Vamos até a frente da figueira e damos as mãos, um de frente para o outro, fechamos os olhos e oramos.

-Deus, Todo Poderoso, tem misericórdia de teus servos, sabemos de nossos pecados e sabemos das nossas imperfeições mas, por favor, não esconda de nós o teu rosto. Se faça presente ao nosso lado, nos dê forças para persistir nos teus caminhos...- André ora.

-Pai Celestial, tem piedade de nós, não somos merecedores da tua presença, muito menos do teu amor mas, imploramos pela tua companhia. Eu imploro. Deus, por favor, eu sei que nunca me abandonou então me dê um sinal de que ainda está comigo...- oro.

Sinto um tremor em meu coração, como se me aquecesse por dentro, paro inadimplente e estalo os olhos em surpresa.
Lágrimas involuntárias escorrem pelo meu rosto, não são lágrimas de tristeza, eu conheço essas lágrimas. É Deus.
Naquele momento, Deus me fez lembrar de todas as vezes, em que Jesus estava comigo: o meu primeiro dia aqui, quando Ele me salvou daquele demônio, quando Ele curou todas aquelas pessoas... Ele sempre esteve comigo e, agora, não será diferente.

-O que foi? Está bem?- André se preocupa.

A alegria repentina tomou conta de mim, só pode ser Deus.
O Deus que tira o pecado do mundo, o Deus que me salvou.

-Melhor impossível! Você sentiu. Não sentiu?- sorrio.

-Como não sentir?- André sorri ao ver que meus sentimentos haviam mudado.

-Isso é... Que dia é hoje?- finalmente estou disposto a voltar para a vida real, a vida que precisa das nossas atitudes, a vida com pessoas que precisam de nós.

-Bom... Já é o segundo dia desde que...- André é interrompido por mim.

-Amanhã já é o terceiro dia? O que estamos fazendo aqui? Temos que reunir todo mundo.- puxo para voltarmos a cidade, correndo.

-Você voltou.- André sorri.

Apenas sorrio de volta.
Ele me trouxe de volta.

Vamos correndo até a cidade, acabo esbarrando em uma mulher e derrubo suas coisas.

-Me desculpe...- a ajudo a ajuntar, tudo, de pressa.

-Melissa?- e mulher me reconhece.

-Lena?!- a abraço, aliviada.

-Que bom que está bem, fiquei tão preocupada.- Lena retribui o abraço.

-Pensei que tivessem voltado para Cafarnaum.- diz André.

-Mateus comprou uma casa na cidade, todos estamos ficando lá por enquanto.- Lena explica.

-Todos estão com vocês?- pergunto.

-Não, faltam: Judas e Simão. Todos nos dispensamos, por um tempo mas, agora só faltam os dois.- Lena conta.

-Não vamos nos preocupar com Judas tão cedo.- tento evita-lo.

-Eu sei onde Simão está.- André diz.

-Quando se reunirem, vão até a nossa casa.- Lena se despede.

-É por aqui.- André pega minha mão e me leva até o barco de Simão.

Ele acabou de voltar de uma pesca mas não pegou quase nenhum peixe.

-O que está fazendo aqui?- pergunto me aproximando do barco.

-Pescando. Não está vendo?- Simão responde com grosseria.

-Ela quiz dizer: Por que?- André me defende.

-É o que me restou para fazer.- Simão não para de mexer nas redes, parece que quer nos evitar.

-Quer largar essa rede? Jesus te fez um pescador de homens! Por que ainda insiste em voltar para um barco, rodeado de peixes?- me revolto com sua falta de atenção.

Simão apenas me ignora.

-Pedro!- chamo sua atenção por um minuto.

Ele para e, se vira para nós, lentamente.

-É o nome que Jesus me deu.- Simão lembra, desanimado.

-Ele amava você Simão, assim como você o amou.- André tenta consola-lo.

-Eu o neguei.- Simão reluta.

-Três vezes.- cito.

-Não tá ajudando...- André reclama para mim.

-Desculpa... O que estamos tentando dizer: é que você errou, e nos decepcionou muito.- digo sem pensar.

-Você continua não ajudando...- André reclama novamente.

-Mas ainda pode concertar isso!- insisto no meu argumento.

-Ele deve me odiar, depois do que fiz.- Simão reclama.

-Não, Simão, Jesus nos amou e amou profundamente até o fim.- cito as mesmas palavras que André me disse mais cedo.

André olha para mim, orgulhoso e sorrindo.

-Você já se esqueceu porquê Ele veio pra este mundo? Ele veio para apagar os nossos pecados, inclusive os seus.
Então quando Ele carregou a aquela cruz, Ele fez por você. Mesmo sabendo o que você fez.- digo.

-Eu não mereço.- Simão esconde seu rosto enquanto desce do barco e vai ao nosso encontro.

-Nenhum de nós merece, Simão.- André o abraça.

Fico observando o momento entre irmãos, enquanto Simão banca o durão e tenta não chorar.

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A Discípula que Veio do FuturoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora