009. - Eu não gosto de você, Carrera.

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Ela já ficou assim antes.

— O que é isso?

— Convulsão?

— Não sei.

— Aqui o gelo.

— Alguém molha minha saia com a vodka?

— Põe embaixo do nariz dela.

— Ela está consciente?

— Não balança ela, JJ.

Os burburinhos me despertam. Na verdade, não tenho certeza se foram eles ou um pedaço de tecido fedendo a vodka barata embaixo do meu nariz.

Eu viro a cara na hora, uma gota de vodka caindo no meu olho.

— Puta que pariu!  — eu levo minha mão para manter meu olho fechado — Quem foi o maluco que teve essa ideia?

Completo silêncio.

Abro o olho bom, mordendo o lábio com a ardência do outro.

Sarah, John B e Pope me cercavam. Nenhum dos três sabiam o que falar, como se tentassem entender o que acabara de acontecer e porque eu não estava com nenhuma reação tão chocada quanto a deles. Pope segurava dois cubos de gelo enrolados na bandana dele.

— Você está bem? — Sarah me pergunta, se aproximando de joelhos.

— Estou. Só um pesadelo. — eu sussurro, ainda um pouco grogue.

Viro minha cabeça para cima, a luz da fogueira me cegando.

JJ Maybank estava segurando meu rosto. Esse tempo inteiro, ele estava sentado segurando minha cabeça em seu colo.

Ele me olhava da forma mais estranha possível, então quando eu me deparo com o rosto dele, me encarando, me sento pelo susto.

— Porra, Maybank! — meu coração está acelerado.

O resto dos Pogues fazem menção de rir, mas JJ os repreende.

— Você está bem? — é ele que me pergunta agora. Vejo pelo canto do olho Sarah morder a bochecha e John B coçar o nariz.

Não tenho certeza de como descrever a expressão do loiro na minha frente. A sobrancelha franzida, os olhos azuis inexpressivos iluminados pela fogueira, mas a mandíbula tão travada que parecia doer. Algo que ficava na linha tênue entre raiva, incerteza e preocupação.

Mordo minha bochecha e suspiro. O vento gelado da praia sopra em meu rosto, e quando sinto o frio, percebo que estava chorando. Muito.

— Foi um pesadelo. — eu digo, mas não os olho nos olhos. Nenhum deles.

Não sei se Sarah sabe do que aconteceu com minha mãe, mas eu imagino que não. Rose ainda não era casada quando conheceu minha mãe, e imagino que o assassinato de uma antiga colega não fosse tópico de conversa com sua enteada. Além disso, ela nunca questionou o porquê minha mãe não veio conosco.

— Quer nos contar sobre o que aconteceu? — minha amiga pergunta, sentando ao meu lado e segurando minha mão — Talvez você se sinta melhor.

Eu levanto minha cabeça para a olhar, um sorriso de apoio nos lábios fartos dela.

Não quero falar sobre isso. Não quero que ninguém saiba, porque não quero a pena de ninguém. Mas eu sei que eles vão perguntar. É inevitável. É o natural. Acabaram de me ver na minha pior fase, cogitaram que eu estava tendo uma convulsão ou até um desmaio. Se Sarah não tivesse uma resposta sobre o que diabos havia acontecido comigo, provavelmente marcaria uma consulta de emergência para o pai dela me examinar. Ele ia ver que eu havia emagrecido, minhas olheiras super fundas e escuras que eu tanto escondo com corretivo e meus indícios de taquicardia que denunciariam minha síndrome de Estresse Pós Traumático.

JJ e Kiara - Onde o Amor ComeçaМесто, где живут истории. Откройте их для себя