007. Bianca

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Eu vomito tanta água que acho que engoli o oceano.

Aperto minhas mãos na areia molhada da beira da praia para tentar distrair a sensação lactante de fogo nos meus pulmões. Não lembro da última vez que me afoguei, mas com certeza não iria me esquecer desta.

Quando cuspo a última gota d'água, puxo o máximo de ar que consigo. Meu corpo inteiro queima em dor, como se eu fosse um recém nascido na sala de parto que acabou de respirar pela primeira vez. Não seria nada mal dar um reset na minha vida inteira e voltar pro útero da minha mãe. Defunta ou viva. Acho que nem me importa a essa altura do campeonato. Consigo ver algo além dos pontos pretos da minha visão. Puxo o ar novamente. Meus pulmões inteiros parecem estarem sendo torrados em brasa fervente.

— Porra! — xingo por entre arfadas.

— Você ficou maluca?

Espera. Que?

Me viro para enxergar se a voz que eu ouvi era aquela mesma.

— Nem fodendo. — eu suspiro.

Estreito os olhos, minha visão clareando o suficiente para que eu enxergasse a cabeleira loira um pouco perto demais.

JJ Maybank está agachado na areia, sem camisa e completamente encharcado. Ao meu lado. Pisco. Ele não sumiu. Pisco de novo. Ainda aqui.

— O que você está fazendo aqui? — é a primeira coisa que me vem à mente.

— O que você está fazendo aqui? — ele me devolve.

Me forço a pensar. O garoto na praia, a luz da lua, a fuga que eu dei no meu pai. O garoto que me inspirou a vir tomar banho as 21h da noite. O pesadelo. Porra. Eu dormi na prancha.

— Era você o garoto nadando?

— Tá vendo mais alguém aqui? — ele responde, claramente estressado enquanto disca um número no celular, sacudindo as mãos molhadas quando errava algum, com uma agressividade um tanto exagerada.

— O que está fazendo?

— Ligando para Sarah.

Eu puxo o celular da mão dele.

— Não mesmo. — respondo.

Ele me encara e esfrega os olhos com o indicador e o dedão e dá um suspiro. Não parecia disposto pra brincadeiras. Mas não estou brincando, ora. Se Sarah souber disso, não vai demorar para o meu pai saber.

— Devolve a porra do meu celular. — ele pede num suspiro.

— Sarah não pode saber. — eu digo.

Minha garganta coça e arde quando falo e sinto meus pulmões pequenos demais para o tanto que eu preciso respirar só pra dizer uma frase curta. Tento não transparecer porque não preciso da pena de Maybank. Da de ninguém.

Mas acho que transpareço, porque ele suaviza a expressão depois de franzir as sobrancelhas.

— Por que não? — ele pergunta, passando os dedos por entre os fios molhados, o dourado tornando uma espécie de platinado na luz da lua.

Maybank está absurdamente lindo. O cabelo meio seco, o bronze da pele, o abdômen definido molhado e o cheiro forte de maresia.

— Meu pai não sabe que eu estou aqui. — eu respondo. — E não pode saber.

Maybank ri.

— Qual é, morena? De todas as pessoas, não achei que você seria uma das que tem medo de sermão dos pais. — o loiro fala, um sorriso no rosto enquanto se endireita na areia. Os músculos dele se mexem por baixo da pele.

JJ e Kiara - Onde o Amor ComeçaOnde histórias criam vida. Descubra agora