30-Bloqueio

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Passei todo o tempo debaixo da figueira, a maior parte do tempo dormi, dormindo não se sofre.
Sinto que muito tempo se passou mas não estou contando, desde que tudo aconteceu, algumas horas parecem dias.
Como se o tempo demorasse a passar.
Estou sentada no chão e encostada na figueira, fecho os olhos desejando que o tempo passa mais rápido. Não quero ver ninguém.
Isso é a coisa mais errada que faço, eles viviam dizendo que unir a todos era a minha qualidade mais admirável mas, agora que todos estão separados, não desejo ver nenhum deles. Eles irão me lembrar do meu fracasso e da visão terrível que tive, de Jesus caminhando até o Gólgota.
Vão me lembrar da brutalidade que Judas me segurava para que eu não desviasse o olhar.
Vão me lembrar de como tudo era mais fácil antes da profecia se cumprir.
Vão me lembrar de quando estávamos todos juntos e felizes, sem preocupação alguma e eu nunca teria decepcionado ninguém.
Vão me lembrar do relacionamento que eu tinha com Deus mas, agora... É como se eu não O conhecesse.
É como se eu nunca tivesse falado com Deus, abro minha boca para isso mas, não sai palavra alguma, apenas o silêncio, como se algo bloqueasse nossa relação.
De onde venho isso tem um nome: Frieza espiritual.
Isso é horrível!
Desprezo esse sentimento!
Eu preciso voltar pra Deus, preciso voltar para onde essas coisas horríveis não existem, preciso voltar pra casa, preciso voltar por céu.

Me levanto, há um enorme precipício, alguns passos de distância da figueira, eu preciso acabar com isso. Preciso acabar com esse sofrimento!
Saio correndo para pular e encontrar a morte certa, talvez assim, o sofrimento acabe.

-Melissa!- André aparece e me segura com toda a sua força para me impedir.

-Me solta! O sofrimento tem que acabar!- me debato para fugir.

-Não é assim que se acaba com o sofrimento!- ele me carrega a até a figueira e me coloca sentada lá, novamente.

-Como conseguem viver assim?- grito indignada.

-Melissa, se acalme.- André diz calmamente tentando ser compreensivo.

-Jesus não está aqui, tento falar com Deus mas parece que minha oração não passa nem das nuvens! E não tenho nem o Espírito Santo pra me consolar.- minhas mãos começam a tremer.

-Espirito Santo?- André fica confuso.

-Você não entenderia.- retruco.

Minhas mãos começam a tremer mais ainda, como da última vez em que fiquei tão nervosa.

-Deus me odeia. Eu fracassei, decepcionei todo mundo.- digo ao me lembrar de todos que podem estar precisando de ajuda agora.

Eu sei que Ele vai ressuscitar mas os outros ainda não entendem.

-Não, Melissa, olha pra mim...- André segura minhas mãos para que elas parem de tremer.
Olho em seus olhos, tentando me acalmar.
-Deus não odeia você, você não decepcionou ninguém, pelo contrário, veja tudo que você fez desde que começamos! Você é a mulher mais cheia de Deus que eu já conheci.- André me acalma.

O ódio e pressão, que havia em meus olhos, se transforma em lágrimas.

-Então por que Ele não me ouve? Eu falo, falo e parece que ninguém está me ouvindo!- choro.

-Eu não sei porque você ACHA que Ele não está escutando. Mas eu sei que Jesus ama você, Ele te amou até o fim e, momentos difíceis, não vão mudar isso.- André acaricia meu rosto, limpando minhas lágrimas.

-Eu só quero senti-lo de novo, sentir qualquer coisa que venha dEle.- desabafo.

-Então vamos orar para que você sinta.- André me incentiva a levantar.

-Eu já tentei, não está funcionando.- reluto.

-Por isso eu vou te ajudar e, não vou sair daqui, até que você sinta alguma coisa.- André me ajuda a levantar.

A Discípula que Veio do FuturoWhere stories live. Discover now