesmo mínimo ainda lhes agraciava com seus raios. Ele se recorda de correr pelos campos verdejantes com neve derretida no gramado; um sorriso arteiro estampava o seu rosto enquanto uma das mãos mantinha uma rede suspensa ao ar, Harry estava pegando borboletas.

As botas amarronzadas se dobravam vez ou outra com os passos desajeitados, ele mantinha a sua ''presa'' à vista, adentrando mais e mais o extenso caminho que abrigava a floresta particular que sua família possuía na propriedade. Os olhos verdes se mantinham presos no inseto flutuante, hipnotizados com a cor amarela que ele ostentava; Harry só queria pegá-la por um instante, observá-la e então a devolver para o campo por onde ela voava.
No entanto, em um dos tropeços desajeitados ele foi ao chão.

Os joelhos latejando devido à dor e a queimadura da neve abaixo deles, pressionados no chão assim como as pequenas e alvas mãos. A rede jogada pouco longe de seu corpo, o pequeno ômega resmungava em dor enquanto se levantava, levantando também os seus olhos para encontrar logo a sua frente um enxame de abelhas. Muitas delas sobrevoando uma das árvores; Harry era alérgico à elas.

Ele se lembrava de como o ar de seus pulmões fora sugado para fora; a agonia em seu peito e no resto do seu corpo como se estivessem lhe roubando a vida. E naquele instante, enquanto segurava as adagas em sua mão e um cheiro que não pertencia àquele lugar invadia suas narinas, Harry sentiu como se estivesse novamente sendo picado por inúmeras abelhas. O sentimento era o mesmo.

"Ômega, o quê é isso?" A voz de Louis reverberou sobre o cômodo; elevando o olhar assustado até o alfa parado na porta, o olhar de Louis caindo sob sua mão trêmula.

"Eu- Alfa, isso não é seu." Disse óbvio. Não era o cheiro de Louis ali; o olhar assustado pela possibilidade de não estar seguro em sua própria casa, a respiração engatando em arfares ligeiros enquanto mordia os lábios em nervosismo.

"Não, não é. E eu vou cuidar disso mais tarde." Louis estendeu sua mão, um pedido silencioso para que o ômega lhe entregasse os objetos, recebendo um aceno negativo logo em seguida.

"Você acabou de acordar e o seu cheiro ainda está forte, não pode arriscar deixá-lo nelas!" Exclamou baixo, sua mente vasculhando onde poderia esconder as adagas. "Se deixaram aqui é porque sabiam que alguém iria procurar em breve, temos que dar um jeito alfa!" Ele ainda se mantinha calmo, no entanto Louis podia sentir em sua marca o nervosismo e a necessidade de protegê-lo, mesmo sendo um ômega.

Louis se aproximou. Os passos leves em direção ao esposo; Harry ainda mantinha a respiração pesada quando Louis o rodeou com seus braços, a mão do alfa levando calmamente a cabeça de Harry em direção ao seu pescoço, sentindo o ômega se acalmar enquanto compartilhava do seu cheiro. Os feromônios se expandindo através de seu corpo, deixando Harry amolecer em seus braços; ronronando com os dedos do alfa pressionados em sua pele, numa massagem calma e silenciosa.

"Quero que se acalme, ômega." Sua voz era baixa. A ponta do seu nariz estava pressionada nos cachos no topo da cabeça de Harry, inalando o cheiro natural de frutas vermelhas que ele possuía. "Não quero que ocupe sua mente com isso quando sou eu quem tem o dever de protegê-lo. E não irei hesitar à fazer isso."

Eles estavam na sala. Algum documentário sobre espiritualidade passava na televisão, não tão interessante para que alguém de fato prestasse atenção. Harry se enrolava ao cobertor vermelho, o mesmo com o cheiro de Louis; um de seus pés estava timidamente para fora dele, os dedos se enrolando de maneira suave na lateral do moletom que o alfa usava.
O silêncio ali era acolhedor, apenas o som baixo da tv acompanhado pelos sussurros de Louis que mantinha um de seus inúmeros livros em mãos. Os olhos se revezando entre as páginas e o ômega encolhido ao seu lado.
Louis parecia tão quente e aconchegante em suas roupas; Harry tinha quase certeza de que as mãos do alfa se encontravam quentes, prontas para lhe aquecer com seu toque. Mordendo os lábios em uma dúvida silenciosa ele se aproximou.