006. silas

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Era dia 13 de novembro de 2018. Eu tinha 14 anos e um namorado. Silas, o nome dele. Silas era loiro, bronzeado e tinha olhos verdes. Ele não fazia faculdade, porque era instrutor de surfe. E, claro, ele devia fazer faculdade pois enquanto eu tinha 14, ele tinha 19. Eu prometi a mim mesma que ia falar para os meus pais do namoro quando eu completasse 14 anos, porque eu não aguentava mais esconder isso deles. Na minha mente infantil e manipulada, eles iam aceitar o relacionamento porque eu o amava. Eu amava Silas. Isso me corrói a alma. Eu o chamei para um jantar na minha casa e avisei meus pais que teríamos um convidado especial.

Nós estávamos namorando há três meses e ele me amava. Eu tinha certeza que ele me amava muito, assim como eu amava ele. Quando eu estava longe dele, meu corpo doía. Silas sempre estava comigo. Sempre perguntava onde eu estava, com quem eu estava, pedia minha localização, me ligava todo minuto para dizer que me amava. Isso é amor, não é? Amor. Verdadeiro. Eu amava tanto ele que comecei a pensar que não precisava de mais ninguém. Me afastei de amigos e família por ele. Então, em um ponto, fomos só eu e ele. Eu e Silas contra o mundo. Amor.

Eu queria casar com ele, ir para campeonatos de surfe com ele, jantar com ele, fazer tudo com ele. Nossa conexão era forte. Ninguém podia quebrá-la. Foi então que eu o convidei para minha casa. Determinada que meus pais diriam sim.

Mas eles disseram um sólido e determinado "não". Minha mãe estava horrorizada.

— Amor? Kiara, isso é obsessão. Por isso você nunca mais convidou nenhum amigo para casa, é? Por que você não tem mais nenhum? — ela berrava.

Seus cabelos castanho avermelhados estavam ondulados com a metade presa em um adereço de margarida. Presente de aniversário de casamento do meu pai. O vestido dela combinava com a margarida. Branco champanhe, descia em babados delicados até o fim do joelho, apertado o suficiente para destacar as curvas mas não para a parecer vulgar, assim como a gola V discreta e formal. Minha mãe sempre foi uma mulher elegante. Os olhos dela cintilavam, mas eram de raiva. Meu pai não a tentava acalmar, pois ele estava estupefato por si mesmo.

— Sra. Carrera, eu e sua filha nos amamos! — Silas gritou de volta, me segurando contra ele. Eu estava paralisada.

— Amor? Ela é uma criança! UMA CRIANÇA! — é meu pai quem grita dessa vez.

Minha mãe tira os saltos, o joga em um canto da sala de jantar e põe as mãos no rosto.

— Vá embora, garoto. Antes que eu chame a polícia. — ela fala, cruzando os braços, a voz calma, mas nem por isso menos ameaçadora. — E você, Kiara, direto para o quarto.

Silas me segurou mais forte.

— Não escutou? FORA! — meu pai berra, me puxando para ele.

Mesmo forte como um adulto de 19 anos consegue ser, não se compara a força de um pai que está tendo uma filha tomada de si. Quando eu viro para encará-lo, já nos braços do meu pai, não o reconheço. Seus olhos são vermelhos de raiva, e todo o seu corpo parecia entrar em combustão. Suas pernas davam pequenos espasmos e ele parecia a encarnação do ódio. Minha mãe estava impassível enquanto apontava para a porta de saída. Ele foi embora, finalmente. Mas não antes de me encarar. O brilho nos seus olhos voltou. Mas agora, era tomado de loucura.

— Você é minha, Kiara. — ele diz, e vai embora.

Meu pai me solta, e se abaixa o suficiente para me encarar. Ele começa a chorar, e me dá um abraço apertado.

— Meu anjo... Sinto muito.

Os olhos verdes e loucos dele foram como o antídoto para minha paixão cega. Os tremeliques e olhos vermelhos e ódio e ódio e ódio e ódio. Ver Silas daquele jeito foi minha libertação. Eu voltei a mim mesma.

JJ e Kiara - Onde o Amor ComeçaWhere stories live. Discover now