Não posso

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KURT

Assim que descemos do carro, eu já estava enojado. Odiava demais aquele lugar. Quando criança, eu vinha aqui algumas vezes, afinal, eu seria o Rei, no caso do meu querido primo não se casar ou não ter filhotes.

Depois que me tornei o Alfa, eu vim aqui apenas para apresentar a minha esposa e companheira, na época, Alexandra. Então, nunca mais coloquei os pés naquele lugar. Até aquele momento.

—- Vai dar tudo certo — Finn disse e eu juro que queria acreditar naquilo. Pelo amor, eu precisava mesmo acreditar que as coisas poderiam dar certo.

— Alfa Kurt! — Um lobisomem loiríssimo que eu conhecia muito bem, se aproximou de nós com aquele sorriso debochadamente falso. Eu detestava ele!

— Beta Carriel — Eu o cumprimentei, tentando manter um sorriso educado nos meus lábios.

— Beta Finn! É um prazer receber vocês dois! — Ele disse e eu vi naqueles olhos hiper azuis, quase lilás, que ele parecia se divertir com algo.

— Beta Carriel — Finn disse, mais sério do que eu.

— Venham, por favor. O Rei está esperando por vocês — O som condescendente daquele... sério, insuportável!

Nós o seguimos castelo adentro. Eu não estava prestando atenção nos outros lobos em volta, apesar de sentir os olhares. Inclusive das fêmeas, afinal, sabendo que eu sucederia o Rei, elas queriam mais do que tudo ter uma chance para me seduzirem.

Não, não quero soar como se eu fosse cheio de mim. Era tudo relacionado à minha posição, não à minha pessoa. Eu teria que ser um idiota para não saber isso. Até que o Rei finalmente passasse da idade, eu era tudo como um João qualquer, sem importância. Elas me olhavam de cima a baixo com nojo, como se eu fosse menos. Isso, antes. Agora, eu ouvia risadinhas afetadas. Elas que pensassem duas vezes...

Andamos até chegarmos à sala do trono. Era uma sala ampla, imensa, de verdade. Comportaria tranquilamente mais de 500 cabeças naquele lugar. Outro motivo para eu detestar o local. Aquilo tudo parecia extremamente... inútil e fútil, aos meus olhos.

O meu querido primo estava sentado no trono, bebendo o que eu consegui farejar sendo vinho. Não qualquer vinho, era um preparado especialmente ali. Só para ele e para os que ele oferecesse.

Os olhos verdes dele se abriram com interesse e um sorriso sacana apareceu em seus lábios quando ele me viu entrando.

— Kurt! — ele gritou. Ele era o único que me chamava assim em público. As vantagens de ser o Rei, não é mesmo?

— Majestade — Eu disse e fiz uma reverência.

Ele se levantou e andou até nós dois e abriu os braços. Ah, droga! Sim, ele me abraçou. Darius era do meu tamanho, com cabelos negros como os meus. Na verdade, nós dois éramos muito parecidos, exceto pelas minha cicatrizes, claro, e a cor dos nossos olhos. Se não fosse isso, seríamos quase gêmeos.

— Oras, nada dessas formalidades! Meu herdeiro! — Ele era um pouco mais velho do que eu, aproximadamente cinco anos. Ele então viu Finn e sorriu para ele, levantando o cálice no qual estava bebendo. Darius estava bêbado, era óbvio.

— Majestade, digo, Darius, vamos para outro local, sim? Eu preciso conversar sobre algo muito importante com você.

— Pode ser aqui mesmo – Ele disse, bebendo mais um trago do vinho.

Eu olhei para ele, desviei os olhos em volta e voltei a fixar nele.

— O quê? — Eu perguntei e ele gargalhou, dando tapas no meu ombro.

— O seu casamento, é claro! Eu faço questão! O outro não foi assim, mas agora, estamos em uma situação diferente. Giselle vai ser a rainha.

Eu suspirei.

— É sobre isso o que eu quero falar com você.

— Tudo bem. Vamos para a minha sala de estar particular.

Eu concordei e o segui.

O local estava do mesmo jeito que eu me lembrava. As longas e intrincadas pilastras de mármore, o piso de mármore, também, com detalhes e ouro.

Assim que entramos na sala dele, uma fêmea humana estava ali, limpando com um vestido micro. Eu percebi algumas marcas nas pernas dela e franzi o cenho.

— O que diabos é isso, Darius? — Eu perguntei e ele acompanhou o meu olhar.

— Gostosa, não é? — Ele perguntou — Infelizmente, é humana. Caso contrário, eu faria vários filhotes nela.

A rainha não podia ter filhotes. Ele manteve o casamento, mas pelo visto, estava se desviando do motivo de ainda estar casado.

— Por que você não casa com outra fêmea? Além disso, não é contra as regras ter filhotes com humanos.

Ele fez um movimento com a mão como se afastasse algo com as mãos.

— Não, não! Eu já estou cansado. Não para treinar, claro, mas eu não quero mais filhotes.

Ele se deixou cair na cadeira, servindo-se mais ainda de vinho.

— Darius, o que está havendo?

Ele bebeu e me olhou, com um sorriso nos lábios, mas dessa vez, eu percebi como ele estava amargo.

— Hanna não me quer — Ele disse. Ela não me quer na cama dela.

Eu sentei na cadeira em frente a dele.

— Posso saber o motivo?

Ele estalou a língua.

— Ela disse que não quer crianças e nem nunca quis. Ela vinha tomando remédio, você acredita nisso? — Ele disse, irritado — Pílulas humanas! E funcionaram nela!

Eu fiquei calado. O que eu poderia dizer? Após um tempo de silêncio, resolvi tentar puxar conversa.

— Mas se ela toma pílulas, por que te negar sexo?

— Ela disse que não me quer – Ele deu de ombros — Disse que eu sou violento demais. Uso muita força... Eu nunca a machuquei! E ela ficava pedindo mais! Ela me pedia para f*der com mais força, mais rápido, e agora vem com essa! — O rosto de Darius estava mais do que vermelho.

— Hmm... — Mais uma vez.. eu não podia comentar nada. Isso era pessoal demais. O... ato deles. Imaginar Hanna fazendo aquilo era nojento.

Depois de ter levado um par de chifres pela minha primeira companheira, eu não duvidaria que o mesmo estivesse acontecendo com Darius, mas eu jamais falaria aquilo. Até porque eu não tinha certeza e isso poderia causar ainda mais problemas entre o casal.

Resolvi falar sobre o que era da minha conta: o meu casamento.

— Darius... eu não posso me casar com Giselle.

Ele, que antes olhava para a parede, quase fuzilando a pobre, desviou o olhar para mim, como se tivesse ouvido mais do que absurdo.

— O quê? Por quê?

— Dois motivos: o primeiro, eu não a suporto; O segundo: eu tenho uma companheira.

Darius arregalou os olhos.

— Você.. . Você foi presenteado com uma segunda chance?

Alfa Kurt - DEGUSTAÇÃOTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon