010. trégua

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— Se vocês duas continuarem com essa conversa eu vou ter que separar vocês.

Mrs. Gillard chama a minha atenção e a de Sarah de novo. Acontece que teve uma mudança na grade de horários e tínhamos uma aula juntas quase todos os dias da semana. O que é maravilhoso, principalmente na aula de Biologia. Geralmente, todas as aulas da grade de matéria, eu caia com um Pogue diferente. A única que eu não fiquei nem com JB, Pope ou Sarah era essa, Biologia II. Ao invés de um deles, era JJ. O que é o mesmo que nada, porque ele tem fama de matar qualquer aula que exija o mínimo de pensamento lógico.

Então eu agradeço aos céus por Sarah estar aqui (mesmo que Mrs. Gillard não).

Porém, nada que vem bom vem perfeito. JJ decidiu não faltar hoje também. Suspeito que é porque a ruiva novata da grade de Artes faltou hoje e estragou toda a agenda de ficantes dele.

Sarah pede desculpas a professora novamente e sussurra um "velha chata"no meu ouvido antes de se ajeitar na cadeira da frente. Eu suspiro e termino de copiar o ciclo de vida de uma planária que eu deixei pela metade no caderno.

A turma cai em completo silêncio enquanto a professora termina de copiar o tema de um seminário sobre um reino animal qualquer no quadro. Na verdade, não sei nem se posso considerar silêncio. É mais pra uma ação pesada do Sandman nesses jovens escravos do sistema escolar americano. Metade da sala dorme profundamente. Surpreendentemente, JJ e o resto dos vagabundos que o seguem como se ele fosse o próprio Jesus estão bastante despertos, rindo sobre algo em comum que viram no celular, provavelmente um grupo entre eles. Parece que JJ quem mandou a mensagem, porque todos o encaram enquanto quase morrem de rir.

— Às vezes tudo que eu precisava era de um segundo réu primário só pra eu poder gastar o primeiro. — sussurro para Sarah e a ouço rir.

— Me surpreende que você não precise de três.

*

— ...viroses e a recorrência... nas áreas de... carência. Acabei.

— Tô quase acabando. Essa mulher escreve demais. — a loira reclama enquanto rouba uma caneta roxa do meu estojo.

— Pelo menos é só pra próxima semana. Acho que você consegue ir lá em casa na sexta e a gente faz isso tudo rapidinho. — eu murmuro, na esperança de Mrs. Gillard não chamar nossa atenção mais uma vez.

— É... Talvez. Mas não é comum que Gillard nos deixe escolher nossa própria dupla. Ela geralmente faz sorteio ou combina pela lista alfabética.

Eu bufo.

— Qual é? Ainda fazem isso em pleno século 21?

— Pois é. Ela é a única que faz isso. Nossa única esperança é de cairmos juntas no sorteio ou mudar meu nome no cartório em... — ela olha o relógio — 20 minutos.

Eu rio. No volume 0, claro.

Mas começo a pensar. Lista alfabética. Kiara Carrera. A, B, C, D, E, F, G, H, I, J... K. Kiara Carrera. J. JJ Maybank.

Eu mordo a língua pra não soltar um palavrão.

Ok, tudo bem que ainda tinha a chance de que eu caísse com alguém com a letra L, mas só o pensamento de ter uma possibilidade tão próxima de fazer um trabalho acadêmico com o maior vagabundo do colégio era aterrorizante.

Mas Sarah parece perceber a mesma coisa que eu quase no mesmo instante que eu, porque um sorriso enorme brota no rosto dela e ela ergue a mão lentamente para a professora.

— Sim, srta. Cameron? — a velha responde assim que a vê.

— Vai ser por sorteio ou por lista alfabética? — a loira pergunta com a voz mais angelical do mundo, como se a professora não tivesse gritado conosco uns instantes atrás.

JJ e Kiara - Onde o Amor ComeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora