Ausência de cor, ausência de alegria.

A Jô, que trabalhava pra nós, tinha dito...ele é triste!
Sim, ele é!
Aquela pele branca, contrastando com vários desenhos misturados e enigmáticos, coberto por aquela roupa escura.
Ele era o torturador da equipe do meu irmão.

Agora ele era o novo dono.

E mesmo assim, ele continuava me olhando como quem pede socorro, por algo que eu nunca, nunca saberia dizer porquê.

Eu passei da porta , pra parede lateral. Eu estava envergonhada , vestia uma camisa gigante de time, que havia roubado do meu irmão, calcinha e mais nada.
Levo a mão, institivamente ao cabelo, porque da ultima vez que olhei, há alguns minutos atrás ali no espelho que agora reflete as costas dele, estava bagunçado, desalinhado.

Fico sem jeito, muito sem jeito!
Ele inteiro.
Eu desmontada.
O brinquedo era quem?

_Eu não acredito que você não atenderia a um pedido meu... - Ele diz, me olhando sutilmente_ Mas vejo que realmente...

_Não! - Corto, brusca.

Ele levanta o olhar e ajusta a postura. Cão em guarda.

_Eu nem entendo o que você pensa que está fazendo aqui, Ramon... - olho pra porta e de novo pra ele _ cara, eu fui te ver na sexta e... Seguro a barra da camisa e passo da parede para a cômoda, onde acima estava a tv. Estava tentando não mostrar muito o meu corpo, não estava a vontade

_ ...e você nem sequer me deu chance! - concluí

_Alice, eu..

_ Pelo amor de deus! Me poupa? Sério mesmo! - Estreitei os olhos pra ele, fingindo falta de paciência, ou sei lá...talvez eu realmente estivesse sem nenhuma, após tudo!

Porra... Ele tem mulher!

Uma mulher linda, do caralho!
Ele é dono da porra toda, e eu vi na internet! Não era pouca coisa!

Ele era um filho da puta inteligente pra caralho!
Ele era um crânio!

Se tivesse tido oportunidades, seria chamado de nerd pelos colegas de classe!

Todo comedido, todo cheio de cuidados, não mistura emoção com os objetivos!
Afinal, nenhum objetivo dele tinha como requisito a emoção, o sentimento!
Ele apenas passava como um rolo compressor por cima do que não agregava ao currículo dele!

Sim, cruel!
Ele era foda! Doentio! Cruel!

Após cortá-lo, eu percebi visivelmente que ele estava constrangido. Ele não estava aqui a vontade...estava tão sem jeito como eu!
Sei , porque leio ele, sei cada um de seus movimentos!

Me abasteço dessa constatação, e me recomponho um pouco.
Decidi deixar ele falar.
Decidi que vou deixar ele chegar onde queria, já que, provavelmente, pulou muros e se arriscou pra estar aqui, agora!

_ Eu não tenho muito tempo, amanhã tenho compromisso cedo e sim, não ia dar pra ouvir o que de tão grave você tinha pra me dizer as 23 hs da noite...- Digo; ele me olha de lado, notando a postura que assumi _ Então, se você puder encurtar o assunto...

Ele rodou o boné e se aproximou, eu mudei de posição.

_ Ou deixar pra outro dia, até por que, se minha mãe acorda ela estraga minha saída de amanhã!

Ele levantou uma sobrancelha.

_Vai pra onde? - pergunta, meio entre dentes, meio que deixando escapar.

Eu me virei e caminhei até a cadeira acolchoada perto da sacada, minha bunda ficou um pouco de fora, mas espero que ele não tenha notado!

Sento e cruzo a pernas no modo largadão; uma perna em cima da poltrona e a outra sobre essa, pendurada. Ele filma cada detalhe.

O NOVO DONOWhere stories live. Discover now