OND 11

587 63 20
                                    

Alice narrando...

_Me conta! Me conta agora, Alice! - Ouço a júlia falar, me vendo andar de um lado pro outro no quarto.

Eu tinha acabado de falar o que aconteceu com o Pablo.
Ouvi minha mãe sair de carro e estava uma pilha!

_O que existe entre você e o Chuck? - Ela fala mais baixo essa última frase.

Olho pra ela e vejo em seu rosto que não existe aquela menina afrontosa de sempre...era apenas a minha amiga de infância ali.
Eu mexia nas minhas mãos, entrelaçando os dedos, eu queria contar, precisava contar!
Eu tinha de abrir isso com alguém, mas era tão...tão complicado!

_Eu ouvi aquela conversa estranha, não deu pra entender tudo, mas...mano, é bizarro, porque eu entendi o suficiente pra perceber que parecia uma briga de...

Olhei pra ela, repreendendo o que ela tinha pra continuar.

_Não faz isso, Alice! - Ela descruza as pernas e levanta da cama, vindo até mim e segura a minha mão, me tirando daquele toque de nervosismo.

_Somos amigas há tanto tempo...Eu sei que sempre fui porra louca e o caralho, mas você é uma irmã pra mim! Sempre te falei isso! Quando te escondi algo? - Ela arregala os olhos _Mano, eu te contei que era apaixonada pelo seu irmão, mesmo sabendo que isso era escroto pra você! E...quando perdi a virgindade com o João, lá no quarto da Gaby...lembra? Você sempre soube de tudo!

Eu ouvia o que ela dizia, mas soltei da mão dela.

_Isso é muito diferente, Júlia! - Segui pra sacada, vendo os seguranças lá do outro lado da calçada, escorados em suas motos, conversando.
Um deles me olha, fala algo e todos me olham.
Me sinto desconfortável e entro.

_Não é diferente...somos amigas e isso não é de hoje! - Ela puxa minha mão e me leva pra cama _ Vem, senta aqui !

Nos encostamos, as duas na cabeceira e eu coloco a mão no rosto, Imaginando tudo e como seria colocar pra fora.

_Eu...amo ele!
_Ele... quem? - ela pergunta, suavemente.

Tiro as mãos do rosto e olho pra ela, sentindo as lágrimas começarem a arder pra sair.
Não preciso dizer mais nada.

Ela olha pra frente, pro nada, digerindo o que acabou de ouvir.

O silêncio impera entre nós, lágrimas quentes descem tímidas e eu vou secando discretamente.

_Que merda! - Ela finalmente diz.

Mais uma onda de silêncio, que eu não dou conta de quanto tempo durou.

_Ele é seu irmão... - ela se vira pra mim - Ou não é?

Eu também viro pra ela; faço que não com a cabeça, e uma lágrima escapa. Ela seca suavemente e segura a minha mão.

_Ele...não é filho do...não é filho do seu pai?

Eu tapo o rosto de novo com as mãos.
Ela acarinha meu cabelo e a Pintosa sobe na cama, passeando pelas nossas pernas, até encontrar um lugar para deitar.

_Eu que não sou! - Digo

_Como...como não, Alice?

Descubro o rosto e olho pra ela.

_Eu fui adotada pela minha mãe quando meu pai foi preso! Eu não sou filha de verdade...sou adotada!

Vejo o rosto dela mudar, como se estivesse derretendo ao receber aquela notícia! Volta a olhar pro nada a frente dela.

_Então...então, pera... você não é filha do seu pai e ele...ele sim?!

Fiz que sim com a cabeça.
_ Isso mesmo!
_Puta merda!

Eu levanto da cama, preciso me movimentar...sinto como se meu corpo estivesse se movimentando sozinho e não dava pra ficar parada!
Levo uma mão a testa e ando...ando.

_Ele é...
_Ele é filho legítimo do meu pai, assumido e tudo ! Tudo! E eu... - Paro de frente pra ela - Eu sou apaixonada por ele, Júlia! Eu sou louca por ele!

Tempo, silêncio.

_ E todos acham que vocês são irmãos... - ela vai falando e entendendo...entendendo e olhando pro nada!

_ Exatamente...Todos acham que somos irmãos, mas não temos laços de sangue, não fomos criados juntos, não temos nada que nos une a não ser...isso tudo que aconteceu entre nós... - Digo.

_...E o mesmo sobrenome! - ela completa, e eu odeio ouvir aquilo.
Tudo que remetesse a esse tipo de elo familiar, me fazia um mal terrível!
Acho que ela percebe - ou não - Porque pergunta

_E o que ele sente? Porque ontem eu vi que ele ...nossa, está tudo tão claro agora!

_Ele não está nem aí!

_Como nem aí, Alice?! O que ele fez ontem ...é óbvio que não tem essa de ele não estar nem aí!

_Ele tem mulher, ok?
Ela passa para o modo surpresa de novo.

_Que mulher? Eu nunca vi esse cara com ninguém...aliás - ela fica meio pensativa e volta a me olhar - Eu nunca vejo ele! Ele é tipo um fantasma...A gente sabe que existe por aí, e quando ele aparece, já sumiu...- volta a me olhar - Mas está sempre sozinho, rodeado de seguranças!

_Aquela loira aqui em casa ontem, Júlia!
Espanto de novo.

_Não! N-Ã-O...Aquela mulher? Ela é mulher dele?
Fiz que sim com a cabeça.
Outra coisa que me fazia mal só de ouvir.

_Caralho!
_É! Pois é! Caralho, né? aquela filha da puta é linda e eu...eu odeio ela, Júlia - nesta última frase , me jogo perto dela, me aninhando em seu colo.
Choro e não me envergonho, nem tento segurar...eu precisava desabafar! Precisava falar isso tudo em voz alta!

Com um tato incrível que eu jamais imaginaria que a Júlia teria, ela apenas se cala, acariciando meu cabelo.
Ficamos assim por um longo tempo , pensando, cada uma na sua.
Eu precisava desse momento e ela me deu.
Eu seria eternamente grata a ela por isso!

Depois de um longo tempo, ela diz baixinho.
_E o Pablo, amiga?

Eu demoro a responder, porque não faço idéia do que fazer.

_Acho melhor se afastar! - Ela enrola uns fios do meu cabelo na mão. Eu fico quieta.
_Mas...por outro lado, Alice...Acho que você deveria tentar esquecer tudo isso e...sei lá...Bem, sua família jamais aceitaria isso...ele é a última pessoa que poderia ...Sua mãe sabe?

_Sabe! Ela odeia ele com todas as forças!

_Imagino! Imagino mesmo! Sua mãe sempre foi tão super protetora e tal...Imagina se alguém iria querer ver você com um bandido? O Deco...desculpa, não vou falar sobre ele agora!

_Não, pode falar...- continuo no colo dela acariciando os pelinhos da Pintosa que dorme sossegada.

_Seu irmão, que Deus o tenha, seria capaz de matar ele se soubesse! Lembra como ele era contigo?

Fiz que sim com a cabeça e sinto que as lágrimas molham a perna dela.

_Você precisa desapegar, amiga...Sei que é fácil falar, mas...qual outro jeito?

Eu levanto e olho pra ela.

_Como, Jú? Eu amo ele como nunca amei ninguém!
Ela enxuga meu rosto mais uma vez.
_A gente vai dar um jeito...vamos dar um jeito! Mas, amiga...esse amor é impossível! Você não vê?
Volto a deitar e choro ainda mais ao ouvir dela o que eu só ouvia antes, na minha mente.

Esse amor é impossível...

Esse amor é impossível

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
O NOVO DONOWhere stories live. Discover now