2. Grande vázio e Mistério.

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Harry constatou que Louis não era muito de falar, ou não era muito de falar consigo. O ômega compreendia no entanto, talvez houvesse uma estranheza pelo casamento tão célere como foi o deles. Pensava que seu marido pudesse ser um tanto mais retraído quanto ele, sua mente criava cenários e mais cenários no intuito de levar para longe o pensamento de quê talvez ele somente não fosse desejado ali. Simples. Porém doloroso de se pensar, seu ômega interior não aguentaria tanto.

O seu segundo dia ali se seguiu calmo após a visita da amiga de Louis e sua esposa. Harry gostou de ambas, eram divertidas e vez ou outra o incluíam nas conversas, no entanto as respostas do ômega eram sempre curtas e baixas, nunca querendo as atenções dos olhares para si.

Com o cair da tarde, após seu banho, Harry se atreveu a dar batidas tímidas na porta do escritório de Louis. Sabia que o marido era um alfa ocupado e pedia internamente para que não fosse repreendido pelo seu ato. A questão era que Harry era curioso, o esmalte perolado em suas unhas fora arrancado pelos seus dentes em pura ansiedade para abrir as embalagens pousadas no sofá, não o faria sem seu alfa. Jamais.

Por entre a madeira conseguia sentir o cheiro tão marcante de café e avelã que provinha de Louis. Tão relaxante que ele demorou alguns segundos para ouvir a permissão do mesmo à sua entrada.

Tímida e retraidamente o ômega colocou sua cabeça no pequeno vão de abertura da porta, passando os olhos rapidamente pelo escritório simples: escrivaninha, sofá, estante e janela.

Louis repousava sob a cadeira de couro em frente à mesa, os cabelos em sua testa numa bagunça-arrumada, Harry definiria. Uma caneta na ponta dos dedos e os olhos atentos esperando que o ômega falasse algo. Visto que não o faria, ele mesmo o fez.

"Pois não, ômega." A sua voz rouca passou por entre os ouvidos de Harry indo até o seu interior que agitou-se no mesmo segundo por ter o seu alfa chamando-lhe assim.

Ele sorriu contido. Louis notou. Adorável.

"Eu gostaria de saber se não quer abrir os nossos presentes comigo, alfa? Estão aí desde à manhã." Questionou com os olhos mantidos no chão, o medo da repreensão era inevitável, mesmo que não sentisse no alfa nenhuma ameaça por seus atos. Era seu instinto agir assim.

Notou a quase demora por uma resposta. Apesar de não o olhar nos olhos, o ômega sabia que seu marido estava ponderando sobre o pedido. O que ele não entendia era o porquê, não parecia ser uma tarefa que exigisse muito além de uma pequena proximidade. Mas até isso o alfa se recusava a ter? Não, Harry definitivamente não queria pensar nisso.

"Eu iria adorar, ômega. No entanto tenho alguns assuntos que não podem ser adiados. Mas tem a minha permissão para fazê-lo sozinho." Voz baixa e mansa. Nunca em tom alterado ou que expressasse algo além do grande vazio e mistério que era identificar qualquer que fosse a emoção do alfa.

Harry poderia classificar aquele momento como a maior junção de palavras que Louis dirigiu à ele em dois dias. Era um pequeno progresso que o ômega anotava mentalmente, sentia-se tolo e até mesmo infantil por se contentar com tão pouco; mas o que ele faria, afinal? Se era apenas aquilo que lhe era dado.

O ômega se limitou apenas à um anuir de cabeça antes de fechar a porta. Respirou fundo, uma, duas, três vezes. Era aquela a vida que dali em diante estava fadado à viver.





Não mais animado que antes, Harry se sentou no estofado do sofá e pôs-se a desenbrulhar as embalagens que eram compostas por papéis rústicos, provavelmente papel Kraft. Tinham laços feitos por fitas de palha. E ele sorriu com a delicadeza em que foram feitos cada um.

O primeiro que abriu eram conjuntos de tecido para o ninho do casal. Alguns de seda com detalhes rendados e estampas, outros eram apenas lisos em cores claras e delicadas. Haviam muitos desses, todos em tons pastéis em homenagem ao recente casamento.

Tolerate It • (l.s) ABOWhere stories live. Discover now