A Discípula que Veio do Futuro

7- Haja Energia

   Ainda com os olhos fechados, lutando contra o sono, posso ouvir os pássaros cantando do lado de fora da tenda, nunca pensei que dormir no chão seria tão confortável.
   A manhã está úmida e fresca, posso ouvir algumas vozes ao longe e alguém se mechendo em minha tenda. Me esforço para abrir os olhos e ver quem é...

   –Maria?– Me assusto ao perceber que ela já havia arrumado sua cama.
   –Eu dormi de mais não foi? Eu sabia que isso iria acontecer!– Me levanto de pressa.

  –Não! Está tudo bem, eu é que costumo levantar um pouco mais cedo.– Ela diz tentando me acalmar.

  –Ah.– Respiro aliviada.
  –É um bom hábito, acho que vou começar a fazer isso também.– Fecho os olhos novamente, acho que levantei muito rápido e minha pressão baixou.

  –Está tudo bem?– Maria se preocupa ao arrumar seus cabelos e colocar seu lenço lilás na cabeça.

 
  –Sim, só estou respirando um pouco.– Não acho que Maria entenderia se eu dissesse que minha pressão baixou, apesar dela parecer jovem e bem experta, o termo "pressão" ainda não deve existir.

   –Ah, claro.– Ela concorda aliviada.
   –Bom, se precisar de alguma coisa eu estarei preparando desjejum. – Ela sorri em despedida.

 
   –Claro, eu logo vou lhe ajudar, só vou arrumar minha cama.– digo e logo começo a me arrumar.

   Saí da tenda ao terminar tudo e já pude avistar Felipe e Simão conversando, fui na direção de Maria para ajudá-la.
   Fui colocando os copos e os pães na mesa e logo pude avisar Simão se aproximar.

  –Bom dia Melissa.– Ele cumprimenta animado.

  –Bom dia Simão.– Retribuo a animação.

  –Esses são: meu irmão caçula, André...– Ele aponta para um rapaz simpático, não muito alto, de cabelos encaracolados.
  –E Felipe.– Ele aponta para o maior que já parecia mais velho.

   –É um prazer conhecê-los.– Digo com um sorriso simpático.
   –Mas acho que já ouvi falar de vocês antes.– Tento me lembre que eles foram na bíblia mas não consigo.

  –Bom, nós éramos discípulos de João Batista até um tempo atrás.– André pega uma maçã da mesa e se prepara para morde-la.

   –André!–
   –Não!– Simão e Felipe o impedem de comer.

   –Não pode comer antes do mestre se acertar á mesa.– Simão chama a sua atenção e André devolve a maçã rapidamente como se nada tivesse acontecido.

   –Falando no mestre... Onde ele está? Todos já se levantaram e ele não está aqui.–  procuro entender.

   –Jesus sempre sai antes do sol nascer para orar em secreto.– Felipe explica e faço um sinal mostrando que entendi.

  Um moreno baixinho de casaco branco se aproxima de nós e Simão junto de André fazem uma cara de desprezo ao contrário de Felipe que permanece sorrindo.

  –Desculpe interromper a conversa...– Ele dirige a palavra a nós.

  –Pra você é sempre um prazer interromper, Mateus.– Simão o interrompe como se odiasse a sua presença.

 
  –Simão.– Felipe o repreende.

 
  –...Mas está faltando copos na mesa, apenas essa quantidade não é suficiente para todos nós.– Mateus prossegue.

  –Não se preocupe Mateus, eu ainda não terminei de pôr a mesa mas vou fazer isso agora mesmo.– Digo e logo saio.

   Ao sair posso ouvi-los ainda resmungando, Simão parece odiar Mateus com todas suas forças e Felipe parece defende-lo, André fica apenas observando mas dá a entender que ele concorda com Simão.
   Não gostei de ser corrigida mas entendo que Mateus só queria ajudar e estava preocupado que faltassem copos para alguém.
   Jesus finalmente chegou causando o fim da discussão apenas com sua presença, parece que Simão esconde o fato de que não gosta do Mateus quando Jesus está por perto.
   Nos sentamos todos á mesa e comemos o desjejum, Jesus sempre dando um de seus famosos discursos e nos divertindo é claro.
   Ao terminarmos de comer, cada um se dirigiu para sua tenda e desmontamos o acampamento para irmos até o casamento, tenho a impressão de que caminharemos bastante pois Mateus disse á Felipe que seriam no mínimo duas noites que teríamos de montar o acampamento todo de novo.
   Guardamos tudo e começamos a caminhar na direção da cidade natal de Simão, todos podem ver que ele está animado em visitar a esposa, essa animação não me surpreende, afinal ele é o único discípulo casado, é normal que sinta falta dela.
   Caminhando ao lado de Maria posso avistar André ficando para mais para trás e vou em sua direção para conversar...

   –André.– chamo a sua atenção cochichando.

   –Melissa!– Ele olha para mim animado.

  
   –Então... Você disse que era um discípulos de João Batista? Como era?– Fico curiosa, há muitos relatos de como era ser um discípulos de Jesus mas nenhum de João Batista.

    –Ah!– Ele pega fôlego animado.
    –Por onde começo? Era bem diferente de Jesus, isso é claro.– Nós rimos do seu comentário.
    –Ao contrário do nosso Mestre, o João nem sempre era bem acolhido pelas pessoas. Com Jesus todos nós oferecem comida e lugares para passar a noite, mas com o João às vezes ficávamos sem comer por dias! Para João isso não era um problema, afinal ele se alimentava de insetos!– André diz essa última parte indignado me fazendo rir.

   –É por isso que você come sempre que tem alguma chance?– Completo seu argumento.

   –Eii! Tá, isso não deixa de ser verdade.– ele parece ofendido no começo mas logo entra na brincadeira e rimos juntos.
   –A propósito já estou começando a ficar com fome de novo.– Ele comenta.

  
   –Pega.– Tiro um caqui da bolsa de mão que eu estava carregando e lhe entrego.

   –Não! Mentira! Você é incrível.– Posso ver seus olhos brilharem ao olhar para a fruta em minhas mãos.

  Depois de ele comer a fruta, como se fosse a única coisa que ele poderia comer antes de morrer, ainda conversamos por muito tempo até o dia escurecer.
   Meus pés estão me matando! Felizmente Deus me deu sandálias que suportam longas caminhadas, eu não aguentava dar mais nenhum passa quando Jesus anunciou para montarmos o acampamento aqui mesmo, antes de escurecer.
   Eu amo estar vivendo tudo isso mas sinceramente, comparando com a vida que eu tinha antes, isso é tudo muito cansativo.
   HAJA ENERGIA PARA SER UM DISCÍPULO DE JESUS.

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