6. Sol e flores em dezembro.

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A risada alta e infantil misturava-se com o som dos passos pisando em galhos e folhas secas. Os corpos correndo e escondendo-se por entre as árvores enquanto a neve que caía sob eles não era importante naquele momento. A brincadeira causava risada de ambas as partes, divertida demais para ousarem parar, apesar do dia escurecendo e findando-se aos poucos para algumas horas depois dar lugar à imensidão negra da noite. No entanto, mais uma vez, eles não podiam se importar menos.

"Você nunca vai me achar!" A voz infantil e risonha de seu irmão chegou aos seus ouvidos o fazendo rir. Escorado em uma árvore, ele tinha os olhos cobertos pelo próprio braço, pronto para iniciar uma contagem.

"Eu sempre te acho." Falou alto o suficiente. Ele já ouvia os passos do pequeno se afastando de si, longe o suficiente para lhe fazer procurar por alguns minutos.

Assim que descobriu os seus olhos, todo o lugar em sua volta emergiu-se em completo silencioso, exceto pelo som das aves nos galhos altos das árvores ou do barulho do vento arrastando a neve lenta para o Sul. Ele girou o seu corpo, sorrindo por depois de alguns segundos ouvir um barulho vindo de trás de uma árvore, achando ter encontrado seu irmão, correu serelepe até lá, apenas para encontrar um esquilo se entocando em um tronco.

Franzindo o cenho ele retomou as buscas, uma leve estranheza apossando-se de seu corpo. Austin não era tão bom assim em se esconder, em suas brincadeiras o ômega não demorava mais que três minutos para achar o irmão.

Novamente ele pôs-se à procurar. Rodeando as árvores, agora ofegante e suando em ansiedade.

"Austin? Já chega de brincar." A voz afobada saiu trêmula pelos lábios rosados. "Austin, vamos! Mamãe vem nos buscar logo logo, não é engraçado."

Os seus lábios tremiam enquanto ainda corria em direção ao nada; os olhos estavam assustados e marejados em lágrimas, seus pés já estavam cansados e tudo ao seu redor era apenas árvore e neve. A brincadeira havia perdido sua graça.










O corpo não mais cansado se levantou cedo naquele dia. Dormir não estava mais sendo um problema tão grande, Harry sentia-se um pouco melhor, ainda quê sua aparência não estivesse mais agradável aos seus olhos. Os lábios roxos e rachados ainda eram um problema para ele, e Harry pegou-se mordendo-os no intuito de torná-los mais rosados, no entanto isso ocasionava à feridas e cortes nos mesmos. Então ele simplesmente parou, apenas se contentando com a imagem feia que refletia nos espelhos de sua casa.

Porém, apesar de não sentir dor em seus ossos como antes, o ômega sentia-se doente. Especificamente, gripado; ele sentia o seu nariz se entupir com um simples respirar, assim como sua garganta reclamou ao abrir levemente os lábios.
Os pés descalços tocaram o chão gélido pela prima vez naquela manhã, movendo-se após estirar os braços e seguir em direção ao banheiro. Ofegando ao notar a bagunça que Louis havia deixado ali, senão naquele dia, provavelmente na noite passada antes de dormir; havia uma típica camiseta preta fora do cesto, largada ali como uma peça descartável, no entanto o ômega sabia que era uma de suas preferidas. Não graças ao seu marido lhe contar, claro que não, suas conversas estavam cada vez mais inexistentes; no entanto Harry sabia daquele detalhe apenas por notar inúmeras peças de roupas do alfa em seu closet e apenas aquela ser priorizada o bastante para ser usada mais de uma vez na semana. Não hesitando, ele pegou o pano em suas mãos; os dedos compridos enrolando-se no pano macio como se o mesmo tivesse um valor maior ou significativo o bastante para aquilo, o aproximou de seu rosto e inspirou o aroma forte que pertencia apenas ao seu alfa.

O cheiro do perfume era apenas um vislumbre, sendo todo coberto pelo aroma típico de café e avelã de Louis. Tão inebriante a ponto de deixar o corpo do ômega em estado de relaxamento, ele desejou levar aquela peça para o seu ninho e dormir com ela em seu nariz, no entanto não sabia qual seria a reação de Louis diante àquilo. Então, relutantemente, ele a colocou no cesto e se afastou para terminar o que pretendia fazer naquela manhã, mesmo que doente.
Assim que pôs-se à descer as escadas o ômega pôde sentir o cheirinho delicioso de chá, por vezes quando estava na sala e em raros momentos que Louis saía do escritório para ir à cozinha, ele podia sentir esse mesmo cheiro, e então o alfa voltava com uma xícara em suas mãos.

Tolerate It • (l.s) ABOWhere stories live. Discover now